Foi um mês
muito bom ao agro, fazia já algum tempo que não tínhamos um conjunto
favorável de notícias, tanto em preços como em quantidades. Começando
com a economia mundial dando bons sinais, pois o FMI projeta agora
expansão de 3,9%, advindos de 2,9% nos EUA, 2,4% na região do Euro, e
4,9% para os emergentes, com destaque para 7,4% na Índia e 6,6% na
China, não sem riscos, pelo elevado endividamento mundial e tormentas
políticas. Para o Brasil são esperados 2,3%. Já o Relatório Focus (Banco
Central) traz expectativas para o IPCA de 2018 em 3,48% e de 2019 em
4,07%. O PIB fecharia em 2,76% este ano e 3% em 2019. Para a taxa Selic
se esperam 6,25% e 8,00%, respectivamente e finalmente, para o câmbio,
R$ 3,30 no final de 2018 e R$ 3,39 no final de 2019. Estabilidade à
frente no campo econômico, mas não podemos dizer na política brasileira,
que segue confusa.
Mais uma estimativa da CONAB e a safra vem
vindo bem. Produziremos em grãos 229,5 milho~es de toneladas (3,4%
menor que a safra anterior). Em um mês a estimativa cresceu 3,5 milhões
de toneladas, com uma a´rea plantada de 61,38 milho~es de hectares,
apenas 0,8% maior que a da safra passada. No milho segue estimativa de
perda, indo de quase 98 para 88,61 milhões de toneladas com menores área
e produtividade. Já na soja teríamos 114,96 milhões de toneladas,
praticamente 9 milhões acima da primeira expectativa, graças a uma
produtividade de 3,27 t/ha. Temos ainda chance de chegar no recorde de
237 milhões de toneladas se o clima ajudar, pois o plantio de milho da
segunda safra é estimado em 11,54 milhões de hectares, quase perto dos
12,1 milhões de 2016/17. Vale também destacar o algodão, que deve
produzir 1,86 milhão de toneladas de pluma, 22% a mais que 2016/17.
Como antecipado na nossa análise de dois
meses atrás, bateremos recorde na soja, com preços comparativamente 10%
maiores em Chicago e 15% maiores em regiões do Brasil. Isto posto, o
MAPA já estima em quase R$ 125 bilhões a renda desta lavoura, 3,8% acima
do ano passado. Para a ABIOVE, a produção de soja deve chegar ao
recorde de 117,4 milhões de toneladas, e exportaremos 70,4 milhões
(acima dos 68,15 milhões de 2017), trazendo um faturamento de US$ 36
bilhões (US$ 31,7 bilhões em 2017). Os preços médios devem ser de US$
410/t (a previsão de março era de US$ 380 e a média de 2017 foi de US$
377).
Quatro grandes fatos ajudaram: o câmbio
(desvalorização do Real), a seca na Argentina (a produção deve ser de 15
a 20 milhões de toneladas abaixo do esperado), os efeitos da sobretaxa
americana no aço e alumínio, lembrando que compra chinesa pode chegar a
100 milhões de toneladas de soja neste ano, e o Brasil deve ocupar
espaços abrindo espaço aos EUA em outros compradores mundiais e,
finalmente, a nova projeção do USDA, que trouxe uma área 1% menor
dedicada à soja. Milho também deve cair 2%. E tem mais, o plantio está
atrasado pelo frio que não cede!
Segundo o MAPA, o valor bruto da produção
(VBP) agropecuária neste 2018 será de R$ 530,1 bilhões (R$ 14,2 bilhões
maior que a projeção de março) e 3,7% abaixo do recorde de 2017, de R$
550,4 bilhões. Na nova projeção, subiu R$ 9,3 bilhões o valor da
agricultura (R$ 355,4 bilhões), principalmente devido à soja, e também
em R$ 5 bilhões o valor da pecuária, agora estimado em R$ 174,8 bilhões.
Também o índice mundial dos preços das commodities alimentares (índice
da FAO) subiu outra vez 1,1% para 172,8 pontos. Cereais subiram 2,7% e
os lácteos 3,3%. Os açúcares caíram 6,5%, óleos vegetais caíram 0,8% e
carnes permaneceu estático.
