O inseticida biológico que combate a lagartas nas plantações agrícolas
O
novo inseticida biológico traz ainda uma característica bastante
interessante, como destaca a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia Rose Monnerat: a certificação para uso em agricultura
orgânica. O nome do produto é “Ponto.Final”, um inseticida totalmente
biológico capaz de controlar pragas que atacam culturas agrícolas no
Brasil, sem fazer mal à saúde humana, de animais e ao meio ambiente.
O
bioinseticida foi desenvolvido pela Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia em parceria com empresa Bthek Biotecnologia (DF). O
produto é capaz de controlar diversas lagartas, entre as quais, a
lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis); a lagarta das hortaliças
(Plutella xylostella), também conhecida como traça das crucíferas; e a
lagarta do cartucho do milho (Spodoptera frugiperda).
O
“Ponto.Final.” foi desenvolvido a partir de uma bactéria denominada
Bacillus thuringiensis (Bt), amplamente utilizada em programas de
controle biológico de pragas em todo o mundo. Com apenas um litro por
hectare, o produto é capaz de matar as lagartas-alvo, preservando
insetos benéficos ao ambiente, como as “joaninhas” e as “tesourinhas”,
que também são eficientes como predadoras de lagartas e pulgões.
As
estirpes da bactéria utilizadas no desenvolvimento do produto fazem
parte do Banco de Bacilos Entomopatogênicos (bactérias específicas para
insetos) da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, que contém mais
de 2.300 variedades de bactérias benéficas usadas como agentes de
controle biológico.
Essas
bactérias ocorrem naturalmente no solo e produzem uma proteína,
conhecida como cristal, que mata insetos, principalmente lagartas e
besouros. A proteína age no intestino das larvas dos insetos que comem
as folhas tratadas com o produto. Os esporos da bactéria penetram no
corpo, germinam e matam a larva por infecção generalizada. Os
pesquisadores da Embrapa coletam essas bactérias e selecionam as mais
eficientes contra os insetos-praga.
Vídeo mostra como fazer adubo orgânico 100% vegetal
(27/12/2013)
Fotos: Nátia Élen Auras
Os adubos orgânicos, em sua maioria, utilizam esterco bovino e cama
de aviário que, além de difícil obtenção e custo elevado, podem
apresentar problemas de contaminação química e biológica. Mas a Embrapa
Agrobiologia (Seropédica, RJ) desenvolveu uma tecnologia para produção
de adubos e substratos orgânicos de origem 100% vegetal. E esta
tecnologia já está ao alcance dos produtores de todas as regiões do País
por meio do vídeo “Composto 100% vegetal”.
Produzido pela
Embrapa Agrobiologia, UFRRJ e Pesagro-Rio, o vídeo tem duração de 15
minutos e mostra o passo a passo da tecnologia. De forma didática, são
apresentadas, por exemplo, as matérias-primas que podem ser utilizadas, a
proporção de materiais e a maneira ideal para montar a pilha de
composto. Detalhes como a escolha do local, a formação e mistura das
camadas, assim como o tempo necessário para cada etapa também são
abordados.
Para o pesquisador da Embrapa Marco Antônio Leal, que
desenvolveu a tecnologia e é um dos autores do roteiro, o vídeo pode
auxiliar o agricultor a produzir o adubo orgânico na sua propriedade,
pois além das informações necessárias sobre quantidade e proporção de
materiais, as imagens facilitam o entendimento do processo. “O composto
pode ser produzido tanto em grande escala como na pequena propriedade
rural, já que utiliza um processo simples, que não necessita de grandes
investimentos em infraestrutura”, complementa.
Segundo o
pesquisador, os fertilizantes orgânicos e substratos obtidos a partir
deste processo apresentam qualidade superior aos similares encontrados
no mercado e podem ser utilizados também na agricultura orgânica. “Esses
produtos são isentos de contaminação biológica, não utilizam adubos
minerais e o seu custo pode ser muito inferior”, relata Leal.
