| A podridão dos cascos (foot-root) é uma doença crônica, necrosante da 
epiderme interdigital e matriz do casco. A doença foi descrita em 1892, 
mas somente em 1941 a bactéria causadora foi isolada, inicialmente, 
denominada de Fusiformis nodosus e na atualidade de Dichelobacter 
nodosus.
 
IRFA - Química e Biotecnologia Industrial Características das doenças Estudos posteriores demonstraram que a podridão dos cascos é causada 
por uma associação de, no mínimo, duas bactérias: D. nodosus e 
Fusobacterium necrophorum. Este último é um habitante normal do trato 
digestivo dos ovinos.
 O D. nodosus é germe grã-negativo, anaeróbio, com extremidades 
dilatadas, apresentando uma variedade de sorotipos, classificados 
conforme seu antígeno pili . A bactéria mostra no microscópio 
eletrônico, filamentos chamados de pili que determinam sua virulência. 
Esta estrutura serve também para caracterizar os diversos sorotipos. 
Este germe não esporula e estima-se que não sobrevive no solo por mais 
de cinco dias.
 A principal característica da doença é a manqueira. Nos casos 
iniciais, a epiderme interdigital (pele entre os cascos) mostra-se 
inflamada. A lesão progride para a parte posterior do casco (casco 
mole), promovendo o deslocamento deste. Nos casos graves, há a 
generalização da lesão com deslocamento de todo o casco e posterior 
miíases (bicheiras). A podridão pode atacar simultaneamente dois ou mais
 cascos de um mesmo animal, dificultando a locomoção. Há, também, 
diminuição na produção de lã, carne e leite.
 A enfermidade transmite-se principalmente nas estações úmidas com 
temperatura amena e associada ao manejo intensivo de ovinos ou 
caprinos.
 Importância econômica
 A doença produz, mesmo em lesões leves, dificuldade de locomoção, 
limitando o deslocamento dos animais e influenciando, 
significativamente, na alimentação e reprodução. Rebanhos portadores 
desta enfermidade apresentam reduções no peso corpóreo de até 11%. Como 
decorrência da dificuldade de alimentação, há também uma redução na 
produção de lã em até 8%, além do comprometimento da qualidade deste 
produto.
 Animais portadores são mais susceptíveis à verminose e parasitas 
externos (miíases). Uma vez instalada, é importante destacar-se que os 
gastos envolvidos no tratamento são substanciais, a ponto de 
considerar-se a podridão dos cascos como uma das doenças mais 
dispendiosas de caprinos e ovinos.
 Epidemiologia
 O calor e a umidade são ótimas condições para aparecimento da 
podridão dos cascos. Nestas condições, a doença apresenta elevado índice
 de ocorrência e uma grande proporção de animais pode ser afetada em um 
curto período (duas semanas).
 O reservatório principal desta enfermidade origina-se de ovinos 
portadores da doença e introduzidos na propriedade. A infecção, contudo,
 pode ser veiculada por caminhões de transporte ou estrada recentemente 
utilizada por animais doentes. Embora animais de todas as idades sejam 
susceptíveis à doença, a raça Merino apresenta uma maior predisposição à
 infecção.
 No Rio Grande do Sul, os surtos de podridão dos cascos são mais 
comuns no outono e na primavera. Determinadas técnicas de manejo, como 
encarneiramento, Inseminação Artificial (IA) e parições na primavera, 
também favorecem a transmissão. Nas demais regiões, o aparecimento da 
doença predomina no período das chuvas.
 Sinais clínicos e lesões
 Um sinal habitual da doença é a presença da claudicação (manqueira). É
 comum observar alguns casos onde o animal alimenta-se de joelhos em 
função da ocorrência da doença em ambos cascos dianteiros.
 Em exame detalhado, o primeiro sinal é o edema e umidade da pele da 
fenda interdigital. Um processo inflamatório mais nítido ocorre, 
iniciando-se uma separação da junção pele/casco. Evoluindo a doença, há 
destruição da matriz epidérmica sob a parte dura do casco. Nos casos 
mais graves, a necrose tecidual profunda pode descolar o estojo córneo. 
Há a presença de exsudato em pequena quantidade e mau cheiro bastante 
característico. Ambas as unhas de um pé são acometidas e normalmente 
existe o envolvimento de mais de um membro. Podem ser observadas 
anorexia e febre. Longos períodos de decúbito podem levar a inanição e 
morte. São bastante comuns as invasões bacterianas secundárias e miíases
 (bicheiras). O manejo dos ovinos e caprinos é muito importante para 
evitar ou controlar esta doença.
 Profilaxia
 As medidas profiláticas são fundamentais para o controle da podridão 
dos cascos. Alguns procedimentos básicos devem ser adotados:
 - Ao adquirir ovinos, um exame individual deverá ser realizado através de médico-veterinário;
 - É importante ter informações dos animais adquiridos em relação ao histórico sanitário;
 - Existindo animais doentes, separá-los dos sadios para efetuar tratamento;
 - A quarentena está indicada antes da introdução dos animais adquiridos no rebanho;
 - Vacinação.
