O algodão pode incrementar o agro brasileiro
                    
                    Por:
                        Amélio Dall’Agnol
                    
O agronegócio 
não para de surpreender positivamente o Brasil. Todos estamos cientes da
 exitosa trajetória da soja, iniciada na década de 1960 como uma tímida 
promessa de produção em escala e que hoje domina com folga a produção 
agrícola brasileira – em volume e em valor de mercado. E mais, promete 
continuar na liderança, dada a crescente demanda pelo produto comandada 
pela economia, cujo crescimento promove o consumo de soja, a principal 
matéria prima para a produção de carnes. 
Poderia esta trajetória repetir-se com 
outra cultura? Dificilmente, pois por trás da soja está a poderosa 
demanda por proteínas animais, gorduras vegetais e óleo para consumo 
doméstico e para biodiesel. Nenhuma outra cultura tem tamanha e tão 
diversificada demanda, embora o algodão também forneça óleo e farelo (de
 menor qualidade), além da fibra.
Igual acontece com a soja, onde a 
demanda maior é pelo farelo proteico, para o algodão a demanda principal
 é pela fibra, cuja necessidade para suprir a indústria de tecidos não 
se compara com a do farelo de soja. O mercado da fibra é muito mais 
limitado do que o da soja, razão pela qual esse mercado se satura 
facilmente, pois não se consome tanto algodão para produzir tecidos, 
quanto se consome soja para produzir carnes. 
O algodão foi uma lavoura muito 
importante no Brasil até início da década de 1970, quando o país 
cultivava cerca de 4,0 milhões de hectares (Mha) concentrados, 
majoritariamente, em pequenas propriedades da região sul do país. A 
colheita era manual e a produtividade muito baixa (200 kg/ha), cujo 
custo de produção não competia com a produção americana, chinesa ou 
australiana. Isso levou os cotonicultores a gradativamente abandonarem a
 cultura para dedicarem-se a outras lavouras, principalmente à soja. A 
queda da produção foi tão intensa que o Brasil precisou importar algodão
 na década de 1990, quando a cultura ainda não havia se estabelecido na 
região do Cerrado. O país chegou a figurar como 2º maior importador 
mundial. 
Com a atual área de algodão quatro vezes
 menor (1,2 Mha), quase integralmente cultivados no Cerrado onde disputa
 espaço como 2ª safra de verão com o milho safrinha, mesmo assim, em 
2018 o Brasil produziu quase quatro vezes mais pluma do que nos anos 70.
 Isto porque sua produtividade foi nove vezes maior (1.708 kg/ha), 
segundo dados da CONAB. Com a atual produção, o Brasil foi alçado à 
posição de 2º maior exportador mundial, atrás apenas dos EUA, que poderá
 ser superado dentro de uma década, se o Brasil mantiver o atual ritmo 
de crescimento da produção (10% ao ano).
As condições climáticas do Cerrado 
favorecem a qualidade da fibra do algodão brasileiro, que ganhou 
prestigio e preço no mercado internacional, e a lavoura ganhou escala e 
sofisticação tecnológica. Atualmente, a produção brasileira abastece com
 folga o mercado interno e exporta a pluma excedente para vários países 
asiáticos, igual acontece com os grãos de soja.
Como 2ª lavoura de verão após a soja, a 
janela de plantio do algodão é apertada, só sendo viável em áreas onde a
 soja é estabelecida muito cedo na primavera (setembro/início de 
outubro) utilizando cultivares precoces, o que possibilita sua colheita 
antes do final de janeiro, ainda dentro da janela recomendada para a 
semeadura do algodão. Eventualmente, quando o início das chuvas da 
primavera atrasam na região produtora de algodão – como aconteceu na 
safra passada - retardam o início da semeadura da soja o que inviabiliza
 o estabelecimento da lavoura de algodão até final de janeiro. Em tais 
circunstancias, áreas que seriam cultivadas com soja são trocadas pelo 
algodão 1ª safra, porque geralmente ele dá mais lucro do que a soja.   
Os países asiáticos estão concentrando 
cada vez mais a indústria da confecção porque dispõem de mão de obra 
abundante e barata e a indústria da confecção requer grande contingente 
de operários. Esta indústria começou na Inglaterra, migrou para os EUA, 
depois para o Japão e China e agora está constituindo um novo polo de 
produção: Indonésia, Bangladesh, Vietnam, Paquistão e Turquia, onde a 
demanda por pluma cresce acima de 10% ao ano.
É possível que a demanda pelo algodão 
brasileiro aumente com o crescimento da economia mundial, porque uma 
renda maior induz as pessoas a se vestirem melhor e consumirem mais 
fibras de algodão. 
O Brasil está entre os principais 
fornecedores de algodão para os mercados consumidores e preparado para 
atender uma maior demanda de mercado, se ela vier.
 
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