Compostagem: matéria orgânica que se transforma em adubo natural A
compostagem é um processo natural onde os resíduos da propriedade
passam por uma transformação biológica e tornam-se fertilizantes
orgânicos ou húmus. Neste processo biológico há uma decomposição da
matéria orgânica contida em restos de origem animal ou vegetal. O
resultado final da compostagem é o composto orgânico, que pode ser
aplicado ao solo para melhorar suas características, sem ocasionar
riscos ao meio ambiente.
Os principais benefícios da compostagem
são: estímulo ao desenvolvimento das raízes das plantas, que se tornam
mais capazes de absorver água e nutrientes do solo; aumento da
capacidade de infiltração de água, reduzindo a erosão; mantém estáveis a
temperatura e os níveis de acidez do solo (pH);dificulta ou impede a
germinação de sementes de plantas invasoras (daninhas); ativa a vida do
solo, favorecendo a reprodução de microrganismos benéficos às culturas
agrícolas.
Esta técnica pode ser utilizada não só para nutrir o
solo, mas também como forma de reciclar o lixo orgânico – esterco do
gado, palhas, galhos, folhas de árvores e etc.
A compostagem
envolve transformações extremamente complexas de natureza bioquímica,
promovidas por milhões de microrganismos do solo que têm na matéria
orgânica in natura sua fonte de energia, nutrientes minerais e carbono. A
Embrapa Agrobiologia vem estudando maneiras de tornar a compostagem
ainda mais eficiente. Para isto, é necessário satisfazer certos
requerimentos relacionados aos fatores que influenciam a atividade
microbiana do solo, como temperatura, umidade, aeração, pH, tipo de
compostos orgânicos existentes e concentração e tipos de nutrientes
disponíveis. Esses fatores ocorrem simultaneamente, e a eficiência da
compostagem baseia-se na interdependência e inter-relacionamento dos
mesmos.
Medidas da presidenta Dilma inovam a reforma agrária
A presidenta da República, Dilma Roussef,
assinou decretos desapropriatórios que destinam mais 92 áreas ao
programa de reforma agrária, além da Medida Provisória nº 636 que dispõe
sobre a liquidação de créditos disponibilizados a assentados e concede
remissões. As mudanças foram publicadas, nesta sexta-feira (27), no Diário Oficial da União.
Com os decretos, são 100 novas áreas
liberadas para o programa de reforma agrária, desde outubro, além de
novas regras de financiamento para os assentados, solução definitiva do
endividamento e titulação mais acessível. As medidas inovam a política
pública de reforma agrária, que já garantiu acesso à terra a mais de 1,2
milhão de famílias em toda a sua história.
O ministro do Desenvolvimento Agrário,
Pepe Vargas, avalia que com a nova metodologia para obtenção de área,
instituída por meio das Portarias MDA 5, 6 e 7,
a reforma agrária ganha agilidade e segurança na implantação dos
assentamentos. “Para dar mais rapidez a esse processo, garantiremos
assistência técnica para viabilizar o desenvolvimento da produção dos
assentados e gerar renda para as famílias assentadas, conferindo a elas
dignidade e promoção da paz no campo”, enfatizou.
“Essas medidas sinalizam o caminho que
está tomando a reforma agrária, uma política que harmoniza o acesso à
terra e um conjunto de políticas públicas viabilizadas não apenas pelo
Incra, mas por todo o governo”, acrescenta o presidente do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Carlos Guedes.
100 novas áreas para assentamentos
Os decretos destinam à reforma agrária 193.566,21 hectares em 16 estados. Juntas, as oito áreas decretadas em 25 de outubro passado,
e as 92 publicadas hoje, têm capacidade para receber 4.670 famílias de
trabalhadores rurais. O Incra investirá R$ 267,1 milhões na indenização
dos imóveis aos proprietários ainda em 2014. O pagamento da terra nua é
feito por meio de Títulos da Dívida Agrária (TDAs) e as benfeitorias são
pagas em dinheiro. O pagamento é feito no momento em que a autarquia
ingressa na Justiça com o pedido da posse do imóvel para criar o
assentamento.
