Com
o objetivo de auxiliar produtores rurais no processo de adequação
ambiental da paisagem rural, a Embrapa, o Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (
Mapa), o Ministério do Meio Ambiente (
MMA)
e diversas instituições parceiras desenvolveram uma ferramenta que faz
recomendações personalizadas ao produtor rural para recompor a paisagem
nativa de sua propriedade.
Chamada de
WebAmbiente, a ferramenta estará disponível gratuitamente na
internet e
será lançada quarta-feira (28) às 10h30, no auditório do Ministério da
Agricultura. Trata-se de um sistema de informação interativo que
contempla o maior banco de dados já produzido no Brasil sobre espécies
vegetais nativas e estratégias para recomposição ambiental. A ferramenta
engloba todos os biomas brasileiros.
Programa sugere espécies nativas e orientações de preparo
Ao
acessar o sistema, o interessado tem à disposição o Simulador de
Recomposição Ambiental. A ferramenta oferece sugestões de estratégias de
recomposição e uma lista de espécies para adequação ambiental do imóvel
rural a partir de algumas respostas dadas pelo produtor rural. Ao
fornecer informações básicas como localização e tamanho da propriedade
rural, o internauta recebe uma lista de espécies nativas apropriadas
para o plantio, estratégias de recomposição mais adequadas às condições
da área e orientações relativas ao preparo inicial do local. Após usar o
simulador, é possível baixar ou imprimir o relatório com as sugestões
para recomposição.
Para utilizar o simulador, é necessário apenas
fazer um simples cadastro da área. Em seguida, o sistema faz algumas
perguntas relacionadas às áreas que deverão ser recompostas (se área de
preservação permanente, reserva legal, uso restrito, ou área de uso
alternativo do solo), suas características e as de seus solos, e os
riscos associados àquela recomposição. De acordo com o pesquisador da
Embrapa Cerrados
José Felipe Ribeiro, que coordenou a elaboração da ferramenta, quando o
produtor repassa essas informações, é possível escolher, a partir da
biologia das espécies, quais são as mais adaptadas àquelas condições.
Auxílio à adequação ao Código Florestal
Além
do Simulador de Recomposição Ambiental, quem acessar o WebAmbiente
poderá obter, no link “Espécies Nativas”, uma relação de todas as 782
espécies nativas já listadas. A busca pode ser textual, ou por bioma. A
relação traz o nome científico das espécies, seu nome popular, uso
econômico e a qual estratégia de ocupação ela pertence. “As
recomendações fornecidas por meio da ferramenta podem ser usadas não
apenas como subsídio para a elaboração de projetos visando a recuperação
ambiental, mas para beneficiar a adequação das propriedades rurais às
determinações do Código Florestal brasileiro”, afirma o pesquisador. A
disponibilização desses dados também busca dar suporte à formulação de
estudos e políticas públicas que visam recuperar ambientes degradados ou
alterados.
“Além de todas essas recomendações específicas, o
usuário do WebAmbiente também tem acesso a um vasto material de apoio
para auxiliá-lo a entender melhor tudo o que está envolvido na
recuperação ambiental”, explica Alan Nakai, analista da
Embrapa Informática Agropecuária
e um dos desenvolvedores da tecnologia. “O sistema fornece um extenso
glossário, não só com definições, mas também com explicações
aprofundadas sobre diversos assuntos envolvidos, incluindo ilustrações e
links para outras fontes. Há também uma seção multimídia na qual o
usuário pode buscar por vídeos e publicações”, detalha o especialista.
Projeto especial
O
WebAmbiente foi elaborado no âmbito do Projeto Especial 8 da Embrapa:
“Soluções Tecnológicas para a adequação ambiental da paisagem rural
junto ao Código Florestal”. Iniciado em maio de 2014 e com término
previsto para abril de 2018, o objetivo é estimular o cumprimento do
novo Código Florestal brasileiro (Lei 12.651/2012) por meio da
disponibilização de soluções tecnológicas da Embrapa para recuperação de
Áreas de Reserva Legal (ARL), Áreas de Proteção Permanente (APP) e
Áreas de Uso Restrito (AUR), assim como de seus coeficientes técnicos e
econômicos, necessários à execução dos projetos de adequação. O Projeto
Especial também apresentou como um de seus resultados a página especial
sobre o novo
Código Florestal, lançada em julho de 2016.
