Pecuaristas da divisa dos Estados de Mato Grosso e Goiás desenvolveram uma nova raça de gado de corte, a araguaia, que carrega características genéticas de três origens diferentes: a francesa blond d’aquitaine ,a indiana nelore e a brasileira caracu.
Os animais são alimentados, prioritariamente, em pastagens que têm sombras naturais de árvores nativas. Além de reduzir os impactos ao meio ambiente, a seleção dá foco no bem-estar do gado. Resultado: a raça produz uma carne mais magra, considerada de alta qualidade e que pode ser rastreada pelo celular (leia no box mais abaixo).
A raça araguaia foi desenvolvida pelo pecuarista Raul Almeida Moraes Neto e pelo geneticista Gismar Silva Vieira na Fazenda Santa Rita, em Torixoréu (MT), que fica a 565 quilômetros da capital, Cuiabá.
O manejo é por meio do replantio de árvores nativas, que garantem sombras para o bem-estar animal. “Quando se promove o sombreamento e a regeneração das árvores, o solo também é beneficiado. As raízes o protegem de erosões e trazem os nutrientes da camada mais profunda para a parte da superfície”, afirma Raul.
Ele explica que o gado com o bem-estar tem maior ganho de peso e torna-se mais fértil. “Produz uma carne mais macia, saborosa e suculenta”, diz.
“A grande demanda hoje é por produtos sustentáveis, que contribuam para a sustentabilidade do planeta. A árvore e o pasto absorvem o carbono da atmosfera e ainda fornecem alimentos para pássaros e insetos. Então, além de tudo, contribuímos com a fauna e a flora local”, acrescenta.
Na Fazenda Santa Rita, onde atualmente são criadas mais de 1.200 cabeças de araguaia, a alimentação dos animais é baseada em pastagem e complementada com ração. A meta para 2019 é que sejam abatidas pelo menos 500 cabeças.
A nova raça agrega as principais características das três que a originaram. Da francesa blond d’aquitaine (47%) incorporou a alta conversão alimentar e a musculatura farta e bem distribuída; da caracu (28%) tem a rusticidade e a elevada produção de leite, proporcionando bezerros mais pesados na desmama; e do nelore (25%) herdou a capacidade para se adaptar ao clima seco e de altas temperaturas típico do Cerrado.
Em 2013, a araguaia teve seu registro concedido pela Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ).
MENOS GORDURA
A expectativa é que, em outubro deste ano, seja inaugurada a estação de monta para viabilizar a venda de sêmen e disseminar a araguaia para outros Estados.
Guilherme Nogueira, sócio-proprietário da Origem Premium, empresa que comercializa a proteína em São Paulo, explica que os resultados do manejo sustentável podem ser percebidos na mesa do consumidor: a carne da raça araguaia tem 30% menos gordura intrínseca, uma exigência crescente no mercado de produtos de alta qualidade e com maior valor agregado.
Os animais podem ser rastreados via celular para certificar a procedência da carne por meio do chamado QR Code. É possível checar informações sobre a fazenda onde o gado foi criado no Estado mato-grossense até o frigorífico Cowpig, em Itupeva (SP), local de abate. “Pelo celular, o consumidor tem a garantia de que está adquirindo uma carne de animal que não é de confinamento. O bem-estar animal faz toda diferença”, afirma Guilherme.
O PEQUENO NOTÁVEL
Gado punganur, que atinge 1 metro de altura quando adulto, obtém primeiro registro na ABCZ
A 85ª edição da ExpoZebu de Uberaba entrou para a história por fazer o registro dos primeiros animais da raça punganur pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), promotora do evento, no mês passado.
Foram registrados dez exemplares. Essa raça zebuína é caracterizada por pelagem e rusticidade muito semelhantes às da raça nelore, mas possui como caráter dominante o porte menor mesmo depois de adulto. A raça, normalmente, não passa de 1 metro de altura.
“A ABCZ vai incluir o punganur no Programa de Melhoramento Genético do Gado Zebu e, com certeza, incentivar os criadores a investir no melhoramento genético dessa raça”, disse o presidente da entidade, Arnaldo Manoel Machado Borges.
Os primeiros animais foram trazidos da Índia para o Brasil na década de 1960. “O peso final não ultrapassa os 400 quilos no caso dos machos e os 300, no caso das fêmeas. Além disso, os animais têm pelagem branca e cinza, cascos fortes e não há variedade mocha”, diz o superintendente técnico da ABCZ, Luiz Antônio Josahkian.
O procedimento de registro foi autorizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em 2015, depois de aprovado pelo Conselho Deliberativo Técnico da ABCZ.
A raça chegou ao Brasil em 1962.
A raça chegou ao Brasil em 1962.
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