Raça Calindé
O "Calindé" que significa "tanga branca utilizada pelos escravos negros". Assim, a cabra preta com "tanga" clara, geralmente miúda, era destinada aos escravos, pois era vestida como um deles. Depois da Grande Seca de 1877, ocasião em que os rebanhos bovinos foram quase que totalmente exterminados, as cabras dessa pelagem foram encontradas em maior número no Vale do Rio Canindé, no Piauí, pouco se tendo notícia das mesmas em sua terra de origem, na Bahia. Ganharam uma cor avermelhada, no lugar do branco, algumas tornaram-se peludas.
O nome consolidou-se como Canindé, a partir de então. Já o nome "Canindé" significa "faca pontuda", usada principalmente no Sertão Cearence. Também pode significar as pedras ou lascas rochosas que servem para afiar lâminas ou peixeiras no sertão do Piauí. O rio Canindé provavelmente devia apresentar muitas rochas desse tipo e daí teria surgido o seu nome. Assim, o agrupamento técnico denominado Canindé não constitui uma raca, mas apenas uma variedade entre as Alpinas.
O Servico de Registro do Brasil não admite, até hoje, no Padrão Genealógico, todas as pelagens das alpinas e vem tentando homologar suas variedades, uma após a outra: Moxotó, Repartida, Marota, Canindé, etc. Esta distorção tem provocado um imenso desperdício do pa-trimônio brasileiro, no tocante ás pelagens não admitidas: branca, negra e policromada.
Recebendo contingentes representativos de todos os agrupamentos técnicos, oriundos de várias partes do mundo, o Brasil poderá homologar vários ecotipos de forma muito mais abrangentes
O apologista da raça é João Batista de Andrade, na Bahia, que conta com mais de 1.000 animais, tendo definido três tipos de variedade: a Canindé propriamente dita, a cabra de cabeça clara e as cabras negras retintas, todas oriundas dos mesmos cruzamentos.
A origem mais provável das cabras Calindés ( ou Canindés) é a Grisonne Negra, dos Alpes suiços. Alí, em altas montanhas, as cabras mantiveram a pureza genética por milênios. Ao descerem dos Alpes para as pradarías da França, formou-se a raça Poitevine, de pelos longos e coloração afogueada nas partes claras. A Poitevine é grande e leiteira. As vezes chega a arrastar os pelos no chão. Os ingleses levaram algumas cabras e, por seleção cuidadosa, fizeram a British Alpine, de pelo liso, membros brancos, muito produtivas. O Canindé já tem seu lugar no Brasil, por ser uma das variedades mais bonitas e, quando for selecionada para leite, terá seu lugar no mundo.
No final de 1999, tentaram introduzir no Ministério, um "Padrão da Cabra Canindé", atropela-damente, que seria muito melhor se consultasse a única origem que existe no Brasil. É preciso que se diga que "todas" as cabras "Canindés" ou "Calindés" criadas no Brasil saíram do rebanho de Joãozito Andrade que, somente agora, resolveu publicar o padrão racial. Espera-se que aquelas pessoas e entidades que apresentaram o padrão incorreto, agora estudem e apresentem o verdadeiro para o Ministério.
Histórico ? Filogeneticamente, a cabra Calindé tem sua origem no grupamento ilustrado pela Grisone Negra, da Suíça, de onde derivaram a "British Alpine" e a "Poitevine". Segregada no Nordeste brasileiro desde o período colonial, conforme bem o determina seu próprio nome, logrou consolidar um tipo específico no semi-árido.
Etimologicamente, a denominação "Calindé" deriva do nome da tanga branca, de algodão rústico, usada pelos escravos africanos, a qual recebia o nome de "Calindé". O negro escravo vestia sua "Calindé" da mesma maneira que essa cabra também vestia sua "Calindé", ou seja, ambos ostentavam a parte baixa do corpo em coloração branca, mantendo-se o restante negro. A cabra "Calindé", portanto, era a cabrinha do escravo alforriado.
Em meados do século XX, alguns historiadores confundiram as denominações "Canindé" e "Calindé" acreditando que as cabras recebiam o nome "Canindé" devido a região do rio Canindé, no Piauí, ou mesmo devido á "faca afiada" que o sertanejo piauiense sempre utilizou na cinta. De fato, naquela região foram encontrados alguns poucos animais negros de barriga vermelha. Não foram encontrados, todavia, registros de rebanho ou de proprietários de cabras de barriga vermelha ou branca, que justificassem a adoção do nome "Canindé" de forma ampla. Quanto a significação de "Canindé" como "peixeira" ou "faca afiada" é desprezível, dado o desvelo do sertanejo para com suas cabras.