 Tratamento dos animais
 - Exame com apara de cascos de todos os ovinos ou caprinos do rebanho;
 - Uso de pedilúvio, passando os animais em uma solução de formalina 
(formalina é uma solução estável de formol a 40%) na concentração de 2% a
 10%;
 - Os ovinos sadios devem passar no lava-pés e permanecer em um piquete livre por 14 dias;
 Diagnóstico e prevenção
 - Os ovinos infectados deverão passar pelo lava-pés por último e ser 
montado um piquete enfermaria, realizando mais 3 (três) passagens em 
lava-pés, com intervalo de uma semana;
 - Dentro das possibilidades, eliminar os animais cronicamente infectados;
 - Em casos graves, usar medicação parenteral à base de Penicilina G 
procaína e Dihidro-estreptomicina, intramuscular, na dose de 50.000 a 
70.000 UI/kg.
 Casqueamento
 Aparar os cascos dos ovinos é uma medida indispensável, devendo ser 
realizada sempre que houver crescimento do casco. Utiliza-se, para esta 
prática, a tesoura corta-casco. A finalidade deste procedimento é 
retirar o excesso de casco, deixando-o próximo ao plano da sola do 
casco.
 Vacinação
 A vacinação aumenta significativamente a resistência à infecção, 
sendo uma estratégia importante onde existem condições favoráveis para a
 presença da doença. Uma característica do uso da vacina em ovinos e 
caprinos já infectados é a redução do curso clínico da doença, podendo 
ser utilizada, também, como estratégia de tratamento.
 O uso da vacina de forma sistemática e nos períodos recomendados, 
aliado a um manejo simples (uso de lava-pés e casqueamento) reduz em até
 91% o aparecimento da enfermidade.
 A vacina
 O desenvolvimento da vacina contra a podridão dos cascos foi 
resultado de uma vitoriosa investigação científica, proporcionando a 
viabilização do produto no mercado brasileiro em 1986. A identificação 
das amostras prevalentes do D. nodosus no nosso meio, como o seu 
isolamento e purificação, foram fatores decisivos na elaboração da 
vacina.
 Com a finalidade de estimular - de forma efetiva - a produção de 
anticorpos específicos contra a bactéria causadora da enfermidade, 
elegeu-se o adjuvante oleoso, uma combinação de óleo mineral purificado 
associado a um emulsionante, como componente imunoestimulante da vacina.
 O uso deste adjuvante mantém, por um maior período de tempo, os níveis 
de anticorpos.
 Na atualidade, a vacina possui 05 sorogrupos de Dichelobacter 
nodosus, denominados de A, B, D, E e F, sendo estes os de maior 
incidência no Brasil.
 Dose vacinal e via de aplicação
 A dose da vacina é de 2 ml e a via adequada é a intramuscular, na 
região da tábua do pescoço. Ovinos e caprinos adultos e animais jovens a
 partir dos três (3) meses de idade devem ser vacinados. Animais 
primeiramente vacinados devem receber um reforço da vacina após 21 a 42 
dias da primeira vacinação.
 Escolha do equipamento
 Dependendo da espécie animal a ser vacinada, número de animais e via 
de aplicação, haverá também equipamentos distintos e que melhor se 
adaptam a tais condições.
 No caso de ovinos e caprinos, animais de pequeno porte e que pelas 
suas características singulares, requerem manejo suave. O equipamento 
para injetar a vacina deve ser leve e que permita ao operador "sentir" a
 aplicação. O uso de pistolas injetoras, do tipo "revólver" (metálicas),
 são demasiadamente pesadas para os ovinos, especialmente para 
aplicações intramusculares, já que os mesmos possuem pele bem mais fina e
 estrutura muscular bem menor que a dos bovinos.
 As injetoras de PVC, polietileno ou outro material plástico qualquer -
 de menores capacidades (15/20 ml) - são substancialmente mais leves.
 Ponto importante também é a escolha das agulhas. Nos ovinos, para 
aplicação intramuscular, o uso de agulhas longas (mais de 2 cm ) 
normalmente atravessam o músculo, especialmente quando a aplicação é 
feita na área muscular do pescoço. Invariavelmente, as reações vacinais,
 quando examinadas, demonstram que a aplicação foi realizada fora do 
músculo.
 O uso de agulhas para ovinos deve restringir-se a 13x10 ou 15x10, ou 
seja, agulhas com 13 a 15 mm de comprimento e 1 mm de diâmetro.
 Limpeza e aferição
 As partes do equipamento que possuem contato com a vacina deverão ser
 esterilizadas - assim como as agulhas - com água fervente. A aferição 
do mesmo é recomendável. Quando o número de animais a serem vacinados 
for grande, é de fundamental importância que se tenha mais de um 
equipamento disponível. De igual forma, dispor de, no mínimo, 4 agulhas 
novas. Após o uso, realizar a desmontagem do equipamento, limpando-o e 
acondicionando-o em lugar fechado e livre de poeira.
 Cuidados com a vacina
 - Leia atentamente a bula do produto.
 - Leve a quantidade de vacinas suficientes para um período de trabalho.
 - Mantenha as vacinas na caixa de isopor com gelo e à sombra.
 - Agite o frasco da vacina por alguns segundos, antes do uso.
 - Não injetar o ar do injetor para dentro do frasco da vacina.
 Procedimentos recomendáveis
 Trocar - o máximo possível - de agulhas durante a vacinação. O uso de
 somente uma agulha para um grande número de animais poderá ocasionar 
infecções no local da aplicação. Manter as agulhas que não estão em uso 
em recipiente contendo álcool iodado; trocá-la, no mínimo, a cada 
enchimento do injetor.
 Fazer a vacinação com calma. O estresse dos animais prejudicará 
substancialmente a performance do produto. Evitar o uso de cães não 
treinados no manejo dos ovinos. Os animais devem estar descansados. As 
fêmeas gestantes, sobretudo no brete, devem ser manuseadas com cuidado. 
Abortos são comuns quando o manejo é inadequado.
 Esquemas de aplicação da vacina
 A vacina deve ser usada de maneira estratégica, de modo que os 
animais tenham proteção máxima nos períodos mais favoráveis ao 
aparecimento da doença.
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