A colheita do 
algodão familiar (safra 2019/20), no Norte de Minas, foi iniciada em 
meados de abril e deve prosseguir até setembro, com perspectiva de maior
 volume de produção e melhor produtividade em relação ao ciclo passado. 
Os desafios que marcam as atividades na região, como risco de contágio 
pelo coronavírus durante a colheita manual e retração no mercado 
consumidor do produto, vêm sendo superados pelos cotonicultores 
familiares filiados à Associação Mineira dos Produtores de Algodão 
(Amipa) e integrantes da Cooperativa dos Produtores Rurais de Catuti 
(Coopercat). Assessor técnico da cooperativa, José Tibúrcio de Carvalho 
avalia que, mesmo com uma área plantada menor, de 540 hectares, a 
produção e a produtividade devem superar os indicadores da safra 
2018/19, cujo plantio totalizou 664 hectares. “A redução de área na 
safra foi uma decisão da Coopercat, sendo um dos objetivos evitar o 
risco de endividamento e manter a capacidade de gestão, usando com 
responsabilidade o capital disponível”, informa.
Na avaliação do profissional, a região 
deve superar o resultado de produção da temporada anterior, de cerca de 
1,1 tonelada de algodão em caroço, com a produção de mais de 1,4 
tonelada, sendo mantido o mesmo patamar de rendimento de fibra alcançado
 na safra 2018/29, de 39,50%. A produtividade estimada deve chegar a 
2.700 kg/ha, contra 1.686,56 kg/ha do ciclo anterior. O volume esperado 
de pluma, após o beneficiamento, é de 583,20 kg, com a produtividade na 
casa de 1.080 kg/ha.
O campo não pode parar, diz Tibúrcio. Ele 
conta que a cooperativa é uma entidade que protagoniza a liderança 
técnica das atividades de 120 produtores familiares, que têm no algodão 
do Semiárido Mineiro a sua principal fonte de renda. Os pequenos 
agricultores se distribuem atualmente em 11 cidades, a maioria 
localizada nos municípios de Monte Azul (34), Catuti (29), Espinosa (21)
 e Mato Verde (15), outros em Gameleiras (7), Pai Pedro (5), Porteirinha
 (5) e um produtor nas localidades de Janaúba, Nova Porteirinha, Rio 
Pardo de Minas e São Sebastião.
Explica ainda que, se os cotonicultores do
 Norte de Minas cultivam variedades de alta qualidade e rendimento de 
pluma equiparadas às utilizadas pelos grandes produtores mineiros, é por
 causa do apoio e assistência recebidos da Associação e da sua 
mobilização junto ao governo de Minas, por meio do Programa Mineiro de 
Incentivo à Cultura do Algodão (Proalminas) e do Fundo de 
Desenvolvimento da Cotonicultura do Estado de Minas Gerais (Algominas). 
São pilares, desde 2005, para a manutenção da cotonicultura na região, e
 parceiros da Amipa na implementação de novas tecnologias de produção e 
suporte em ações a cada safra.
Para o técnico, a perspectiva de bons 
resultados com a safra 2019/20 também se deve as outras importantes 
iniciativas da Associação, com o apoio do Fundo Algominas, como a 
irrigação de salvamento implementada em duas etapas, desde 2013. Foram 
instalados 31 kits de irrigação por gotejamento, sendo 21 deles 
custeados pelo Fundo Algominas e o restante cedido pela Fundação 
Solidaridad.
Outro ponto fundamental que ele cita é o 
apoio recebido da Associação por meio do Proalminas para manter à 
disposição da Coopercat veículo e combustível para viabilizar o 
atendimento presencial aos produtores da região, caracterizado por 
visitas às fazendas para suporte e orientação prestados por técnicos 
agrícolas. “Não fosse todo esse apoio, o cultivo do algodão familiar no 
Norte de Minas não teria se recuperado e atingido o número atual de 
produtores. A agricultura familiar é um trabalho de construção, porque o
 produtor planta sem crédito, falta crédito rural”, destaca.
Desafios para colher e vender
Os cotonicultores familiares da região do 
Semiárido de Minas Gerais são pequenos produtores que ainda fazem a 
colheita manual. Por causa disso, foi preciso buscar soluções para 
enfrentar um ano atípico. O desafio imposto pela possível contaminação 
por Covid-19 na realização das atividades somou-se à insegurança no 
escoamento da produção, face a uma esperada retração e lenta retomada de
 compra da commodity pelas indústrias têxteis estaduais, que absorvem 
praticamente toda a produção do Norte de Minas.
“Houve um período de receio com relação à 
contaminação pelo coronavírus, superado com ações efetivas de informação
 sobre os cuidados preventivos e os kits de colheita, também com doações
 de equipamentos de proteção individual para prevenção contra a 
Covid-19, entregues a produtores e colhedores em maio pela Coopercat, 
com apoio da Amipa e da Fundação Solidaridad”, afirma Tibúrcio.