Levantamento feito pela Diretoria de
Obtenção de Terras do Incra que resultou nos decretos apontou a
utilização, em média, de apenas 22,2% das áreas utilizáveis dos imóveis.
Em 50 deles não havia qualquer atividade produtiva desenvolvida pelos
proprietários.
No entanto, a análise agronômica comprova
que elas estão aptas a produzir alimentos e que o aumento do seu valor
de mercado é significativo. A valorização da terra nas regiões em que
estão inseridas alcançou 73,6% em 36 meses, entre julho de 2010 a agosto
de 2013, segunda a tabela FNP. No período, a valorização de terras no
Brasil atingiu 68,3%. "Isso demonstra que as áreas são viáveis. As
terras dessas regiões estão valorizadas e a reforma agrária vai cumprir
seu papel de produzir alimentos, diversificar a produção e gerar
ocupação e renda", explica o diretor de Obtenção de Terras, Marcelo
Afonso.
Políticas Públicas
As novas famílias atendidas deverão estar
no CadÚnico e os assentamentos serão regularizados conforme a Resolução
Conama 458/13, por meio do Cadastro Ambiental Rural. Com a terra, o
Governo Federal garantirá assistência técnica e iniciará os
investimentos das demais políticas públicas, como os programas Minha
Casa, Minha Vida (MCMV), Água para Todos e Luz para Todos, em cronograma
previsto já nas portarias de criação dos assentamentos.
Assistência técnica
De imediato, a assistência técnica vai
chegar a 73 dos futuros assentamentos. Atualmente, o Incra garante esses
serviços a 306 mil famílias e a projeção é a de beneficiar outras 100
mil famílias em 2014, fazendo com que todos os novos beneficiários
contem com assistência técnica.
Dados da Diretoria de Desenvolvimento de
Assentamentos da autarquia apontam que em até cinco anos as famílias
poderão gerar um valor da produção equivalente a dois salários mínimos
mensais, uma vez que na região onde se localizam as áreas
desapropriadas, a média do valor da produção da agricultura familiar
chega a 3,7 salários mínimos mensais. “Essa estimativa nos permite
afirmar que esses projetos poderão gerar um valor bruto de produção de
aproximadamente R$ 81 milhões ao ano quando estiverem produzindo
excedentes”, diz Cesar Aldrighi, diretor de Desenvolvimento de
Assentamentos.
Com base no Censo Agropecuário 2006, cada
lote de reforma agrária deverá ocupar, em média, 2,8 pessoas. Com isso,
estima-se que mais de 13 mil pessoas estarão envolvidas com o trabalho
familiar, produzindo alimentos que chegam todos os dias à mesa dos
brasileiros.
Novo Crédito Instalação
Para garantir a segurança alimentar, gerar excedentes e aumentar o valor da produção, a Medida Provisória (MP)
publicada nesta sexta-feira institui o novo Crédito Instalação, a ser
regulamentado com condições mais favoráveis que as atuais formas de
operação e aplicado ainda em 2014.
O depósito do crédito será feito
diretamente na conta do beneficiário e não mais na conta de uma
associação de assentados, como ocorria antes. Historicamente, o Incra
realizava entre 30 mil e 40 mil operações do Crédito Instalação
anualmente. A expectativa da autarquia é a de triplicar esse número,
chegando a 100 mil operações no próximo ano.
Solução do endividamento para assentados e agricultores familiares
A MP também apresenta solução definitiva
para o endividamento nas diferentes linhas de crédito para a reforma
agrária e agricultura familiar. Estimativas do Incra apontam que,
aproximadamente 10 milhões de hectares de áreas reformadas poderão
aumentar a produção e produtividade com as novas condições de
negociação, e acesso a novos créditos.
O Crédito Instalação financiou desde 1985,
quando foi criado, R$ 11 bilhões em investimentos como habitação, apoio
à instalação, produção e infraestrutura básica. E 75% desse valor (R$
8,3 bilhões) foram aplicados nas modalidades Aquisição de Materiais de
Construção e Recuperação/Materiais de Construção, totalizando 930 mil
operações.