Pesquisa em rede por Bioma
O
trabalho de levantamento das informações que alimentam o WebAmbiente
envolveu diretamente oito unidades da Embrapa: Agrobiologia, Amazônia
Oriental, Cerrados, Clima Temperado, Informática Agropecuária, Meio
Ambiente, Pantanal e Semiárido. O trabalho começou pelo Cerrado, bioma
que serviu de modelo para os demais. “O método utilizado foi baseado em
revisão bibliográfica e workshops com especialistas. Utilizamos dados da
literatura específicos sobre plantas arbóreas que ocorrem no bioma
Cerrado. Essas informações foram então validadas nos workshops que
contaram com a participação de especialistas da Embrapa, Universidade de
Brasília (
UnB), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (
ICMBio),
além de viveiristas experientes”, explicou o pesquisador Felipe
Ribeiro. Além disso, também foram consultados banco de dados de
herbários com foco na Região Centro-Oeste.
As espécies foram
selecionadas a partir de informações relacionadas aos meses de coleta de
sementes, atributos botânicos (nome científico e vulgar, família,
sinonímia) e de tecnologia de sementes no que diz respeito à porcentagem
de germinação e beneficiamento. A classificação foi baseada nas
fitofisionomias do bioma Cerrado: florestais (Mata Ciliar, Mata de
Galeria, Mata Seca, Cerradão) e savânicas (Cerrado Denso, Cerrado
Típico, Cerrado Ralo, Cerrado Rupestre, Parque de Cerrado, Palmeiral e
Vereda). Por fim, as espécies também foram classificadas quanto a seus
agentes polinizadores e dispersores.
Pantanal
Já a lista das espécies recomendadas para recuperação de áreas do bioma Pantanal foi elaborada pela
Embrapa Pantanal em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (
UFMS).
Segundo a chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Unidade
pantaneira da Embrapa, Catia Urbanetz, os critérios para a seleção das
plantas mais adequadas a cada local foram a ocorrência (é preciso que
elas tenham existido na região anteriormente), abundância (espécies
raras são menos recomendadas) e a funcionalidade de cada uma.
“Temos
que nos perguntar, em primeiro lugar, como era esse ambiente que vai
ser restaurado. Era uma área de campo? Era inundável ou ficava em um
trecho mais alto? Nos dois casos, quais são as espécies mais indicadas
para enriquecer o ambiente e induzir à restauração? ”, questiona a
pesquisadora. O software oferece opções para a recuperação de três
formações vegetais (campestre, florestal e savânica) e nove
fitofisionomias do Pantanal: campo inundável, não inundável, de altitude
ou morraria, cerradão, mata semidecídua, mata seca ou decídua, mata
ripária, cerrado típico e chaco).
Mata Atlântica
A organização da lista de espécies para restauração ambiental na Mata Atlântica foi coordenada pela
Embrapa Agrobiologia
e contou com a colaboração de pesquisadores de outras unidades da
Empresa, além de profissionais de instituições parceiras com relevante
atuação no bioma. “Já havíamos feito um estudo no passado que resultou
na elaboração de uma lista preliminar de espécies florestais e seus
atributos funcionais, como a capacidade de fixação biológica de
nitrogênio e a atratividade de fauna silvestre. O objetivo era reunir
informações que auxiliassem na compreensão do papel ecológico de cada
espécie na restauração”, conta o pesquisador Luiz Fernando Duarte de
Moraes, que coordenou os esforços para a compilação das espécies
recomendadas para a Mata Atlântica.
Para a composição da relação
atual foram selecionadas mais de 130 espécies da lista inicial, às quais
foram acrescidas informações como fitofisionomias de ocorrência,
estratégia de estabelecimento, período de frutificação e desempenho no
campo. De acordo com o pesquisador, no que diz respeito à estratégia de
estabelecimento, as espécies foram divididas em duas categorias,
considerando a classificação adotada em outros projetos de restauração:
espécies que tendem a crescer mais rapidamente e acelerar a recomposição
da área (chamadas de espécies de recobrimento) e as indicadas para
aumentar a diversidade nas ações de restauração. “O acesso a essa lista
permitirá que técnicos e agricultores possam planejar adequadamente as
ações de restauração ambiental nas propriedades rurais”, salienta
Moraes.
Pampa
Se para alguns biomas a disponibilidade de
informações era grande, para outros, esse trabalho teve de ser iniciado
praticamente do zero. Foi o caso da lista de espécies relativas ao
Pampa, uma vez que ainda são escassas as informações sobre a restauração
ecológica desse bioma. “Há pouca pesquisa em restauração dentro do
bioma e, por isso, essa é considerada a primeira compilação de dados
sobre restauração ecológica do Pampa do Brasil. Acredito que não tenha
nada similar, nem no Uruguai e na Argentina", afirma o pesquisador
Ernestino Guarino, que atua na
Embrapa Clima Temperado (RS).