Segundo ele, a Associação assumiu a 
consultoria para recomendar os EPIs adequados e a negociação de insumos a
 preços competitivos junto a revenda em Patos de Minas, região do 
Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, e a Fundação Solidaridad cedeu os 
recursos financeiros para a aquisição dos EPIs e outros materiais 
necessários para a composição de um kit de colheita.
Em maio, foram entregues 750 kits para 
produtores e colhedores envolvidos na colheita do algodão, cada um 
contendo uma unidade de protetor facial (viseira), luvas, botinas, 
marmita e garrafa térmica. Um dos beneficiados com o kit foi João José 
dos Santos (72), residente em Monte Azul, que trabalha como colhedor de 
algodão há 50 anos, a maior parte desse tempo em São Paulo e há nove 
anos em Minas Gerais. “Foi muito importante receber esses equipamentos, 
ia ser muito perigoso, acho que ia correr mais riscos. Do kit todo, além
 da viseira e das luvas, para mim foi muito bom receber as botinas”, 
comenta João.
Adelino Lopes (62), conhecido como 
“Companheiro Dila”, é produtor desde 1972 e há pouco se afastou da 
presidência da Coopercat, posição em que tem atuado por anos, para se 
tornar candidato a vereador. Tornou-se associado da Amipa, na época em 
que se deu a retomada do algodão na região. O ano foi 2005, em 
decorrência de um projeto de reinserção do algodão no Norte do estado, 
idealizado pela Amipa em conjunto com a Secretaria de Agricultura, 
Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa-MG), por meio do 
Proalminas. Alguns anos depois, Adelino assumiu como diretor regional 
Norte de Minas na Associação. Em abril deste ano, foi reeleito para um 
novo mandato, alongando o seu papel de representante da classe produtora
 local.
“Pretendia contratar 30 colhedores este 
ano, mas com a parada de compra pelas tecelagens, e também por causa de 
área separada para o teste de colheita mecanizada, esse número caiu para
 15 pessoas. Todos estão trabalhando com protetor facial e outros 
equipamentos recebidos no kit, afastados uns dos outros, higienizando as
 mãos, estão sendo cuidadosos”, conta o produtor.
Na avaliação do diretor executivo da 
Amipa, Lício Pena, a comercialização da pluma produzida pelos 
agricultores familiares registrou grandes avanços ao longo dos anos do 
projeto. “Com o fim da participação do atravessador, esses pequenos 
produtores alcançaram a condição de igualdade com os grandes produtores 
empresariais. Passaram a vender a pluma para as indústrias têxteis, de 
acordo com a qualidade, recebendo o benefício do programa Proalminas, de
 [preço] Esalq + 7,85%, quando comercializada dentro de Minas Gerais”, 
esclarece.
De acordo com Lício, a Associação busca 
promover a comercialização justa da pluma do Norte de Minas, realiza 
todas as análises de HVI necessárias na filial da Amipa, a Minas Cotton 
e, muitas vezes, intermedia as negociações entre os produtores e a 
indústria têxtil.
Experimento de colheita mecanizada
Adelino já está com 50% do algodão colhido
 em duas áreas de algodão: uma pequena, com plantio irrigado, e outra 
maior, sequeiro, tem expectativa de obter 30.000 kg de algodão em caroço
 nos 14,5 hectares distribuídos nessas áreas. “Com o apoio da Amipa, a 
cooperativa conseguiu vender aqui em Minas três cargas com um total de 
14.000 kg de algodão, já enviadas para Araçaí e Guaranésia”, informa o 
produtor.
Adelino conta que parte da área maior está
 separada para teste com um protótipo de colheitadeira nos próximos 
dias. “O custo da colheita na produção do algodão é muito alto, a 
colheita mecanizada vai reduzir essa despesa para a gente. Da minha 
parte, vou tentar suportar um pouco do custo para ajudar o trabalhador 
rural a ter trabalho. Vou buscar outras formas também, talvez com 
plantios  alternados na entressafra”, relata.
De acordo com Tibúrcio, o teste em questão
 é de um protótipo de colheitadeira acoplada em trator, desenvolvido 
pelos pesquisadores Odilon Reny Ribeiro e Valdinei Sofiatti, da Embrapa 
Algodão, que vem sendo experimentado em várias regiões de produção 
familiar no país, desde o ano passado.
O equipamento foi carregado em Campina 
Grande (PB), liberado pela Embrapa Algodão, e chegou a Catuti no dia 15 
de junho (segunda), com o transporte viabilizado pela Amipa. “O custo da
 mão de obra na colheita manual gira em torno de 60%, sendo que na 
mecanizada representa 5% do custo de produção. Esse protótipo foi 
desenvolvido para uso em pequenas áreas de produção e vai reduzir custo e
 também a contaminação que pode ocorrer com a saca, ajudando a manter a 
qualidade do algodão”, informa o assessor técnico.