Um
aplicativo para dispositivos móveis permitirá que produtores rurais
classifiquem os solos de diferentes áreas de sua fazenda. Com isso, cada
talhão da propriedade poderá receber destinação adequada de acordo com o
tipo de solo.
Idealizado pela
Embrapa Solos (RJ) em parceria com a
Embrapa Informática Agropecuária
(SP), o SmartSolos vai permitir que o produtor rural tenha a
classificação do solo em tempo real. A tecnologia apresenta os
resultados respondendo aos dados que o produtor insere no sistema. Após
criar uma conta simples, o usuário faz, na primeira etapa, uma descrição
geral de sua propriedade carregando dados e até fotos do solo e do
perfil, por exemplo. Informações como data e localização geográfica são
inseridas de maneira automática pelo sistema. No fim dessa fase, o
produtor obterá uma classificação aproximada.
Na etapa mais
detalhada, deverão ser inseridos dados obtidos com análises de
laboratório como as características físicas e químicas do solo. Com
todas essas informações, o SmartSolos classifica até o quarto nível do
Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (
SiBCS).
Busca de parcerias
“Temos
estudado diversos modelos de negócio para o SmartSolos, e consideramos
que o gratuito com anúncios é o mais adequado para aplicativos dessa
natureza”, conta França.
Segundo ele, a publicidade dentro do
aplicativo é interessante tanto para os usuários, já que a maioria não
costuma pagar por downloads, como para as empresas patrocinadoras, uma
vez que o SiBCS é
uma das publicações mais vendidas da Embrapa. “Trata-se inclusive, de
uma publicação amplamente utilizada em universidades e instituições de
pesquisa nacionais”, declara.
Acredita-se que, como plataforma de
informação da terra com várias funcionalidades, o SmartSolos terá
grande apelo junto a parceiros que buscam espaço para divulgar e
promover sua marca e seus produtos.
Foto: Divulgação Embrapa
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A
classificação do solo é imprescindível aos produtores, pois permite
estabelecer relação direta com o crescimento da planta, além de ajudar a
definir áreas adequadas para construção de estradas ou aterro
sanitário, entre outras funcionalidades.
Para entender melhor a importância da classificação dos solos, o pesquisador
José Coelho,
da Embrapa Solos, recorre a uma metáfora automobilística. “Ao pensar em
um Fusca, por exemplo, o associamos a várias características, como
carro redondo, econômico, sem porta-malas etc. O mesmo acontece com o
solo. Com o sistema, é possível associá-lo a um pacote de informações
sobre a sua química, física e mineralogia. Isso é fundamental para o
correto uso, manejo e a conservação”, pontua o cientista, que é um dos
idealizadores do sistema.
Os pesquisadores
Stanley Oliveira e
Glauber Vaz, da
Embrapa Informática Agropecuária,
desenvolveram dois sistemas diferentes que atuam na tecnologia. O
primeiro, chamado de “especialista”, opera segundo as regras do SiBCS e
classifica o solo conforme o usuário insere as informações necessárias.
Já o sistema denominado “inteligente” utiliza algoritmos de inteligência
artificial para predizer uma classificação, mesmo na ausência de
algumas informações.
O foco do trabalho agora é na camada de
apresentação do aplicativo, que está sendo desenvolvida em parceria com
uma empresa terceirizada. “É a partir dessa camada que o usuário poderá
interagir e utilizar todas as funcionalidades do aplicativo SmartSolos”,
revela
Luís de França, da Embrapa Solos.
Tecnologia dinâmica
França
informa que o SmartSolos foi projetado para ser uma tecnologia
dinâmica, com capacidade de evoluir com o tempo e se adaptar a novas
funcionalidades. “Futuramente, os resultados das análises laboratoriais,
por exemplo, poderão ser enviados automaticamente ao aplicativo”,
exemplifica.
Os sistemas internacionais de classificação de solos
Existem
dois grandes sistemas internacionais de classificação de solos: o
norte-americano, conhecido como Soil Taxonomy, e o World Reference Base (WRB),
desenvolvido pela FAO, que contou com apoio da comunidade científica
brasileira na sua elaboração, e é adotado pela Sociedade Internacional
de Ciência do Solo e pela Comunidade Europeia.
O Brasil é o único
país em desenvolvimento que possui um sistema próprio. A Argentina, por
exemplo, usa os dois sistemas de âmbito mundial e o Uruguai utiliza o
norte-americano. “Nosso sistema ajuda para que falemos a mesma língua no
Brasil quando o assunto é solo. Padronizamos as características e os
nomes para que todos entendam”, esclarece Maurício Rizzato.
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Outra
evolução prevista é a utilização das informações para atualizar bancos
como a biblioteca de solos (Soloteca) e outros utilizados em pesquisas
científicas. “Há um enorme potencial para integração em várias
iniciativas de pesquisa”, acredita França.
A expectativa dos
pesquisadores é que o aplicativo não seja apenas um classificador de
solos, mas um agregador que reúna em uma mesma plataforma vários
aplicativos a serem desenvolvidos ou adaptados para dispositivos móveis.
O SmartSolos deverá ser capaz de adaptar a informação de solos não
apenas às tecnologias atuais, mas também às tecnologias emergentes
(impressão 3D, realidade virtual, novas interações com o Big Data etc). O
aplicativo deverá apresentar múltiplas interfaces a fim de fornecer
informações úteis de forma acessível para públicos diferenciados como
agricultores, estudantes, técnicos, professores e pesquisadores.
França
lembra que, há poucos anos, não existiam aplicativos sobre a terra no
Brasil. “Hoje, já há um bom número de apps e a tendência é de
crescimento. Boa parte desses produtos tem como foco a interpretação de
análise de solos e recomendação de corretivos e fertilizantes
(Nutrisolo, Solo Certo, Solum, etc.), ou a visualização de mapas
específicos, classificação textural, etc.”, conta o pesquisador.
