A 
Embrapa Caprinos e Ovinos
 lança, no próximo dia 5 de julho, em Fortaleza, o Centro de 
Inteligência e Mercado de Caprinos e Ovinos (CIM), uma plataforma 
digital que reúne informações estatísticas de rebanhos, produção de 
carne, leite e lã, estudos de cenários, tendências e projeções de 
mercado, além do levantamento de custos de produção. O objetivo é 
subsidiar o criador com informações valiosas, até então difíceis de 
serem acessadas ou encontradas, para o planejamento estratégico de sua 
produção. A ferramenta trará, ainda, um aplicativo com planilha para o 
produtor calcular custos e gerenciar sua produção.
 “A escassez de
 informações socioeconômicas sobre as cadeias produtivas de caprinos e 
ovinos coloca a Embrapa como referência na busca por esses dados pelos 
produtores e investidores”, explica o engenheiro agrônomo Cícero Lucena,
 da Embrapa Caprinos e Ovinos..
 A equipe de socioeconomia da 
Empresa utilizou a metodologia da Organização das Nações Unidas para a 
Alimentação e a Agricultura (
FAO),
 originalmente utilizada para trabalhar dados sobre o Brasil, 
adaptando-a para gerar informações por estado e por município. O CIM 
reúne informações estatísticas e de mercados sobre as cadeias produtivas
 de caprinos e ovinos, tais como o efetivo de rebanhos; produção de 
carne, leite e lã no Brasil e no mundo; volumes de exportações e 
importações; cotações da carne e do leite (preço médio pago ao produtor)
 e dos principais insumos do sistema de produção; custos de produção; 
número de estabelecimentos rurais (propriedades) e agroindustriais 
(abatedouros, frigoríficos e laticínios) especializados em produtos de 
origem caprina e ovina.
 A plataforma também vai prospectar, 
sistematizar e disponibilizar inovações tecnológicas, análises de 
cenários e tendências, análises mercadológicas e demais indicadores 
socioeconômicos, contribuindo para a tomada de decisões e planejamento 
estratégico e desenvolvimento territorial das cadeias produtivas de 
caprinos e ovinos. “De modo prático, o CIM pretende informar com 
agilidade e rapidez onde estão localizados os polos de produção de 
caprinos e ovinos; qual o potencial de produção de carne de ovinos e 
caprinos e de leite de cabra nessas regiões; qual o custo de produção; e
 os principais desafios tecnológicos e tendências para essas cadeias 
produtivas”, detalha Lucena.
 
Mapas por região e estado
Além
 dos estudos de mercados, cenários e tendências e do diagnóstico dos 
desafios tecnológicos, sistematizados e reunidos em uma plataforma 
online específica para as cadeias produtivas de caprinos e ovinos, o 
diferencial do CIM é a interface simples para o usuário realizar suas 
consultas e elaborar relatórios estatísticos dos rebanhos. Outro 
destaque é a disponibilização de mapas de distribuição do rebanho, 
utilizando grupos de concentração tais como 25%, 50% e 75%, auxiliando 
na rápida identificação dos polos de produção nos respectivos níveis 
territoriais consultados (Brasil, grande região e estado).
 “O 
que, certamente, preenche a maior lacuna de informações estatísticas 
para o setor produtivo é a estimativa potencial da produção de carne 
(ovina e caprina) e a estimativa potencial da produção de leite de cabra
 nos municípios brasileiros. Essas informações vão auxiliar no 
planejamento e no dimensionamento de empreendimentos, bem como na 
formulação de políticas públicas para as cadeias produtivas de caprinos e
 ovinos”, acredita Cícero Lucena.
 
Periodicidade e atualização das informações
As
 informações estatísticas sobre a produção nacional, como efetivo de 
rebanho, estimativa da produção de carne, leite e lã; e da mundial, 
efetivo de rebanho, produção de carne, leite e lã, exportações e 
importações, são, respectivamente, oriundas da Produção Pecuária 
Municipal (PPM) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (
IBGE) e da Divisão de Estatísticas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (
FAOSTAT).
 A
 atualização das informações que serão disponibilizadas pelo CIM sobre 
as estatísticas de rebanho está vinculada a essas publicações que, 
normalmente, têm periodicidade anual. Os dados sobre custos de produção e
 cotações de preços de produtos (preço do quilo vivo pago ao produtor) e
 sobre os principais insumos do sistema de produção deverão receber 
atualizações mensais, assim como a publicação de boletins técnicos.
 Para a operacionalização da plataforma, a Embrapa conta com a parceria do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (
Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (
Esalq/USP), da Confederação Nacional da Agricultura (
CNA),
 do Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de Inspeção Federal 
(SIG-SIF) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (
Mapa), da Central de Inteligência de Aves e Suínos (
CIAS) e do Centro de Inteligência do Leite (
CiLeite),
 além de cooperativas, associações e produtores. Essas parcerias 
contribuem para a ampliação da rede de colaboradores e informantes para a
 coleta de informações de mercado e apoio à divulgação do CIM junto aos 
diferentes atores do setor produtivo.
 
