Para alguns uma opção de vida, para outros um negócio e, para muitos,
algo que não faz parte de seu cotidiano. Esta ainda é uma realidade dos
produtos orgânicos que precisa ser modificada para dar acesso a uma
alimentação mais saudável a todos.
A
agricultura orgânica se insere nas agriculturas de base ecológica que
incluem os diferentes estilos de agricultura que se desenvolveram ao
redor do mundo, como a convencional, transgênica, natural, biodinâmica,
sustentável, ecológica, biológica, alternativa, integrada entre outras.
Segundo normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa), na agricultura orgânica não é permitido o uso de substâncias que
coloquem em risco a saúde humana e o meio ambiente. Não são utilizados
fertilizantes sintéticos, solúveis, agrotóxicos e transgênicos e para
comercializar seus produtos é necessário que os produtores tenham uma
certificação de um Organismo de Avaliação da Conformidade Orgânica
(OAC), credenciado junto ao Ministério da Agricultura.
O segmento de produtos orgânicos será apresentado e debatido junto com
outros produtos de segmentos considerados como nichos de mercado no "I
Workshop de Nichos de Mercado para o setor agroindustrial" que acontece
nos dias 23 e 24 de setembro de 2014, no Centro de Convenções da Unicamp
em Campinas, SP, promovido pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) vinculada ao Ministério da Agricultura Pecuária e
Abastecimento e seus parceiros.
Além dos orgânicos, o workshop vai discutir também os segmentos de
flores, plantas ornamentais e medicinais, bem como produtos derivados da
ovionocaprinocultura como o consumo da carne de cordeiro e o leite de
cabra, hortaliças minimamente processadas, frutas ainda pouco conhecidas
pelos brasileiros, alimentos funcionais e tecidos produzidos com o
algodão naturalmente colorido, desenvolvido pela Embrapa.
O tema orgânicos incluindo a produção, comercialização e estudos de
caso, será abordado por Romeu Mattos Leite, coordenador de produção da
Vila Yamaguishi, fazenda de produção de orgânicos, em Jaguariúna, SP e
por Javier Vilanova da indústria de alimentos orgânicos Jasmine
Alimentos, que fica em Curitiba, PR.
A produção e o mercado de orgânicos
A agricultura orgânica se tornou um setor mundial de US$ 64 bilhões em
2014, com 44% das vendas ocorrendo nos EUA, segundo relatório do The World of Organic Agriculture divulgado
em fevereiro deste ano durante a Biofach, a maior exposição mundial
especializada em produtos orgânicos que acontece em Nuremberg, Alemanha.
O relatório indica ainda que 1,9 milhão de produtores estão
certificados em 164 países, chegando a 37,5 milhões de hectares
dedicados a produtos orgânicos. A área de produção expandiu quase 200
mil hectares desde 2011. Em pelo menos 10 países mais de 10% da
superfície agriculturável é orgânica.
No Brasil, são 13,5 mil unidades de produção orgânicas certificadas,
informa Rogério Dias, coordenador de Agroecologia do Ministério da
Agricultura Pecuária e Abastecimento. A meta do governo é ampliar para
50 mil produtores até 2015.
Segundo
o especialista, ainda não existem dados precisos sobre o mercado
nacional de orgânicos, já que parte da comercialização é de venda direta
em feiras livres feitas por produtores e associações de produtores de
orgânicos e outra parte é feita em supermercados e pequenos comércios.
Sobre a exportação de produtos orgânicos no Brasil em 2013 temos o dado
de US$ 130 milhões (OrganicsBrazil).
As iniciativas para fomentar o consumo de orgânicos no país não param.
As feiras vão surgindo aos poucos, em Brasília (DF) são 21 pontos de
venda; em São Paulo (SP) já são 10, incluindo uma inaugurada
recentemente no estacionamento de um shopping; em Curitiba (PR) existe
um Mercado Municipal de Produtos Orgânicos que serve de referência na
comercialização do produto, os espaços nos supermercados estão
aumentando e surgem pequenos comércios voltados para o setor.
No governo federal existem vários programas de incentivo, específicos
para a agricultura familiar orgânica ou agroecológica, como o Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Agroecologia
e o Pronaf Sustentável, além do Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) que colaboram
na expansão da produção e consumo dos orgânicos.
