Armazenamento inadequado de grãos resulta em cerca de 15% de perdas
 Insetos-praga,
 fungos e micotoxinas somados a ataques de roedores são problemas que 
têm imposto perdas consideráveis ao produtor de grãos, em torno de 15%, e
 estão relacionadas ao armazenamento inadequado da produção. A 
estimativa é de cientistas da Embrapa Milho e Sorgo (MG), centro de 
pesquisa que coordena o projeto "Segurança Alimentar na agricultura 
familiar: qualidade do milho armazenado na região central de Minas 
Gerais e Estratégias alternativas de controle de contaminantes".
 O
 pesquisador da área de Entomologia da Embrapa Milho e Sorgo, Marco 
Aurélio Guerra Pimentel, alerta que o armazenamento inapropriado pode 
trazer perdas ainda maiores para o pequeno produtor. "Nas pequenas 
propriedades familiares que armazenam milho em espiga e que utilizam 
estruturas rústicas, como paióis de madeira, as perdas causadas por 
insetos e roedores podem, em alguns casos, alcançar mais de 40%", 
ressalta.
 Pimentel ressalta que a 
sazonalidade e a dinâmica de consumo da produção demandam um sistema 
eficiente de armazenamento que contribua para eliminar ou reduzir 
perdas. "Junto com o esforço para o aumento da produtividade, o produtor
 precisa se atentar para esses cuidados [com o armazenamento], pois 
assim poderá guardar sua produção e comercializá-la em épocas do ano em 
que consiga melhores preços. Ou mesmo poderá manter o grão para garantir
 o fornecimento na entressafra", aconselha.
 
"No fim do projeto, pretendemos fornecer aos agricultores informações 
sobre práticas que contribuam para minimizar problemas relacionados ao 
armazenamento do milho em paióis", informa a pesquisadora Valéria 
Aparecida Vieira Queiroz, da Embrapa, ressaltando que os dados estão em 
fase de coleta e processamento. No momento, os especialistas recomendam 
boas práticas já validadas de armazenamento que os produtores podem 
adotar para reduzir as perdas de grãos (veja lista no fim desta matéria).
 A redução das perdas na pós-colheita passa pela adoção de boas práticas
 agrícolas e de controle dos agentes contaminantes, os quais provocam 
danos aos grãos e podem se manifestar ainda na lavoura e perdurar por 
toda a fase de pós-colheita. Pimentel frisa que, além das perdas 
quantitativas, um mau armazenamento também pode provocar perdas 
qualitativas, as quais podem afetar a segurança alimentar dos humanos e 
dos animais.
 Agentes contaminantes e danos ao grão
 Os
 principais contaminantes dos grãos armazenados são insetos-praga, 
fungos, micotoxinas e resíduos de agrotóxicos. A contaminação ocorre 
durante o processo de produção, ainda na lavoura, e também durante o 
armazenamento e segue por todas as etapas de processamento do grão, até 
chegar à mesa do consumidor.
 Desses 
contaminantes, os insetos constituem o principal fator de perdas nos 
grãos durante o período de armazenamento. "São várias as espécies. Mas, o
 gorgulho ou caruncho (Sitophilus zeamais) e a traça-dos-cereais (Sitotroga cerearella)
 são os responsáveis pela maior parte das perdas", afirma Pimentel, 
ressaltando que os grãos podem ser infestados na lavoura, quando da sua 
maturação no campo, e os insetos migram para os armazéns após a 
colheita, com os grãos, ou já podem estar presentes nos armazéns.
 Marco Aurélio comenta que a infestação pode não ser notada em razão do 
hábito de desenvolvimento das larvas dos insetos que ocorrem dentro dos 
grãos, dificultando o controle pelo uso de inseticidas protetores. Os 
danos causados pelos insetos podem levar à redução da massa dos grãos e 
da qualidade nutricional, à desclassificação do produto, reduzindo seu 
valor comercial, e podem favorecer o desenvolvimento fúngico na massa de
 grãos.
 A ameaça dos fungos
 O
 processo de infecção por fungos começa ainda no campo, principalmente 
durante a fase de maturação fisiológica do grão, e passa para as etapas 
seguintes: colheita, secagem, armazenamento, transporte e processamento.
 Os grãos infectados por fungos são chamados de grãos ardidos.
 "É preciso fazer um monitoramento constante. Os grãos ardidos em milho 
são a consequência das podridões das espigas, causadas, principalmente, 
pelos fungos presentes no campo", alerta Pimentel.
 Os fungos produzem micotoxinas e os grãos contaminados ficam 
desvalorizados, pois sofrem alteração da cor, degradação de proteínas, 
de carboidratos e de açúcares. A tolerância máxima de grãos ardidos em 
lotes comerciais de milho é de 3%.