Ademais, em excursões pela região de Mauá e periferias recolheu-se, profusamente, a expressão "Calindé" para indicar o tipo de pelagem da cabra negra com ventre branco, na década de 1990- deixando claro que a expressão está viva no idioma. Assim, pode-se afirmar que o primeiro trabalho de segregação, preservação e melhoramento das cabras "Calindé" foi o de João Batista de Andrade (Joãozito Andrade), da Fazenda Trindade, em Jeremoabo (BA), a quem deve ser creditado todo o serviço de fundação e consolidação da raça "Calindé".
Historicamente, João Batista de Andrade descobriu em feiras do sertão, em meados da década de 1970, algumas dessas cabras de ventre branco e pelagem totalmente negra luzidia, com o nome popular de "quatro-olhos", ou mesmo de "Calindé" - evidenciando que a denominação "Calindé" não havia se extinguido. A partir de poucos animais adquiridos esparsamente naquela região, Joãozito Andrade conseguiu formar um rebanho com mais de 5.000 exempIares (provas fotográficas nos arquivos de "O Berro"), tendo em vista consolidar linhagens para determinar o padrão correto das antigas cabras "Calindé" - por meio da prática de consangüinidade estreita. Entre os adquiridos havia animais de pelagem totalmente negra, com partes precisas de coloração branca, indicando ser a "Calindé" e outras,recolhidas na região dos antigos índios "Caimbé" com maior quantidade de partes brancas. Joãozito viu-se diante de duas linhas de trabalho de segregação e melhoramento.
No início da década de 1980 viajou para a Europa onde observou cabras de Portugal, França e Inglaterra, tendo verificado que as cabras "British Alpine" eram homólogas á variedade "Caimbé" que estava segregando. Dentro de pouco anos, a Emepa - Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba iria importar cabras "British Alpine", fazendo um contrato com Joãozito Andrade, recebendo dele dezenas de animais da linhagem "Caimbé", para desenvolver um trabalho de melhoramento das cabras nativas pelo uso intensivo de homólogas européias, seguindo a linha já utilizada por Manuel Dantas Vilar Filho, da Fazenda Carnaúba (Taperoá, PB) para regenerar as cabras pardas e brancas sertanejas. Joãozito Andrade, no entanto, em seu criatório, manteve sempre linhagens fechadas de "Caimbé", sem nenhum contato com as cabras "British Alpine".
No final da década de 1990, sem nunca ter introduzido qualquer animal de fora, considerou encerrada a fase de consolidação da cabra Calindé, depois de segregar também a variedade "Caimbé" e as variantes "negra" e "vermelha".
Desde 1995, Joãozito Andrade distribuiu e consolidou núcleos de criação em mais de 30 loca-lidades brasileiras e desenvolveu a aptidão leiteira das cabras Calindé, chegando a apresentar fêmeas com produção acima de 5,0 kg/dia (2 ordenhas) na fazenda. Pode-se afirmar, seguramente, que todos os núcleos brasileiros de criação de cabras Calindé tiveram origem no rebanho de Joãozito Andrade!
No ano 2000, as cabras Calindé já eram criadas na Bahia, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Sergipe e Pará - todas originárias do rebanho de Joãozito Andrade. Em l997 foi exportado um lote para a Malásia. Em 1999 foi enviado um lote de 600 animais para fundar um núcleo leiteiro em Lajes (RN).
As cabras da variedade "Caimbé" também tiveram origem na década de 1970, sem nenhum contato inicial com a raça "British Alpine". Pode-se afirmar, por isso que a variedade "Caimbé" já existia no Brasil antes que a Inglaterra tivesse homologado sua "British Alpine". As diferenças entre ambas são de algumas filigranas quanto aos chifres e quanto a aparência geral. O mérito e o registro das cabras Calindé, portanto, no Brasil, deve-se ao exclusivo trabalho pio-neiro de João Batista Andrade. O Padrão Racial por ele finalmente apresentado é o descrito a seguir.
Nas fêmeas, a cabeça é de tamanho médio, bem esculpida e feminina. Linhas faciais retas ou cavadas. Larga entre os olhos, estreita na marrafa e no focinho. Nos machos, a cabeça é cheia mas não grosseira. Olhos grandes e claros, sem serem salientes. Esclerótica castanha e íris preta. Arcadas orbitarias salientes. Orelhas eretas, estreitas e curtas, em forma de concha, direcionadas pa-ra a frente. Focinho largo. Narinas amplas.Lábios fortes, muito móveis e fechando corretamente. O chanfro é retilíneo, admitindo-se suave concavidade. Nos machos é sempre retilíneo. Fronte semiconvexa, com sulco vertical, paralelamente aos chifres. Os chifres são largos e achatados na base, seguindo paralelamente para cima até cerca da metade do percurso total, voltando-se leve-mente para fora. Admitem-se os chifres direcionados para trás em suave curva, desde a base da inserção. Nas fêmeas da variedade "Caimbé", os chifres são mais estreitos na base e apresentam ondulações. Nos machos, são largos e achatados na base, seguindo para cima e para trás, depois, acentuadamente, para fora. Barba bem desenvolvida no bode e menor na cabra, quando presente. Nas fêmeas, o pescoço é longo. e nos machos é curto com ou sem brincos sem barbela, suavemente ligado á cabeça e as espáduas. Nas fêmeas, as cruzes estão em nível com as ancas. Nos machos, apresentam-se acima da linha das ancas, naturalmente.
