Durante painel no 4º Congresso Brasileiro de Fertilizantes,
organizado pela Associação Nacional para Difusão de Adubos, Anderson
Galvão, CEO da Céleres, apontou os desafios para a agricultura
brasileira nos próximos anos. Segundo ele, o consumo está aumentando e o
país precisa se preparar para suprir esse espaço e continuar forte no
setor agrícola. “O mundo não é plano, assim como as estratégias para
capturar valor com a venda de alimentos”.
Para ele, estar no segmento é muito confortável quando se pensa em
futuro de longo prazo, mas o “agricultor tende a orbitar entre euforia e
depressão dependendo do andar da carruagem”. Ele acredita que o setor
terá oscilações no curto prazo. “Deve começar em 2014 e durar cerca de
um ano, um ano e meio”.
Na palestra, ele ressaltou a importância do papel da biotecnologia no
aumento da produtividade, mas afirmou que é preciso olhar todos os
segmentos da cadeia produtiva como um conjunto. “A biotecnologia não faz
nada sozinha, não adianta compra híbrido e plantar em solo não
corrigido”.
Veja os desafios colocados por Anderson Galvão:
1) Capital humano. Segundo o CEO da Céleres, mão de
obra de qualidade é um dos grandes desafios do setor, porém ele “não tem
visto preocupação com isso”. A migração da população rural para cidade
foi apontada como um dos fatores que diminuiu a disponibilidade de
trabalhadores no campo. Outro ponto é a dificuldade em achar
funcionários com bom grau de educação. “Como vai operar máquina
sofisticada se não tem a formação adequada?”, questionou.
Ele ainda pontuou sobre a “bomba relógio” do campo: o crack. “É uma
situação grave, tem muita gente usando. Antes o problema era a pinga,
hoje é o crack”.
2) Concorrência. “A gente tende a acreditar que só o
Brasil tem clima, só o Brasil tem terra, mas não é verdade”, disse
Galvão. “O consumo global cresceu mais que a produtividade. A questão é:
nós vamos ocupar esse espaço?”
Para ele, a competitividade é volátil e se o país não “fizer o dever
de casa”, outras nações sem tradição no setor passarão a concorrer com o
Brasil. Ele cita como exemplo o caso do Vietnã com o café e a Malásia e
Indonésia com a borracha.
“Acho que África vai sim ser produtor agrícola, mas custa caro
produzir lá”. Segundo ele, se os valores da soja, por exemplo, subirem,
países africanos poderão ter uma produção competitiva. “Se o preço da
soja volta a 16, 18 dólares por bushel, vocês vão ver soja saindo do
Camboja, Nigéria, Moçambique e Angola, por exemplo”.
3) Demanda. “A demanda de alimento é inelástica, as
crises não têm quase nenhum efeito sobre ela”, afirmou o palestrante.
Segundo ele, a maior retração em 40 anos na procura de alimentos foi de
3,1% e porque no ano houve quebra de safra. Para ele, a médio prazo a
demanda sempre existe e os dilemas são de curto período.
Ele frisou que muitas indústrias perderam ou deixaram de ganhar
dinheiro não por capacidade ociosa, mas sim por não conseguirem suprir a
busca pelo produto. Segundo ele, um dos desafios é conseguir
corresponder a esse crescimento constante da demanda, pois “estamos com o
acelerador no máximo já”.
4) Terras. Durante a palestra, o consultor
apresentou dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e a
Agricultura (FAO) que mostram que a exploração de terras agrícolas no
mundo estagnou em cerca de 1,4 bilhão de hectares. Para ele, as áreas
nobres para agricultura já estão sendo utilizadas e o momento é de
“platô de produtividade”, no qual a produção não sobe mais, além disso,
“os pacotes tecnológicos se esgotaram”. De acordo com ele, é preciso
achar uma forma de aumentar a produtividade, mesmo se a disponibilidade
de terras não crescer.
5) Clima. O CEO da Céleres pontua que o efeito do
clima na agricultura é algo com que o setor conviverá sempre. “A
vantagem é que hoje temos ferramentas para ajudar. As tecnologias dão
condições de antecipar ou mitigar riscos climáticos”. O exemplo apontado
por ele é uma biotecnologia com tolerância à seca que já está
disponível nos Estados Unidos e deve chegar ao Brasil em breve.
6) Logística. Galvão apontou que os custos de
deslocamento no país são altos, principalmente em relação aos Estados
Unidos, importante concorrente no setor. “A logística judia da soja rumo
ao porto e do fertilizante do porto para o sertão”.
Fonte: Globo Rural