 Controle de contaminantes
 O pesquisador Marco Aurélio ressalta que as boas práticas agrícolas 
continuam sendo a melhor forma de prevenir a contaminação dos grãos por 
fungos e micotoxinas e reduzir as perdas causadas por insetos. "São 
estratégias simples que devem ser observadas desde a implantação da 
cultura até a destinação do produto colhido", diz.
 Dessa forma, o pesquisador recomenda ao produtor conhecer as 
características da cultivar escolhida, como empalhamento e decumbência 
das espigas, dureza e alta densidade dos grãos e resistência a danos 
mecânicos, a insetos e a fungos. A decumbência ocorre quando, após a 
maturação, as espigas de milho voltam-se para baixo impedindo a possível
 entrada de água na parte superior da espiga, desfavorecendo a 
colonização por fungos.
 "O agricultor precisa 
observar, também, o zoneamento agrícola e conhecer as condições 
ambientais da sua região de produção, para saber até mesmo o histórico 
de ataques de insetos às espigas durante o desenvolvimento da cultura no
 campo", acrescenta.
 Segundo Marco Aurélio, 
para garantir uma boa produtividade é preciso colher na época certa, sem
 atrasar demasiadamente, e evitar a colheita em períodos de chuva, 
manter o armazém limpo e sem umidade e sempre verificar o teor de água 
dos grãos que serão armazenados, o ideal é 13%.
 Além disso, o pesquisador orienta que é necessário fazer o 
monitoramento dos grãos durante o armazenamento, e sempre que a presença
 de insetos for constatada, o produtor deverá realizar o controle 
curativo, por meio do expurgo dos grãos. Os grãos novos, recém-colhidos,
 não devem ser misturados com os grãos velhos, de safras anteriores, e 
deve-se sempre que possível limpar os grãos antes do armazenamento, com 
máquinas de limpeza.
 Visando às boas práticas 
de armazenamento, todos esses cuidados devem estar aliados à principal 
medida preventiva, que é a higienização ou limpeza dos ambientes de 
armazenamento. "A limpeza é tão importante que alguns autores chegam a 
afirmar que essa medida constitui percentual significativo no sucesso do
 armazenamento do milho com qualidade", afirma Pimentel.
 As principais recomendações de limpeza devem ser realizadas antes da 
colheita, retirando-se do local de armazenamento impurezas e resíduos de
 grãos e detritos de safras anteriores, os quais podem ser fonte de 
contaminação.
 Armazenamento em paióis
 De acordo com Marco Aurélio, além da aplicação das boas práticas 
agrícolas na lavoura e da limpeza nos armazéns, o produtor pode utilizar
 inseticidas químicos e inseticidas naturais, à base de terra de 
diatomáceas, para prevenir os contaminantes. "A aplicação de inseticidas
 pode ser feita nas paredes, estruturas e nos grãos. É indicado, após 
uma limpeza geral, fazer uma pulverização com inseticida, de efeito 
residual, devidamente recomendado pelo Ministério da Agricultura", 
afirma.
 Veja as principais recomendações:
 • Armazenar o produto com o teor de umidade de 13% ou um pouco abaixo do nível usual de comercialização (12%).
 • Classificar as espigas conforme o empalhamento. Separar as espigas 
bem empalhadas das mal-empalhadas. O bom empalhamento das espigas 
favorece a boa conservação, desfavorecendo o ataque de pragas. As 
espigas mal-empalhadas devem ser consumidas inicialmente e as espigas 
bem empalhadas podem ser consumidas posteriormente.
 • Promover a limpeza dos grãos antes do armazenamento, no caso da 
produção a granel. Esta medida é importante porque os insetos têm mais 
dificuldade de infestar grãos limpos.
 • Evitar a mistura de grãos recém-colhidos com grãos de safras anteriores.
 • Assegurar que piso, telhado e paredes estejam em boas condições de impermeabilização.
 • Realizar, antes do armazenamento e periodicamente (ou quando observar
 infestação), o tratamento da estrutura com inseticidas protetores. 
Assim, recomenda-se, após uma limpeza geral, a pulverização com 
inseticida, de efeito residual, devidamente recomendado pelo Ministério 
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
 • Utilizar sempre as dosagens recomendadas pelos fabricantes de 
inseticidas, que constam em rótulos e bulas dos produtos. No caso do 
expurgo, utilizar sempre lona plástica especial (com maior espessura) e 
não as lonas plásticas para uso geral. Manter o produto sob a lona pelo 
período de exposição indicado pelo fabricante (este não deve ser 
inferior a três dias).
 • Produtos armazenados 
de safras anteriores que estejam infestados com insetos devem ser 
separados e expurgados com inseticida fumigante (fosfina), para 
eliminação de todos os estágios de vida (ovos, larvas, pupas e adultos).
 Sandra Brito  (MTb 06230/MG) 
Embrapa Milho e Sorgo
Embrapa Milho e Sorgo
 
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