Para solucionar essa questão, a MP
atualiza o saldo devedor a uma taxa de 0,5% ao ano, concedendo os mesmos
descontos e prazos que são garantidos aos beneficiários do Grupo 1 do
Programa Minha Casa, Minha Vida. Com isso, o assentado pagará 4% do
saldo devedor, dentro de quatro anos, em parcelas limitadas a R$ 250
anuais.
Em relação às demais modalidades do
Crédito Instalação, a Medida Provisória estabelece a remissão das
dívidas de até R$ 10 mil por beneficiário. Quem deve acima deste valor,
terá rebate de 80% sobre o saldo devedor, mais R$ 2 mil de bônus fixo.
As dívidas dessas categorias somam R$ 2,7 bilhões, concedidos em mais de
1 milhão de operações.
Titulação de assentamentos
A titulação é um direito da família
assentada, e a Medida Provisória traz condições mais favoráveis para
acesso ao título da terra. A Medida Provisória traz como regra a isenção
para lotes de assentamentos criados em terras públicas federais, até o
limite de um módulo fiscal – mesmo tratamento assegurado pelo Programa
Terra Legal, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
Já para os lotes de imóveis desapropriados
ou adquiridos por compra direta por parte do Incra e destinados às
famílias assentadas, será usado como parâmetro o valor mínimo de
planilha referencial de preço do Incra, além da aplicação de índices
redutores a serem definidos em regulamento.
Procera e PAA
As dívidas do Programa Especial de Crédito
para a Reforma Agrária (Procera) também serão remitidas quando forem
até R$ 10 mil, para as operações com recursos do Orçamento Geral da
União. Os valores acima de R$ 10 mil terão rebate de 80% e mais R$ 2 mil
de bônus fixo, a serem definidos por meio de decreto. Encerradas as
negociações, será extinto o Fundo Contábil do Procera. São 81,8 mil
operações, envolvendo recursos de R$ 784 milhões.
Assentados e agricultores familiares que
participaram do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) - Compra
Antecipada nos anos de 2003 e 2004 também terão as dívidas remitidas até
o valor de R$ 2,5 mil originalmente contratado. A medida refere-se a
44,5 mil operações e recursos de R$ 91,4 milhões.
Pronaf
As operações do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) dos grupos A e A/C
realizadas entre 1999 e 2010 também serão liquidadas com rebate até 80%
do saldo devedor. O Conselho Monetário Nacional (CMN) definirá
metodologia para atualização, prazos e demais condições da negociação. A
medida irá beneficiar 203 mil assentados.
Já os valores renegociados terão rebate
até 50% sobre o saldo devedor para os assentados das regiões Norte e
Nordeste e até 45% nas demais regiões. As condições da renegociação
também serão definidas pelo CMN. O valor das 233 mil operações feitas
chega a R$ 2,4 bilhões.
As dívidas do Pronaf C/D e E contratadas
até 2008, nas quais o tomador esteja inadimplente desde 22 de novembro
de 2011 também serão renegociadas. Para a liquidação será concedido
rebate até 65% sobre o saldo devedor atualizado até R$ 10 mil e autoriza
as instituições bancárias a concederem bônus adicionais.
A metodologia, prazos e demais condições
para a liquidação serão definidos pelo CMN. A medida beneficia 512 mil
agricultores familiares dos quais 145 mil são assentados. Foram 513 mil
operações envolvendo recursos de R$ 1,4 bilhão, em valores atualizados.
Cidade cearense receberá “profetas da chuva” para avaliação do inverno de 2014
Como manda a tradição, a cidade de Quixadá (Ceará) será sede da próxima edição do Encontro dos Profetas da Chuva.
De10 a 12 de janeiro de 2014, estudiosos acadêmicos, políticos,
estudantes e profetas da chuva do Sertão Central cearense se reunirão
para lançar as previsões do inverno de 2014.