Planilha e aplicativo para cálculo de custos de produção
O
 Centro de Inteligência e Mercado de Caprinos e Ovinos (CIM) também vai 
disponibilizar aplicativos e planilhas que auxiliam na determinação dos 
custos de produção e da rentabilidade. Com essas ferramentas, os 
usuários poderão ter informações que permitam avaliar melhor o quadro 
financeiro de sua atividade agropecuária, a partir da inserção de dados 
sobre área da propriedade, rebanhos, atividades agropecuárias exercidas e
 as despesas mais recorrentes.
 De acordo com o pesquisador 
Klinger Magalhães, da Embrapa Caprinos e Ovinos, ao cruzar índices 
econômicos com zootécnicos, os produtores rurais poderão identificar, 
com mais facilidade, a existência de gargalos ou deficiências na 
produção agropecuária e, assim, tomar decisões de gestão. “Um produtor 
poderá observar o que está onerando a atividade, em áreas como 
alimentação ou sanidade e, ao cruzar os dados, identificar o que precisa
 ser feito: adotar tecnologias em alguma área, ou reduzir custos”, 
exemplifica ele.
 Na planilha ou no aplicativo, o usuário deverá 
registrar dados com os custos de infraestrutura, mão de obra, aquisição 
de alimentos e medicamentos para rebanhos. “É interessante que se 
registre tudo o que é usado na propriedade, como instalações e máquinas.
 Alguns investimentos podem se depreciar, outros envolvem fretes, 
impostos, taxas”, destaca Magalhães. As ferramentas também levantam 
indicadores zootécnicos, para maior precisão da realidade da 
propriedade. Assim, elas solicitam dados sobre rebanhos, atividades 
exercidas, produção de forragem e questões mais específicas, como os 
indicadores sobre partos, crias, pesos e taxas de natalidade e 
prolificidade nos rebanhos. A planilha traz dados mais detalhados, 
enquanto o aplicativo é uma versão simplificada do levantamento de 
custos, com dados agregados.
 A ideia da criação de ferramentas 
que possam facilitar os cálculos de produção e, assim, colaborar com a 
gestão da propriedade rural, surgiu a partir das experiências de painéis
 sobre custos de produção nas atividades de caprinocultura e 
ovinocultura realizadas no projeto Campo Futuro, parceria entre a CNA e a
 Embrapa. Em 2016 e 2017, foram realizados painéis envolvendo criadores,
 técnicos e representantes de instituições ligadas à atividade rural 
para analisar a realidade da produção de caprinos e ovinos em cinco 
estados: Bahia, Ceará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rio Grande do 
Sul.
 Naqueles encontros, uma planilha para mensurar custos de 
produção foi apresentada e discutida, servindo para traçar o perfil de 
propriedades rurais modais em cada região. A partir da discussão e 
aperfeiçoamento daquela planilha, chegou-se às ferramentas que serão 
lançadas no PecNordeste, como instrumento que, mais que simplesmente 
estimar custos, servem para auxiliar a gestão de propriedades rurais.
 
Mercado demanda Informações
De
 acordo com dados da Produção Pecuária Municipal (PPM) do IBGE, os 
rebanhos de caprinos e ovinos no Brasil apresentaram taxa positiva de 
crescimento, no período de 2007 a 2016. O efetivo de rebanho caprino 
passou de 9,45 milhões para 9,78 milhões de cabeças, o que corresponde a
 um aumento de 3,5%. Já o número de ovinos passou de 16,2 milhões para 
18,4 milhões de cabeças, apresentando um crescimento de 13,5%. Não 
obstante, o setor ainda carece de maior organização e formalização das 
atividades. Para o presidente da Associação Brasileira de Criadores de 
Ovinos (
Arco),
 Paulo Schwab, existe uma grande demanda por assistência técnica e os 
elos da cadeia produtiva estão soltos, além das atividades estarem 
desorganizadas.
 “No Brasil, 95% das atividades são feitas na 
informalidade, inclusive o abate dos animais. Mesmo no Rio Grande do 
Sul, onde a atividade é um pouco mais organizada, a informalidade chega a
 85%. É cada um fazendo por si”, afirma Schwab. Para ele, essa falta de 
organização também dificulta o acesso a informações importantes, como 
por exemplo as políticas de crédito agrícola destinadas à ovinocultura e
 à caprinocultura.
 
Gestão ainda é fator deficitário
“A 
gestão tem sido um fator deficitário em muitas cadeias produtivas. É 
preciso que o produtor tenha conhecimento da atividade agropecuária para
 fazer investimentos e incrementar sua renda”, ressalta o economista 
Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da CNA. Magalhães 
concorda, especialmente na realidade da caprinocultura e ovinocultura 
brasileiras: “Ainda são poucas pessoas que utilizam levantamento de 
custos, um público pequeno que mostra necessidade de melhor 
profissionalização nas cadeias. Nos painéis do Campo Futuro, alguns 
produtores se mostravam satisfeitos em perceber, com a planilha, onde 
estavam seus maiores problemas”.
 O pesquisador destaca ainda que 
futuramente a planilha passará a compor um sistema online, que 
proporcionará, também, o retorno de usuários com suas informações para 
alimentar um banco de dados da Embrapa. Assim, espera-se que a Empresa 
possa avançar na caracterização e mapeamento de realidades regionais na 
caprinocultura e ovinocultura.
 “Quando tivermos várias pessoas 
usando o sistema em diversas regiões do País, veremos questões não 
somente das propriedades individuais, mas elas estarão nos mostrando 
também cenários regionais. Assim, poderemos avaliar se o maior problema 
nos custos de uma região é uma questão de alimentação ou saúde dos 
rebanhos, por exemplo, e aí direcionar esforços para aumentar 
indicadores de produção”, diz Magalhães.