Ancas bem ligadas ao corpo e bem espaçadas entre si. Espáduas cheias e robustas. Peito largo, tórax profundo e largo entre os membros; grande perímetro torácico nos machos. O peito é de forma ogival nas fêmeas. Corpo longo, desde a ponta da espádua até a extremidade dos ísquios. Altura compatível com a profundidade corporal. A altura dos membros equivale á altura da caixa torácica. Costelas bem arqueadas e ventre profundo, amplo e firmemente sustentado. Dorso reto e forte. Coluna vertebral vigorosa.
Garupa longa e larga, e levemente inclinada, membros anteriores retos, braço poderoso, joelho forte, cana-da-perna robusta, quartelas Iongas e cascos fortes. Membros posteriores o com angulação correta, fortes, largos entre os jarretes, quartelas longas e cascos fortes. Úbere bem implantando, volumoso. Livre de carnosidade, flexível e de fina textura. Ligação posterior alta, podendo ser proeminente. Ligação anterior avançada, com metades iguais e suavemente unidas. Tetas simétricas, apontadas para baixo e levemente para diante. Tamanho médio. Bem implantadas e separadas. O tamanho e a aparência geral é ativa, vigorosa e rústica, mas não grosseira. Os pêlos nas fêmeas são macios, finos, brilhantes e relativamente curtos. Nos machos são mais grossos, brilhantes e menos curtos. A pele é fina e resistente.
A seguir descrição da pelagem da cabra Calindé, da cabra Caimbé e variedades:
- Calindé:
A cabeça é negra, com mancha branca, pequena ou maior, na região da garganta. Na face, uma faixa branca ("lágrima") estreita percorre a arcada orbitaria pelo lado lado interno (cranial), descendo até os lacrimais, ou pouco mais. Na orelha, os pêlos da parte externa são negros mas os da parte interna e dos bordos são claros. Focinho negro. A linha branca ventral tem início na base do peito, seguindo pelas axilas, passando pela região inguinal e pelas nádegas, chegando até a base da inserção da cauda, onde os pêlos das bordas inferiores são claros. Os membros dianteiros e traseiros são negros na frente e brancos atrás, com exceção para os joelhos que são brancos, tanto na frente como atrás. Os cascos são sempre negros. E normal que a cabra tenha uma pelagem total preta e vermelha, ao invés de preta e branca.
- Caimbé:
A faixa branca na face acompanha as arcadas, pelo lado interno (cranial) ou passa sobre os olhos, ou mesmo pela lateral facial, sendo larga ou estreita, podendo ser curta ou longa, chegando até o focinho. Na orelha, os pêlos são brancos, tanto na parte externa como na interna. O cartucho de inserção da orelha no crânio é de um branco mais vivo. A região da garganta é sempre negra. O focinho é branco. A parte ventral é sempre negra. A parte anterior dos membros dianteiros e traseiros é branca, tanto quanto a parte posterior. Os cascos são sempre claros Os produtos cruzados "Calindé/Caimbé" apresentam o ventre branco e detalhes mistos entre urna e outra pelagem, sendo agrupados como "Caimbé", mas nunca como "Calindé".
- Características eliminatórias:
Pêlos longos, orelhas longas, pendentes, chanfro convexo, chifres divergentes, politetia, pelagem totalmente negra, totalidade de pêlos negros no pavilhão auditivo, esclerótica de outra coloração que não a castanha com peso entre 35 e 40 kg, altura aproximada de 55cm.
- Características majestáticas:
Cabeça de tamanho médio e harmoniosa com o corpo, uma ou duas pequenas manchas, como um "toque" ao lado das faces, denominadas de "dedo de Deus". Extremidade dos chifres com leve torção para cima de coloração escura, nas fêmeas. Extremidade dos chifres com forte torção do lado interno (cranial) para baixo e alçando as pontas para cima, nos machos. A Garupa é inclinada e curta com ossatura forte, mas delicada; os cascos são medianos e escuros.
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