Países se mobilizam contra exportação de animais vivos
A maioria dos países contrários à exportação de gado vivo está na Europa
Pelo terceiro 
ano consecutivo, um movimento internacional, liderado pela organização 
não governamental (ONG) Compassion in World Farming, mobiliza a 
população mundial em torno do Dia Internacional contra a Exportação de 
Gado Vivo, celebrado amanhã (14), com o objetivo de conscientizar as 
pessoas sobre o sofrimento dos animais que são exportados vivos para 
abate em outros mercados.
O movimento foi iniciado em 2017 e contou 
com 30 países participantes. O Brasil aderiu no ano passado, quando a 
mobilização envolveu 33 nações. Este ano, 41 países farão manifestações.
 No Brasil, elas começaram hoje (13) e se estenderão até o próximo dia 
16, coordenadas pelo Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, em 
conjunto com organizações de diversas cidades. Ao todo, 12 cidades 
brasileiras participam do movimento global.
Falando à Agência Brasil, a diretora de 
Educação do Fórum, geógrafa Elizabeth MacGregor, disse que embora 
existam leis que determinem tratamento humanitário para o transporte de 
gado vivo, "a questão do bem-estar animal é zero". Destacou que para o 
país, essa exportação é ruim economicamente, porque representa apenas 1%
 de tudo que é produzido em termos de pecuária para consumo humano. 
Lembrou que todos os países importadores importam também carne embalada.
Riqueza x emprego
Além disso, como a exportação de gado vivo
 não é taxada, ela não gera riqueza para o país. "O couro vai de graça" 
para o importador, o que desagrada a indústria coureira brasileira. A 
operação não gera emprego no Brasil, mas nos países compradores, como 
Turquia e Líbano, onde o abate também não é humanitário, acentuou 
Elizabeth.
"Ambientalmente é péssimo", observou. Os 
animais costumam ser transportados em navios reformados ou adaptados, de
 péssima qualidade, sem as mínimas condições de higiene, sem alimentação
 e hidratação adequadas, sem assistência veterinária, sujeitos a 
intempéries climatológicas, com urina e fezes provocando proliferação de
 doenças. "Vão cheios de outras substâncias que afetam o meio ambiente".
O Fórum Nacional de Proteção e Defesa 
Animal explica que esse comércio não é bom para o Brasil, "tanto na 
questão econômica, como na questão da imagem do país que, no momento, 
parece estar sendo deixada de lado", enfatizou a diretora. Na avaliação 
da ONG nacional, a questão é econômica. Em 2018, foram mais de 700 mil 
animais exportados vivos, segundo dados do Ministério da Indústria, 
Comércio Exterior e Serviços. A operação gerou receita de US$ 470 
milhões para o Brasil, mas isso representa apenas 7% da receita 
proveniente da exportação de carne e derivados, superior a US$ 6 bilhões
 anuais.
Conhecimento
A maioria dos países contrários à 
exportação de gado vivo está na Europa. A razão para isso é o 
conhecimento, assinalou Elizabeth MacGregor. A ciência diz que todos os 
vertebrados são seres sencientes, isto é, têm capacidade emocional para 
sentir dor. "Têm capacidade cognitiva, então raciocinam, têm sentimentos
 e desde a década de 1970, a ciência do bem-estar animal usa parâmetros 
científicos e objetivos para analisar tecnicamente como os animais estão
 sendo tratados". Observou que esse conhecimento ainda é heterogêneo, 
"como tudo no mundo". A diretora informou que os 41 países que 
participam do movimento estão localizados em todos os continentes. "O 
movimento é global mesmo". Na Europa, por exemplo, defendem a diminuição
 do número de horas que os animais levem no transporte terrestre, 
inclusive. "Mas o pior é essa exportação", acentuou Elizabeth.
O movimento foi iniciado em 2017, em 
Londres, pela ONG 'Compassion in World Farming'. O evento reuniu 600 
pessoas e contou com a parceria da ONG 'World Wide Fund for Nature' 
(WWF), do Banco Mundial (BIRD) e da Organização Mundial da Saúde Animal 
(OIE). Essas organizações consideram a pecuária a atividade humana que 
maior impacto causa ao meio ambiente, desde o desmatamento até questões 
como poluição de mares, lagos, oceanos. A flatulência dos bovinos é gás 
metano, salientou a diretora do Fórum.
Relatórios e resultados confirmam essa 
afirmação, afiançou Elizabeth MacGregor. "Tem todo um embasamento 
técnico e de órgãos internacionais, não só de ONGs". Completou que a 
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) 
já sinaliza para o impacto da pecuária no meio ambiente. "O Brasil tem 
mais boi do que gente", afirmou. Segundo a diretora, a questão "é 
seríssima em todo o mundo".
A médica veterinária Vânia Nunes, diretora
 técnica do Fórum Animal, salientou que a condição de maus-tratos começa
 no transporte das fazendas para o porto, "já extremamente estressante 
para os animais". As viagens pelo mar duram semanas até o Oriente Médio e
 não oferecem mínimas condições que garantam o bem-estar do gado, 
confirmou. Devido a essas péssimas condições de transporte, muitos 
animais não resistem à viagem e as carcaças são jogadas no mar, 
juntamente com toneladas de fezes e urina produzidas diariamente, o que 
contribui para ampliar a poluição no meio ambiente.
Hoje (13), estão sendo realizadas 
manifestações em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Amanhã 
(14), estão programados movimentos em Brasília, Salvador e Sorocaba 
(SP), seguindo-se, no sábado (15), Curitiba, Porto Alegre, Belém e 
Indaiatuba (SP). A mobilização no Brasil será encerrada no domingo (16),
 em Lajeado (RS).
 
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