A programação começa na sexta-feira (10) com a sétima edição do festival
Encanta Quixadá. A apresentação de violeiros e trovadores vem reunindo,
desde o ano de 2007, cantadores da moda nordestina na praça da Fundação
Cultural. Na manhã do sábado (11), acontecerá a abertura oficial do evento, quando
cerca de 30 profetas convidados irão expor suas previsões na Associação
de Ouvinos e Caprinos do Estado do Ceará (Acocece).
Durante a tarde, a programação traz o Seminário Convivência no
Semiárido. Na ocasião, estarão presentes pesquisadores e educadores da
área que irão discutir sobre as melhores condições de vivência em
regiões de semiárido. O encontro encerrará no domingo (12) com um café
da manhã e bate-papo livre com os profetas, além de uma atração
cultural.
Previsões são realizadas por sertanejos
Sertanejos com um conhecimento particular a respeito das manifestações
da natureza que emitem sinais sobre os períodos de chuva ou seca no
Nordeste brasileiro. Esse saber é construído ao longo dos anos através
de sua interação com o meio ambiente, bem como por meio do
desenvolvimento de experiências e rituais, passados de geração em
geração, seja pela família ou entre amigos.
Os interessados nesse conhecimento, ou seja, aqueles que têm um vínculo
significativo com a terra, aprendem como construir suas próprias
previsões singulares através da convivência, do crescimento, de um
entendimento próprio e de um conjunto de sinais – as experiências.
Na cidade de Quixadá, desde 1996, se realiza o Encontro Anual dos
Profetas da Chuva, onde estes anunciam publicamente as suas previsões
para a próxima estação chuvosa na região.
O encontro acontece tradicionalmente no segundo sábado de janeiro, em um
local aberto para o público. Aqueles que se identificam como profetas
são apresentados por Helder Cortez, um dos organizadores do encontro, e
depois cada um tem sua vez de falar, incluindo a previsão e uma breve
descrição dos métodos usados para chegar àquela conclusão.
Na edição de 2013, compareceram cerca de 50 profetas, que previram, em
sua maioria, um inverno fraco para a região, o que está sendo constatado
com o pouco número de chuvas na região e a vivência de uma das piores
secas do Nordeste.
O XVII Encontro dos Profetas Populares é uma realização do Instituto de
Pesquisa, Viola e Poesia do Sertão Central e uma produção da Mungango
Produções.
SERVIÇO
XVIII Encontro de
Profetas da Chuva, de 10 a 12 de janeiro de 2014, na Associação de Ouvinos e Caprinos do Estado do Ceará (ACOCECE),
acesso pela estrada do açude Cedro, KM 3, em Quixadá. Mais informações: (85)3032.3333
A temperatura estava próxima a 37 graus célsius e o solo estalava de
seco na frenética Mossoró, cidade localizada na região oeste do Rio
Grande do Norte, a 285 quilômetros de Natal. Em 2012 e 2013, a chuva
veio em gotas e a seca é das mais abrasivas dos últimos 50 anos. O gado
morria de sede, enquanto carneiros e cabras, mais resistentes, se
alimentavam dos arbustos torrados pelo sol nordestino.
Cortada pela BR-304, que liga Mossoró a Fortaleza, no vizinho Ceará, é
nessa região semiárida, considerada adversa ao desenvolvimento de
lavouras, que tecnologias avançadas permitem que frutas como melão,
melancia, goiaba, maracujá, banana e mamão cresçam viçosas e doces e
ganhem a rubrica “tipo exportação” na embalagem. Além disso, a produção é
em escala e durante os 12 meses do ano. Da estrada, repleta de
caminhões transportando frutas, podem ser avistados os mantos verdes das
plantações circundados pela terra arenosa em Tibau (RN) – o mar está
próximo dali. Parece miragem. A maior parte dos frutos é exportada para
os exigentes mercados da Europa, principalmente, dos EUA e Oriente
Médio. Neste ano, a cobiçada China começou a importar e tornou real um
sonho antigo dos fruticultores.