O
SiBCS, automatizado em linguagem acessível, além de poupar tempo e
minimizar eventuais erros humanos, poderia, por exemplo, utilizar o
reconhecimento de voz para entrada de dados, dispensando a digitação;
organizar a saída de resultados em diferentes formatos de arquivo (.txt,
.doc, .xls), e compartilhá-los instantaneamente (e-mail, wifi,
Bluetooth, 4G). Além disso, o SmartSolos vai fazer a correspondência das
classes de solo do SiBCS com as classes de solo de outros sistemas
taxonômicos como o World Reference Base (
WRB), da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (
FAO), com um simples toque na tela do smartphone.
A importância da classificação do solo
“Sabendo
a classificação do solo de determinada área conhecemos várias
informações a respeito dele”, diz o pesquisador da Embrapa Solos
Mauricio Rizzato Coelho.
Ao separar na paisagem uma área de latossolo vermelho-amarelo
distrófico, por exemplo, os estudiosos sabem que ele geralmente ocorre
em relevo plano, sem problemas de mecanização, é pobre em nutrientes,
precisa de adubação e calagem; no entanto, não costuma ter problemas em
sua estrutura física. As atualizações na classificação da terra no
Brasil são feitas a cada dois anos, quando são realizadas as reuniões de
classificação e correlação de solo (RCC).
Pesquisadores e
especialistas em solos de diversas instituições percorrem o roteiro da
viagem de campo para descrever a terra, discutir seus atributos e sua
classificação, bem como fazer correlações in situ entre ocorrências das
classes de solos, sua natureza e propriedade, além de suas
características geoambientais, vulnerabilidades e potencialidades para
uso agrícola.
As RCCs são grande oportunidade de troca de
conhecimento e aprimoramento, já que levam os cientistas para locais da
ocorrência da terra a ser estudada. “Essa itinerância e prática são os
diferenciais em relação aos demais eventos da área de ciência do solo,
repercutindo nos resultados alcançados”, avalia
Maria de Lourdes Mendonça, chefe-geral da
Embrapa Cocais (MA).
A próxima reunião será em
outubro de 2019,
quando a caravana de cientistas vai percorrer o Maranhão, estado
particularmente interessante para os estudiosos das ciências naturais
por abrigar três biomas: Amazônia, Cerrados e Caatinga, além de diversos
ambientes de transição, campos inundáveis, restingas e manguezais. Há
também grande diversidade em geologia, geomorfologia, clima, vegetação
e, consequentemente, dos solos.
PronaSolos, o detalhamento de todo o País
Com
o avanço da ciência e o surgimento de novas tecnologias no começo do
século, como o geoprocessamento, mapeamento digital de solos e o
monitoramento agrícola por satélite, o levantamento de solo no campo foi
colocado em uma berlinda.
“Lembro que, no Congresso Brasileiro
de Ciência do Solo, que aconteceu em Gramado, em 2007, corriam até
boatos sofre o possível fim da pedologia, o estudo do solo no seu
ambiente”, recorda a professora da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (
UFRRJ) Lucia Helena dos Anjos.
Apesar
dos momentos difíceis pelos quais passou, a pedologia vem ganhando
novamente o interesse da sociedade, de acordo com a pesquisadora Maria
de Lourdes Mendonça. “Conhecer os solos para melhor manejá-los pela
otimização da aplicação de práticas agronômicas sustentáveis, bem como
para executar planejamento de uso das terras por meio de zoneamentos,
tornou-se indispensável, inclusive para a definição de políticas
públicas”, afirma Maria de Lourdes Mendonça.
Além disso, o anúncio da realização do Programa Nacional de Solos do Brasil (
PronaSolos)
trouxe o levantamento de solo para o centro do debate acadêmico no
Brasil. O programa é um trabalho inédito de grandes proporções que irá
elevar o conhecimento sobre os solos brasileiros. Coordenado pela
Embrapa, ele pretende mapear o território brasileiro e gerar dados com
diferentes graus de detalhamento para subsidiar políticas públicas,
auxiliar na gestão territorial, embasar agricultura de precisão e apoiar
decisões de concessão do crédito agrícola, entre muitas outras
aplicações. Orçado em até R$ 5,5 bilhões de reais, o PronaSolos deve
gerar ganhos de R$ 40 bilhões ao País dentro de uma década, de acordo
com especialistas.
“O fato de termos um sistema de classificação
feito aqui, adequado às nossas condições, vai fazer com que geremos
informações com mais qualidade para o Pronasolos”, afirma Rizzato. Por
outro lado, o Programa também vai permitir que, conhecendo melhor os
solos de diversas regiões do País, o SiBCS se torne ainda mais útil.
“Dessa maneira criamos uma relação de cooperação entre o SiBCS e o
PronaSolos: um alimenta o outro”, analisa.
O PronaSolos envolverá
diversos ministérios e órgãos federais em torno do objetivo de fazer o
mapeamento do solo de norte a sul do Brasil no período entre dez e 30
anos, em escalas que tornem viáveis a correta tomada de decisão e
estabelecimento de políticas públicas nos níveis municipal, estadual e
federal – 1:25 mil, 1:50 mil, 1:100 mil, respectivamente. Isso significa
que cada um centímetro do mapa corresponde a um quilômetro de área (na
escala de 1:100 mil). A definição das escalas dependerá das prioridades
governamentais. O maior detalhamento (de 1:25 mil) é desejável, por
exemplo, para o planejamento de propriedades e na agricultura de
precisão, o que vai influenciar diretamente na concessão de crédito
rural.