Agronegócio: precisamos debater comunicação como se debate mercado
Nestor Tipa Júnior*
Nós que vivemos estas andanças
acompanhando o agronegócio, sempre ouvimos um questionamento em relação à
imagem do setor perante à sociedade. Muitas vezes são veiculadas
informações sobre exceções que acabam sendo vendidas como regra. O
produtor que desmata, que polui, que envenena o alimento para obter
ganhos, o criador que explora e maltrata os animais. Há muita reclamação
de como o campo é tratado pela cidade. As "Fake News", tema da vez na
comunicação, já fazem parte da vida da agropecuária há muito tempo.
Um dos principais entraves que vejo,
neste período trabalhando e estudando a comunicação do agronegócio, é o
foco das organizações que compõem o setor, tanto empresas quanto
entidades, em falar com o "dentro da porteira". É extremamente
fundamental fazer este contato com o seu cliente, associado, acionista,
entre outros públicos, mas não podemos esquecer que é vital manter o
diálogo com o "fora da porteira". Digo isso porque a sociedade, com o
advento das mídias sociais e seu constante debate sobre a validade das
informações circuladas e discursos de ódio que vemos todos os dias
quando abrimos nossas mídias, tende a cada vez mais a apertar esse olhar
negativista contra o setor.
Mais do que nunca é preciso que o setor
rural se atente à comunicação como uma ferramenta estratégica de mudança
deste cenário, transforme sua linguagem e busque o diálogo sintonizado
especialmente com estas novas gerações formadoras de opinião dentro dos
círculos virtuais. É importante direcionar parte da sua comunicação para
que possa conversar com este público também que, influenciando com suas
opiniões que são dadas, muitas vezes por desconhecimento ou devido à
intervenção de movimentos ou grupos contrários ao agronegócio,
disseminam uma informação desconcertada e podem afetar inclusive o
pensamento de quem determina os rumos da nossa sociedade.
Hoje creio que o papel da comunicação
deve ser encarado por dirigentes e representantes das organizações no
mesmo tamanho em que se encara mercado, técnicas e inovações. As mesmas
devem prestar atenção no tema e levar a comunicação para o mesmo nível
de debate quando se fala de preços, custos, manejo e tecnologias. Vemos
diversos eventos falando sobre os mesmos temas com as mesmas pessoas
dando as mesmas receitas e pergunto: porque não incluir a comunicação na
sua pauta? Valorizar um debate sobre este tema como se valoriza um
debate sobre o mercado, sobre as dicas técnicas, entre outros que
existem dezenas de palestras que dão o mesmo tom.
Por outro lado, a mídia também precisa
ser sensível aos contrapontos feitos pelo setor quando o mesmo é
atacado. A própria mídia especializada, que debate o assunto em fóruns
fechados, pode começar a discutir a relevância e o papel da comunicação
como uma ferramenta estratégica para combater a forma que o agronegócio é
visto e tentar desmistificar alguns assuntos polêmicos. Em suma, o que
proponho aqui é que possamos discutir mais sobre a comunicação elevando
ao mesmo nível dos temas que são exaustivamente trabalhados pelas
organizações.
O desafio está lançado.
* Jornalista e especialista em
Marketing em Agribusiness. Quase 20 anos de carreira nos principais
veículos de comunicação do país, hoje é sócio diretor da AgroEffective
Comunicação e Agronegócio e responsável pelo canal Falando de Agro.
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