Planejando a sustentabilidade da pequena propriedade rural
Antônio Roberto Mendes Pereira
A necessidade pelo estado de sustentabilidade vem aumentando muito nas
últimas décadas, com certeza todos os dias, vários produtores buscam se
adequar a novas formas de produzir que sejam menos agressivas ao meio
ambiente. E para o encontro com este estado uma condição é necessária, o
cuidado com o meio ambiente. Sem este cuidar é impossível encontrar
este caminho, esta rota que nos guia para a sustentabilidade.
Embora que precisamos saber que a sustentabilidade nunca é alcançada,
pois ela é um caminho, uma lógica, um conjunto de atitudes e
comportamento onde se pode usufruir do presente sem privar as gerações
futuras de ter as mesmas condições das gerações atuais. É preciso não
confundir sustentabilidade com autosuficiência, o primeiro como dito
anteriormente é um caminho, é atitude e a segunda está mais ligada a ter
todas as necessidades atendidas sem ter que comprar, é a intenção
pragmática de buscar produzir todas ou quase todas as necessidades
atuais, embora que para se alcançar este equilíbrio produtivo nem sempre
se precisa trilhar pela lógica da sustentabilidade, posso me tornar
autosuficiente utilizando tecnologias e processos que vão de encontro
aos cuidados com o meio ambiente.
Para se tornar sustentável precisa-se modificar muitas atitudes e comportamentos culturais de produção e de consumo.
Um dos primeiros passos a ser modificado profundamente é o do CONSUMO,
que induz a produção, precisa-se buscar adequar o consumo da família
para que ela esteja também direcionada para um consumo consciente e
guiada pela lógica da sustentabilidade. Será que você hoje vive de
acordo com suas necessidades reais ou com as necessidades criadas pelo
mercado? O que fazer para descobrir verdadeiramente quais são as
necessidades reais? Como fazer para diminuir o consumo de forma que se
tenham as necessidades reais atendidas?
Um indicador de consumo em uma propriedade rural é possível perceber
pela quantidade de lixo que é produzido diariamente. Um consumo baseado
na obsolescência artificial, em que os bens de consumo são criados para
serem descartados o mais rápido possível, e irem para o lixo e assim
gerar mais consumo vão de encontro à busca do estado de
sustentabilidade. E esta forma de consumo vem sendo copiada pela maioria
das pessoas, o que começou a pressionar imensamente os recursos
ambientais. É bom lembrar que este tipo de consumo é insustentável.
Quanto mais compramos, mais demonstramos o quanto estamos e somos
insustentáveis. Em uma propriedade rural onde para se produzir
necessita-se comprar sementes, adubos, venenos, entre outros insumos,
percebe-se sua deficiência produtiva e de planejamento. Esta atitude nos
mostra o quanto esta dependência está acima da capacidade da
propriedade. Numa situação onde até para comer precisa-se comprar,
imagine em que estado se encontra a propriedade. O principal meio de
produção é a terra, e se ela não consegue mais atender a demanda de
alimento para a família, significa que seu limite produtivo foi
ultrapassado, mal manejado, forçou-se demais o meio e o bem de
produção.
A propriedade deve conseguir produzir necessidades básicas de alimentos
para toda família. Programar uma dieta diversificada onde as condições
do solo e clima possam atender, é imprescindível como primeira medida de
busca de sustentabilidade. Buscar a autosuficiência de forma
sustentável é um ótimo norte para o planejamento.
Toda produção EXAGERADA empobrece o solo, logo forçar o solo para
produzir mais do que sua capacidade de produção é ir de encontro à
lógica que se deseja alcançar. Aliás, tudo em exagero vai de encontro a
qualquer estágio de equilíbrio. Toda idéia de produção exagerada e de
consumo desenfreado, inclusive as vendas, são causas para a degradação
ambiental das propriedades rurais e de outros ambientes. E não podemos
esquecer que a degradação ambiental está estritamente relacionada com
pobreza. Enquanto a pobreza tem como resultado determinados tipos de
pressão ambiental, as principais causas da deterioração ininterrupta do
meio ambiente são os padrões insustentáveis de consumo e produção.
Logo, especial atenção deve ser dedicada à demanda de uso dos recursos
naturais gerada pelo consumo insustentável, bem como ao uso eficiente
desses recursos, coerentemente com o objetivo de reduzir ao mínimo o
esgotamento desses recursos e de reduzir a poluição nas propriedades
rurais.
Portanto, conceituando consumo sustentável podemos afirmar que “É um
tipo de consumo que leva em conta os limites do meio ambiente, tanto
para as atuais gerações quanto para as futuras, observando a equidade
entre os que consomem mais e os que consomem menos, ou seja, reduzir de
quem consome muito, de modo a garantir a quem consome pouco uma vida
também equilibrada e permanente”.
Imagine que para manter nossa subsistência, ou melhor, para manter nosso
corpo funcionando como se fossemos uma máquina térmica, consumiríamos
energia equivalente a uma lâmpada de 150 watts diariamente (energia para
existir como ser humano). Isto apenas para manter o funcionamento
interno, agora para manter nossas necessidades EXTRA-SOMÁTICAS, ou seja,
em tudo aquilo que chamamos de metabolismo cultural (necessidades
modernas, de mídia), isso nos leva a um consumo, da ordem de 8.000
watts, aproximadamente em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, este
consumo é equivalente a 25.000 watts. Diante desta lógica posso me
perguntar: Se preciso de 150 watts para suprir minhas necessidades
básicas, como e quando eu consumo o restante, tomando como referência os
8.000 watts? Verdadeiramente preciso de toda esta energia? Para tornar
uma família mais sustentável precisa-se urgentemente mudar o estilo de
vida. Em todas as áreas da propriedade, tem-se que repensar as atitudes
de consumo e de produção. E vale lembrar que muitos dos bens de consumo
que adquirimos para manter o consumo de 8.000 watts, em menos de 06
meses a maioria destes bens irão parar no lixo, por estar fora de moda
ou por já ter se danificado, necessitando comprar outro de um novo
modelo e da moda (obsolescência programada).