Até na Copa do Mundo este ano, no Brasil, os produtores de orgânicos
ganharam espaço para promover seus produtos numa ação dentro da campanha
governamental "Brasil Orgânico e Sustentável" que pretende fomentar o
comércio de produtos orgânicos, com geração de emprego e renda para
centenas de trabalhadores.
Gargalos
Sylvia Wachsner, coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos,
da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) diz que não existem dados
sobre as variedades e os volumes produzidos de orgânicos. As autoridades
deveriam começar a obter dados mais detalhados das principais culturas,
como frutas, grãos, hortigranjeiros, cereais, etc."
Ela constata que os empresários da agroindústria se queixam da
descontinuidade do fornecimento de certos ingredientes o que impede a
produção de alguns alimentos, além disso, chama a atenção para a
carência de veterinários capacitados e de extensionistas na produção
animal orgânica.
"Necessitamos de
pesquisa para produzir sementes orgânicas de qualidade, incrementar os
insumos disponíveis que alavanquem a produção e também não contamos com
equipamentos apropriados a pequenos agricultores, forçando-os a lançar
mão de adaptações. Soma-se a isso o problema da produção sazonal, que é
concebida de forma mais rudimentar", portanto, ainda existem muitos
obstáculos a serem superados (site da SNA).
Alberto Wanderley, que é produtor orgânico e atua como consultor
técnico na Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA), afirma que um dos pontos cruciais para
expandir os produtos orgânicos é a viabilidade econômica da produção.
"É preciso organizar a produção, a distribuição, discutir as normas de
certificação e principalmente o preço do produto". Somente desta forma é
possível tornar os produtos orgânicos acessíveis à grande parte da
população que hoje é excluída do seu consumo, acredita o consultor.
Em sua opinião, um custo significativo para o produtor orgânico
consiste na parte da produção que ele deixa de comercializar, isso
acarreta um aumento no custo de produção. Por outro lado, ele não pode
repassar este custo ao consumidor, já que existe um limite de preço que o
consumidor está disposto a pagar. O bom senso terá que prevalecer na
hora de estabelecer o preço do produto orgânico, senão, ele será sempre
um produto de nicho, conclui o especialista.
Uma das questões que preocupa Júlio Cesáriu, um empresário de
alimentos, que participa da Feira de Produtos Orgânicos do Parque
Ecológico, em Campinas/SP, são as exigências a serem cumpridas para
obter a certificação. Veja os depoimentos de Júlio e de Rogério Dias a
respeito de certificação.
Como aumentar o consumo de orgânicos
Wanderley acredita que como forma de ampliar este mercado, é preciso
dar oportunidade ao consumidor de ter sua primeira experiência no
consumo de orgânicos. Os produtores, associações e cooperativas que
abastecem os diferentes mercados devem proporcionar às pessoas esta
oportunidade com ações promocionais de comunicação e divulgação nos
pontos de venda, direcionando o excedente da produção para a promoção
comercial dos produtos.
"Uma vez
que o consumidor prove o produto e reconheça a diferença, novos
consumidores serão conquistados" acredita o produtor e consultor do MDA.
Romeu Matos Leite que além de produtor, é membro da Câmara Temática
Nacional de Agricultura Orgânica e participante da Comissão Nacional de
Agroecologia e Produção Orgânica do Ministério do Desenvolvimento
Agrário – MDA acredita que a educação e a pesquisa têm muito a
contribuir para a expansão dos orgânicos no país. Além disso, precisamos
dar soluções criativas para manter o jovem na propriedade e concretizar
a sucessão no campo, que não é um problema apenas da propriedade
orgânica, mas, que precisa ser pensada, conclui Romeu.
As discussões sobre este e outros segmentos de nichos de mercado você
poderá acompanhar no "I Workshop de Nichos de Mercado para o Setor
Agroindustrial" que conta com o patrocínio de Agrocinco, Arysta, Banco
do Brasil e Pepsico.
Entre os
parceiros do evento estão: a Associação Brasileira de Supermercados
(Abras), Associação Brasileira de Santa Inês (ABSI), Ministério da
Agricultura (Mapa), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA),
Pró-reitoria de Pesquisa da Unicamp, e as empresas Caprilat, Cava
Cordeiro, CentroFlora, Ceagesp, FarmPoint, Grupo Horta, Guaiuba
Agropecuária, Ícone, Jasmine Alimentos, Natural Cotton Color, Ouro Fino,
Produtos Yamaguishi e Scot Consultoria.