Cepea, 24 – O agronegócio segue
dando sua contribuição para a balança comercial. No primeiro semestre,
mesmo com a queda de aproximadamente 10% dos preços em Real (a queda em
dólar foi de quase 17% e o câmbio efetivo melhorou apenas 8%), o volume
exportado aumentou 4,74% no comparativo com o primeiro semestre do ano
passado, conforme cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia
Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. Em junho, especificamente, o setor
representou de 45,9% das exportações totais do País.
Refletindo esse desempenho, cálculos do Cepea apontam que o
faturamento em dólar das exportações do agronegócio brasileiro baixou
para a casa dos US$ 43 bilhões, o que representou queda de
aproximadamente 12% frente ao mesmo período de 2014. Em moeda nacional, a
diminuição da receita agregada foi de aproximadamente 5%.
Nos seis primeiros meses de 2015, grande parte dos produtos
apresentou crescimento no volume de vendas externas frente ao primeiro
semestre de 2014. Um dos destaques foi o suco de laranja, que teve seus
embarques ampliados em 23,7% – principais compradores foram Bélgica,
Holanda, Estados Unidos e Japão. Outros produtos que também tiveram
aumento do volume embarcado foram: farelo de soja (11,74%), frutas
(11,28%), madeira (7,74%), óleo de soja (5,35%), celulose (4,53%),
carnes de aves (3,15%), açúcar (2,23%) e soja em grão (1,40%). Os
embarques de café se mantiveram praticamente estáveis (0,32%), enquanto
caíram as vendas externas de etanol (32,28%), das carnes bovinas
(17,94%) e suínas (5,02%), além do milho, que teve diminuição de 0,61%.
O câmbio real do agronegócio (calculado pelo Cepea com base numa
cesta de 10 moedas) teve alta de aproximadamente 8% na comparação
semestral – média do primeiro semestre/2015 contra primeiro/2014 –,
enquanto os preços em dólares caíram mais de 17%. O café foi o único
produto analisado que não teve redução dos preços em dólar.
Diante dessa combinação, os preços internalizados em reais
(IAT-Agro/Cepea), que representam a atratividade das exportações agro,
baixaram cerca de 10% no primeiro semestre de 2015 frente a igual
período de 2014. Pesaram para esse resultado as quedas (em moeda
nacional) das carnes de aves e suína, açúcar, etanol e de todo o
completo soja (grão, farelo e óleo), que se sobrepuseram à variação
positiva dos preços internalizados do café, suco de laranja, celulose,
madeira, carne bovina, frutas e milho.
A desvalorização do Real pouco acima de 8% na média do semestre
colaborou para a atratividade de boa parte dos produtos exportados pelo
agronegócio nacional nesse primeiro semestre de 2015, amenizando o
efeito da forte redução dos preços médios de exportação sobre o
faturamento do setor. Com isso, os preços internalizados em reais
(IAT-Agro/Cepea) do café, suco de laranja, celulose, madeira, carne
bovina, frutas e milho tiveram variação positiva. No caso das carnes de
aves e suína, açúcar, óleo de soja, etanol, soja em grão e o farelo de
soja, os preços em reais permaneceram com variações negativas, porém bem
mais amenas do que os valores externos desses produtos.
Índice de Atratividade da Exportação para Produtos Específicos
(IAT-Agro/Cepea) – variações percentuais referentes a comparações entre
os seis primeiros meses de 2015 e o mesmo período de 2014.
Fonte: Cepea/Esalq-USP
A China permanece como o principal destino das exportações do
agronegócio brasileiro, com a pauta bastante concentrada nos produtos do
complexo da soja, explicam pesquisadores do Cepea. Esse país absorveu
no primeiro semestre deste ano 76,5% da soja em grão exportada pelo
Brasil, 0,02% do farelo de soja e 14,8% do óleo de soja. No caso do
mercado de óleo de soja, o destaque em termos de destino das exportações
nacionais foi a Índia, que comprou 45,4% do produto.
O mercado de café teve como principais destinos no primeiro semestre
os Estados Unidos e a Alemanha, enquanto as carnes de aves seguiram, em
especial, para a Arábia Saudita, Japão, China, Emirados Árabes Unidos,
Holanda, Hong Kong e Coréia do Sul. A carne bovina teve como compradores
principais Hong Kong, Rússia, Egito, Venezuela, Irã e Chile; e a carne
suína continuou concentrada na Rússia (aproximadamente 50%).
DE 2000 PARA CÁ – Analisando os últimos 16 anos, pesquisadores do
Cepea destacam que o ciclo de alta dos preços internacionais das
commodities agropecuárias chegou ao fim em 2011. Porém, os preços em
dólares (IPE-Agro/Cepea) dos produtos exportados pelo agronegócio ainda
apresentam alta de 73,3% no acumulado deste período (até jun/15). De
2002 a 2008, houve tendência de crescimento, com queda pontual em 2009
devido à crise internacional. Em 2010, os preços em dólares voltaram a
se recuperar, atingindo em 2011 a maior valorização do período. A partir
de então, a tendência tem sido de baixa, comentam.
A taxa de câmbio efetiva real do agronegócio (IC-Agro/Cepea), ou
seja, tirando-se o efeito da inflação, o Real se valorizou 45% na
comparação da média do primeiro semestre de 2015 com a de 2000.
Observe-se, a propósito, que a moeda nacional se manteve mais estável em
termos reais de 2011 a 2014, com tendência a maior desvalorização em
2015 – na média do primeiro semestre de 2015, houve perda de 7,6% frente
ao ano de 2014.
Os preços internalizados (em reais), que representam a atratividade
das exportações nacionais (IAT-Agro/Cepea), diminuíram aproximadamente
6%, comparando-se a média do primeiro semestre de 2015 com a de 2000. O
volume exportado (medido pelo IVE-Agro/Cepea), por sua vez, apresentou
crescimento de mais de 234% no período como um todo. Em resumo, nos
últimos 16 anos, os preços em dólares aumentaram 73,3%, o câmbio em
termos reais (deflacionado) caiu perto de 45% e os preços internalizados
diminuíram pouco mais de 4%, caracterizando significativa estabilidade.
Mesmo assim, o agronegócio aumentou o volume anual exportado em 235%
aproximadamente e o faturamento anual em dólares em 480% (Figura 1).
Índice de Preços de Exportação do Agronegócio (IPE-Agro/Cepea) em
dólar, Índice de Volume de Exportação do Agronegócio (IVE-Agro/Cepea),
Índice de Atratividade das Exportações do Agronegócio (IAT-Agro/Cepea) e
o Índice da Taxa de Câmbio Efetiva Real do Agronegócio
(IC-Agro/Cepea). Dados anualizados. Para o ano de 2015, considera-se a
média de janeiro a junho.
Fonte: Cepea/Esalq-USP
Para os próximos meses, caso se mantenha a desvalorização do Real, as
quantidades exportadas devem continuar se recuperando. No entanto,
pesquisadores do Cepea alertam que, diante das condições atuais de
oferta, não são esperados grandes aumentos de preços. Isso ocorreria
caso houvesse mudanças significativas de demanda ou reduções na produção
dos principais produtores, causadas por eventos climáticos adversos.