O Brasil é o quarto maior produtor mundial
de carne suína, com uma produção estimada em 4,8 milhões de toneladas
em 2022, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento
Conab. Neste ano, somente a China, a União Europeia e os Estados Unidos
deverão produzir mais carne suína
que o Brasil. Ao analisarmos os custos de produção da suinocultura
brasileira observamos um comprometimento significativo com os insumos
que compõem a ração, principalmente o milho e a soja, que juntos chegam a
representar mais de 60% do custo operacional efetivo (COE) da
suinocultura independente (não integrada). Esse fato, faz com que os
produtores independentes sejam muito afetados por variações nos preços
de milho e soja, impactando as margens da atividade.
Queda na receita
De acordo com dados do Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o preço real médio do suíno vivo
passou de R$ 6,62/kg em dezembro de 2021 para R$ 6,84/kg em outubro de
2022, uma valorização de 3,4% no período. Entretanto, destacamos que o
preço médio do suíno vivo chegou a R$ 11,19/kg em novembro de2020,
acumulando uma queda de 38,9% se considerarmos o período de
novembro/2020 a outubro/2022.
O gráfico 1 mostra a evolução do preço real do suíno vivo nos últimos anos, assim como a média de preços por ano.
Os suinocultores independentes enfrentaram
umas das mais graves crises de sua história no início de 2022, motivada
pelos altos custos de produção e pelo baixo preço pago ao suinocultor
que chegou a R$ 5,17/kg em fevereiro de 2022. Apesar do aumento de
preços a partir de março de 2022, a média de preços reais de 2022 (R$
5,92/kg) ainda é a menor do período de 2019 a 2022.
Esta queda acentuada nos preços dos suínos
se justificou pelo excesso de oferta de animais no mercado brasileiro,
tendo em vista a queda das exportações para a China, que se recuperou da
crise sanitária causada pela peste suína africana (PSA) antes do tempo
previsto.
Custos de produção em patamares elevados
Pelo lado dos custos de produção da
suinocultura independente, segundo dados do Cepea, em termos médios, o
preço real do milho passou de R$ 100,41 por saca de 60kg em 2021 para R$
88,08/saca em 2022, até outubro, uma redução de 12,3% no período. No
caso da soja, o preço real da saca se manteve praticamente estável em
2022 quando comparado a média de 2021, passando de R$ 186,49/saca no ano
passado para R$ 187,70/saca este ano, na média até outubro.
O gráfico 2 mostra a evolução dos preços
reais do milho e da soja entre janeiro de 2019 e outubro de 2022. Apesar
do cenário de estabilidade dos preços da soja e queda dos preços do
milho este ano, quando se comparam os preços médios de 2022 com os de
2019, o milho e a soja subiram 42,0% e 46,0%, respectivamente.
Portanto, em 2022, houve queda na receita
do produtor e manutenção dos custos de produção em patamares elevados na
suinocultura independente, ou seja, um cenário de pressão sobre as
margens dos suinocultores.
Expectativas para 2023
O que podemos esperar para a atividade em
2023? Nesse sentido, foram simulados três cenários com expectativas de
variações nos preços dos suínos e das sacas de milho e soja, com o
objetivo de identificar os possíveis impactos dessas variações na margem
bruta dos suinocultores no ano que vem. Os cenários foram divididos em:
pessimista, moderado e otimista.
No cenário moderado, levou-se em
consideração que a variação do preço do suíno seria uma média do que
observamos mês a mês quando comparado 2020 e 2021, portanto, uma queda
de 10,3%. A credibilidade deste cenário segue em linha com a estimativa
de continuo aumento da oferta de carne suína no mercado brasileiro em
2023, que deve atingir 5,0 milhões de toneladas, um incremento de 5,3%
em relação à previsão para 2022, segundo dados da Conab.
Já para os insumos, ainda no cenário
moderado, assumiu-se que os preços da soja devem diminuir cerca de 12,6%
em 2023, valores que vão em linha com os contratos futuros
comercializados com vencimento até maio de 2023, além da expectativa que
a produção de soja cresça 21,3% no Brasil na safra 2022/2023, o que
diminui a pressão sobre os preços no mercado nacional.
Por fim, para o preço da saca de milho em
2023 assumiu-se um aumento de 1,8%, novamente em linha com os contratos
futuros comercializados até novembro de 2023, e expectativas de demanda
firme e um aumento menor na produção na safra 2022/2023, de 3,8%
(Conab).