A tecnologia que permite o “milagre” de se colher frutos nobres é a
irrigação por gotejamento. Sem ela, seria impossível aos agricultores
vencerem as condições climáticas, agravadas agora pela estiagem
prolongada. Também são decisivos o trabalho sol a sol do sertanejo e a
assistência de órgãos como Sebrae-RN, Universidade Federal do Semiárido e
prefeitura municipal. Para se ter ideia, somente com exportações de
melões, carro-chefe dos negócios, o Rio Grande do Norte faturou US$ 54
milhões em 2012, para uma receita nacional de US$ 134,1 milhões.
Já foi melhor: em 2007, o Estado chegou a movimentar US$ 85,2 milhões. A
queda nas vendas deve-se à crise econômica europeia, mas tem uma
novidade animadora: a desaceleração dos embarques não assustou, por
conta do mercado interno, que cresceu. E este ano emitiu sinais tímidos
da recuperação europeia, e a importação de outros mercados conquistados
foi incrementada. O Estado vendeu US$ 16,5 milhões de melões no primeiro
semestre – foram US$ 13,9 milhões em igual período em 2012. Já o Ceará
saltou de US$ 20 milhões para US$ 24,5 milhões.
Segundo Rui Sales Júnior, pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da
Universidade do Semiárido, outras tecnologias modernas, como sementes
híbridas, insumos de alto rendimento, embalagens rigorosas, integração
lavoura-floresta e o chamado “mulching” (cobertura plástica que garante
melhor produtividade às plantas), são usadas tanto nas grandes como nas
médias e pequenas fazendas e colaboram para minimizar os custos.
Entre os pequenos produtores, o professor cita como exemplo os do
assentamento Oziel Alves, a 28 quilômetros de Mossoró, que desafiaram a
seca e transformaram o solo inóspito num “oásis”. Lá reside o casal Jair
Alves de Andrade, de 39 anos, e Adriana Andrade, de 34. Eles são
assentados do Oziel Alves desde 2001, quando 132 famílias ocuparam a
propriedade. Hoje, segundo Adriana, apenas seis delas cultivam uma área
total de 1.600 hectares, incluindo reserva legal, e produzem melão das
variedades amarelo, pele-de-sapo, cantaloupe, além de melancia, banana
orgânica e tomate. Toda a semana são
plantados 3 hectares de melão, sendo 30% negociados no mercado interno
(seguem para Natal, Fortaleza e São Paulo) e os 70% restantes exportados
para Inglaterra, Holanda, Portugal e Espanha pelos portos de Mucuripe,
em Natal, e Pecém, em Fortaleza, que ficam a cerca de 250 quilômetros
dali. “Temos o certificado GlobalGap, cujas normas internacionais são
rígidas em relação ao meio ambiente, à segurança e ao bem-estar dos
trabalhadores. O diploma abre mercado aos nossos produtos, que são ainda
rastreados”, diz Adriana.
Usada em 100% da lavoura no Osiel Alves, a irrigação por gotejamento
permitiu que a agricultura no Semiárido vencesse o estágio primitivo,
quando o caju era a estrela dos pomares, ganhasse perfil moderno e
transformasse o sertanejo num empreendedor. Foi uma “revolução”, lembra
Francisco de Paula Segundo, subsecretário do Trabalho da prefeitura de
Mossoró. Pelo sistema, explica ele, a água é levada sob pressão por
tubos. Depois, é aplicada no solo por meio de emissores na raiz da
planta frequentemente e em baixa intensidade. “Sua eficiência chega a
95%. Não há desperdício de água, que por aqui é o bem mais prezado”,
afirma.
E o Nordeste avançou ainda mais quando passou a utilizar irrigação com
fertilização e quimigação. A lavoura não recebe apenas água. É irrigada
com água e nutrientes ao mesmo tempo e na dose certa para o seu
desenvolvimento, e, no caso da quimigação, os defensivos são colocados
juntos. Francisco diz que a tecnologia do gotejamento veio de Israel,
onde a população foi obrigada a domar áreas desérticas a fim de produzir
comida para seu sustento.