As exportações no agro deste março
surpreenderam e foram de US$ 9 bilhões (5,2% acima de fevereiro de 2017)
e retirando-se as importações de US$ 1,3 bilhão, ficou um superávit
6,8% maior, de US$ 7,8 bilhões. Trouxemos US$ 4,02 bilhões no complexo
soja, com aumentos expressivos no óleo e no farelo. Na sequência vieram
as carnes, com US$ 1,34 bilhão, puxados por crescimento de 22,1% na
bovina, e queda de 9,7% no frango e 23,4% na suína, seguido pelos
produtos florestais com US$ 1,2 bilhão. Fechamos o primeiro trimestre
4,6% acima de 2017, vendendo US$ 21,4 bilhões e importamos 4% a menos
(US$ 3,6 bilhões) o que dá um saldo 6,6% maior, de US$ 17,8 bilhões, um
excelente desempenho.
Esta produção toda vem ajudando o
consumidor, pois o Índice Alimentação e Bebidas do Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE subiu apenas 0,07% em março,
ou seja, o agro controlando a inflação.
Se os fatos de curto prazo foram
favoráveis, o melhor fato de médio prazo foi ventilado nos EUA. É
possível que o presidente Trump autorize a venda de gasolina com 15% de
etanol durante todo o ano em seu país, o que foi uma surpresa, pois suas
declarações não estavam nesta linha favorável ao etanol. No verão é
vetada esta venda com 15% por razões de maior volatilidade com altas
temperaturas. Este novo mercado potencial ajudaria a manter o etanol
americano no mercado interno, pois tem gerado um excedente anual de 5
bilhões de litros e poderia inclusive demandar mais milho no futuro,
abrindo espaços ao Brasil. Nesta safra foram usadas para etanol 141,6
milhões de toneladas e se o E15 for adotado, pelo menos 50 milhões a
mais serão necessárias, quando na plenitude. Se der certo, será a melhor
notícia do ano ao agro brasileiro.
Entre fatos empresariais destaco duas: já
temos investimentos chineses via a China Communications Construction
Company (CCCC) em 51% do Porto de São Luís e agora no Terminal
Graneleiro da Babitonga (TGB), em São Francisco do Sul (SC), dois
importantes corredores de exportação entre outros investimentos
projetados para a área de infraestrutura, principalmente ferrovias e
portos. Chineses entrando firme na nossa infra para o agro.
E do novo mundo digital e tecnológico, a
IBM fez um levantamento que apenas para armazenar os dados gerados por 6
lavouras no Brasil exigirão por ano 28,3 exabytes (28 bilhões de
gigabytes). Tecnologia e dados são o quarto fator de produção, além dos
tradicionais terra, trabalho e capital. A Cargill acredita que o
“machine learning” trará grandes ganhos de competitividade, como o
exemplo de máquinas que pelo barulho do camarão durante sua alimentação,
sabem o momento de despejar mais ração ou parar. Ou seja, tem um mundo
de eficiência a caminho!
Finalizando o mês, são boas as notícias no
crescimento econômico, na produção e preços do agro e na confiança
crescente. O clima até o momento ajuda para que possamos quebrar o
recorde de produção novamente, e com preços melhores. O grande fato
negativo foi o embargo da União Europeia a um grande número de unidades
exportadoras de frango. Temos que avaliar quanto tempo vai durar e o
possível estrago que fará no mercado externo e interno, afetando também
as outras carnes e grãos.
Do lado político, como antecipado na
análise de março, o ex-presidente foi preso e deve seguir um destino
semelhante ao do ex-governador do Rio de Janeiro, de acumulo de penas.
Sua saída definitiva de cena permitirá deixar o quadro eleitoral mais
claro e espero vencer na aposta que uma candidatura de centro e
aglutinadora do país possa emergir e para construir consenso e promover
ainda no primeiro semestre de 2019 todas as reformas estruturantes e
liberalizantes necessárias para nos destravar e colocar o Brasil na
competição mundial. Chega de obsolescência e retrocesso.
Marcos Fava Neves é Professor Titular da Faculdade de Administração da
USP, Campus de Ribeirão Preto. Especialista em planejamento estratégico
do agronegócio (
favaneves@gmail.com).