Os cenários pessimistas e otimistas são
desdobramentos do cenário moderado, sendo que o primeiro assume uma
piora de 25% nos preços, e o segundo uma melhora de 25% nos preços para o
suinocultor independente, ambos em comparação ao cenário moderado.
O Quadro 1 resume as variações utilizadas nos cenários simulados.
Resultados das simulações
A Tabela 1 mostra os resultados do impacto
potencial das variações no preço do suíno nas receitas totais da
atividade, e o impacto das variações dos preços do milho e da soja e,
por consequência, nos desembolsos com estes componentes nas despesas com
ração e no Custo.
Operacional Efetivo (COE). Além disso, na
última linha da tabela são apresentados os impactos estimados na margem
bruta dos suinocultores.
Vale ressaltar que, para as análises,
foram mantidas constantes as quantidades produzidas de carne suína e de
insumos adquiridos, além das mesmas despesas com os demais insumos que
compõem o COE, que representam cerca de 38,1% dos custos. Estas
informações derivam dos resultados médios de 5 modelos produtivos
pesquisados pelo Projeto Campo Futuro (CNA/Senar) em três estados
brasileiros.
Ao
observar os resultados do cenário pessimista, a situação é muito
prejudicial para os suinocultores. Apesar das despesas com ração terem
uma queda de -1,5%, resultando em uma redução do COE em -1,2% neste
cenário, as receitas podem cair -12,9%, resultando em uma margem bruta
117,9% menor para os suinocultores em 2023.
No cenário moderado, o padrão se repete,
porém com uma queda maior nas despesas com ração (-2,5%) e, por
consequência, no COE (-2,1%), sendo as receitas afetadas negativamente
em 10,3%. Com isso há uma queda menor na margem bruta (-84,3%) em
comparação ao cenário pessimista. Por fim, no cenário otimista,
observamos quedas maiores nas despesas com ração (-3,6%), no COE
(-3,0%), e nas receitas (-7,7%), contudo a redução da margem bruta
(-50,6%) persiste para os suinocultores.
Diante do exporto, fica claro que, caso as
expectativas de aumento da oferta de carne suína no país, aliado a uma
manutenção dos preços de milho e soja em patamares observados entre 2020
e 2022, se concretizem, 2023 será um ano de aperto nas margens dos
suinocultores independentes.
Qual cenário os suinocultores podem estar mais próximos em 2023?
Pela ótica dos custos de produção, a
perspectiva é que o dólar se mantenha valorizado em relação ao real em
2023 (cotado por volta dos R$ 5,20), o que mantem elevada a
competitividade dos grãos brasileiros no mercado externo, aumentando as
exportações e pressionando os preços no mercado brasileiro. Por outro
lado, é preciso ficar atento em relação as perspectivas de crescimento
dos principais parceiros brasileiros, como a China. O aumento das taxas
de juros globais devido ao cenário de alta inflação após os incentivos
fiscais durante a pandemia da COVID-19 tende a reduzir os investimentos e
o crescimento das principais nações mundiais em 2023. Caso isso
aconteça, é possível que as exportações de grãos por parte do Brasil
diminuam.
Com relação à demanda por carne suína, a
expectativa de que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e, por
consequência, a renda média da população, não acompanhe a expectativa de
aumento da oferta de carne suína em 2023 (5,3%), novamente pode haver
um desequilíbrio entre oferta e demanda por carne, o que contribui para o
cenário de queda nos preços ao produtor no próximo ano.
Pelos cenários apresentados e as várias
incertezas de mercado, o suinocultor deve se preocupar em reduzir os
custos de produção com consciência em 2023, com o objetivo de diminuir
as vulnerabilidades a variações de preços inesperadas, principalmente
dos componentes da ração. Compras estratégicas de milho e soja em
períodos que historicamente apresentam preços mais baixos podem ser
importantes para reduzir as despesas e trazer maior previsibilidade ao
final do ano produtivo. No caso do milho, historicamente, observam-se
preços mais baixos entre junho e julho (colheita da segunda safra), e no
caso da soja, preços mais baixos entre fevereiro e março (colheita).
Infelizmente, o ano de 2023 não parece promissor para investimentos, e
tais oportunidades devem ser observadas com cautela.