“A
imagem tradicional do Pampa são os campos, mas também ocorrem florestas
e savanas, que são importantes para o espaço. Então, temos indicações
de plantas para restaurar as diferentes formações vegetais do Pampa
disponíveis na ferramenta WebAmbiente”, afirma. Guarino destaca que o
sistema irá apresentar informações sobre 181 espécies ao todo,
fornecendo dados sobre época de floração, frutificação, melhor
estratégia para plantio, taxa de crescimento, como se comporta em cada
um dos ambientes e em quais regiões do bioma podem ser plantadas. Após a
divulgação das espécies, as próximas etapas preveem a realização de
capacitação de técnicos da assistência técnica e extensão rural. Os
principais parceiros envolvidos nesse trabalho são as universidades
Federais do Rio Grande do Sul e de Santa Maria, Embrapa Pecuária Sul
(Bagé, RS) e a Fundação Zoobotânica do RS.
Caatinga
O
trabalho relativo ao bioma Caatinga também envolveu uma instituição de
ensino e pesquisa. No caso, foi o Núcleo de Ecologia e Monitoramento
Ambiental, vinculado à Universidade Federal do Vale do São Francisco (
Univasf).
Foi compilada inicialmente uma lista com mais de 120 espécies. Entre
essas, foram selecionadas as 40 melhores destinadas à recuperação
ambiental, levando em conta critérios como porte, necessidades
nutricionais, tipos de solo, etc. Para cada uma delas, foram reunidas
informações diversas que auxiliam na compreensão do seu papel ecológico
na restauração. Também foram anexadas fotos de todas elas, para que a
espécie seja facilmente reconhecida pelo usuário.
De acordo com o pesquisador da
Embrapa Semiárido
Iêdo Bezerra Sá, “uma das características mais marcantes da Caatinga é a
resiliência que o bioma apresenta, ou seja, a capacidade de se
recuperar após um evento de estresse, como é o caso das secas
recorrentes na região ou intervenções do homem”. Para ele, essa
compilação de informações contribui para o conhecimento e entendimento
da dinâmica do bioma e de suas plantas, facilitando sua utilização pelos
agricultores, técnicos, engenheiros e demais interessados.
Amazônia
Por
fim, compõem a plataforma WebAmbiente para o bioma Amazônia cerca de
200 espécies, que vão desde as palmeiras nativas, como açaí, até
produtoras de madeira de alto valor econômico, como cedro e pau-rosa. A
pesquisadora Noemi Vianna, da
Embrapa Amazônia Oriental
(PA), explica que essas informações são resultado do cruzamento de
dados de inventários florestais de quatro áreas de estudo de
monitoramento da floresta (parcelas permanentes) e de onze áreas de
coletas de sementes espalhadas, principalmente, no estado do Pará.
“Nós analisamos dados do
Museu Paraense Emílio Goeldi,
que mostram que a Amazônia é dividida em áreas de endemismo, como
diziam os antigos botânicos, ou seja, o que ocorre aqui perto de Belém
não ocorre em Santarém ou em outra região. Algumas espécies, no entanto,
ocorrem em todas as áreas, que são as chamadas espécies plásticas. E
cruzamos essas informações à lista de espécies de inventários florestais
e de áreas de coleta de sementes de diferentes regiões do estado, então
conseguimos cobrir uma área bastante diversa”, detalha a pesquisadora.
O
trabalho resultou, inicialmente, em uma lista de 600 espécies com nome
científico, família, local de ocorrência, além de alguns dados sobre a
fenologia e principais usos. Após o refinamento das informações, a lista
final chegou a 211 espécies de diferentes usos, com informações que vão
desde a identificação detalhada da planta, área de ocorrência,
fenologia, até a produção de mudas, o plantio e a indicação de ações a
serem tomadas para recuperação de determinada área.
“Nós demos
uma atenção muito grande ao levantamento das espécies que podem ser
usadas para recomposição ambiental dos diferentes biomas. As usadas no
Cerrado são diferentes das usadas na Amazônia, que por sua vez diferem
daquelas do Semiárido. Foi feito um trabalho muito detalhado de
organizar todo o conhecimento dessas espécies com sistemas de busca que
permitem – por bioma, por fitogeografia – identificar todas aquelas
recomendadas pela pesquisa para a recuperação ambiental ”, afirmou o
presidente da
Embrapa, Maurício Lopes.