Os assentados do Oziel Alves estão colhendo 2.100 caixas de 13 quilos de
melão por hectare, uma boa produtividade, diz Adriana, que é agrônoma. O
mercado cotava a R$ 19 a caixa, valor que cobre os custos e deixa um
lucro líquido razoável. O melão é plantado junto a culturas perenes,
como mamão e banana, o que garante renda aos assentados o ano inteiro.
Até a moderna e eficiente técnica da integração lavoura-pecuária já
chegou ao Nordeste. No assentamento de Adriana, os resíduos das frutas
engordam carneiros e ovelhas de corte. A pecuária reforça a receita. Não
há custos com alimentação. Os animais são comprados magros e vendidos
gordos.
O abastecimento de água é feito por meio de poços artesianos. No Osiel
Alves, alguns deles têm profundidade de 100 metros, o que mostra a
dificuldade dos fruticultores para chegar aos lençóis freáticos.
Este ano choveu apenas 200 milímetros no oeste potiguar, onde Mossoró
está plantada. O ideal seria 600 milímetros ou mais. Pior: em 2013, a
região foi vítima da chamada seca verde. A chuva cai em abundância num
período curto de tempo, é mal distribuída e depois cessa drasticamente.
Quem não possui tecnologia não consegue plantar, o que vale também para o
pecuarista, cuja boiada morre.
Famosa
Maior produtora de melão de todo o mundo, até a Agrícola Famosa foi
obrigada a mudar sua estratégia neste ano. Sediada parte em Icapuí (CE),
parte em Tibau (RN), na divisa dos dois Estados, a empresa possui nove
unidades de produção espalhadas pela região e em Pernambuco. “A estiagem
castiga. A água baixou em alguns poços artesianos e secou em outros.
Houve concentração de sal na água, prejudicando a produtividade das
frutas”, afirma Luiz Barcelos, proprietário. “Transferimos então uma
parte do plantio para Pernambuco.”
Tudo na Famosa é superlativo. A cada semana, 280 contêineres
refrigerados e carregados de frutas rumam para o porto. Nos últimos
anos, com a explosão da demanda interna por frutas, o número de
contêineres que transporta a produção, que era de dez em 2008, saltou
para 100 hoje. “No início, eram plantados 3 hectares de melão a cada dez
dias. Hoje, são 250 hectares por semana e a colheita se dá 60 dias
depois, ou seja, o giro é curto e imprime velocidade às atividades,
conduzidas por 3 mil trabalhadores registrados.”
Somente na sede, que tem 8.000 hectares, além do melão e da melancia,
semeados em 3.000 hectares, são plantados mamão (500 hectares), banana
(500), maracujá (500), aspargos (100) e tomate-cereja (100). O grupo
engorda 3.500 cabeças de boi e tira 2.000 litros de leite ao dia. Os
animais são alimentados com as sobras do melão, sem custos. As
exportações de frutas brasileiras crescem. De 2000 a 2012, o resultado
saltou de US$ 50 milhões para US$ 619 milhões, e os Estados do Nordeste
lideram. Melão, manga e uva são as que mais faturaram.
Dois outros plantadores de frutas de Mossoró são otimistas em relação ao
futuro e investem no crescimento de suas lavouras. João Manoel Lopez
Lima, de 49 anos, colheu 3.600 toneladas de melão em 2012, além de
melancia, em sua propriedade de 350 hectares na zona rural do município.
Em 2013, ele dobrou a produção. Já
Francisco Vieira da Costa, de 50 anos e também de Mossoró, é um dos
poucos a operar com contratos pré-fixados com os países europeus, caso
da França, que ele considera o mais exigente do mundo. Essa condição
permite exportar um volume de frutas padronizado nas caixas. “É do
tamanho que a Europa pede”, diz ele, que embarcava 6.000 toneladas de
melão em 2008, volume que saltou para 12.000 toneladas neste ano.