Um voo de galinha (?) (I)
No jargão 
econômico “voo de galinha” ocorre quando uma economia inicia um processo
 de recuperação, porém, por falta de condições estruturais não consegue 
ir muito longe e, pouco tempo depois, volta a recuar ou, na melhor das 
hipóteses, estagna em patamares baixos. A economia brasileira, neste 
momento, corre este risco.
Após uma profunda recessão, iniciamos 
uma lenta recuperação que poderá se cristalizar em um PIB positivo entre
 0,5% e 0,7% em 2017. Alguns elementos conjunturais, a partir da 
consolidação de uma equipe econômica eficiente, começam a aparecer: 
inflação anualizada em 2,5% (abaixo do piso da meta); balança comercial 
superavitária, podendo chegar a um saldo superior a US$ 65 bilhões no 
corrente ano (recorde histórico); déficit das contas externas menor 
(projeção de US$ 24 bilhões para 2017, após US$ 104,1 bilhões em 2014); 
juro básico em queda (atualmente 8,25% aa, contra 14,25% um ano antes); 
desemprego ainda elevado, porém, em recuo; Investimentos Externos 
Diretos podendo chegar a um recorde superior a US$ 70 bilhões em 2017; e
 câmbio estável entre R$ 3,10 e R$ 3,20 por dólar há muito tempo.
Sem entrar na qualificação destes 
resultados, pois alguns deles não são consistentes, o que mais interessa
 no momento é destacar que os mesmos ajudam na recuperação econômica, 
porém, não oferecem suporte para que tal processo tenha duração. Há um 
claro sentimento de que deveremos crescer um pouco mais em 2018 (talvez 
chegando entre 1,5% a 2% de PIB), desde que a atual equipe econômica 
seja mantida.
Após, 
estaremos na encruzilhada das eleições presidenciais. Em as urnas 
indicando um governo em linha com o desenvolvimentismo irresponsável, é 
provável que a recuperação já se esgote no ano seguinte. Em caso 
contrário, ainda haveria fôlego para o país crescer, talvez, até 2020. 
Depois disso, somente com fortes ajustes estruturais, ou seja, com a 
efetiva realização das reformas, desde que feitas com qualidade e 
profundidade.
Dito de outra maneira, qualquer que seja
 o cenário político nacional, sem as reformas estruturais o crescimento 
econômico nacional, que agora se retoma, poderá se caracterizar como um 
“voo de galinha”. Por quê? Porque o elemento central de nossa crise está
 na ausência de um ajuste fiscal eficiente de nossas contas públicas. 
Todos os demais pontos positivos citados acima são consequências deste 
aspecto.
Ora, infelizmente neste quesito a equipe
 econômica vem fracassando, superada pelos interesses políticos e 
imediatistas dos diferentes poderes da República. A revisão para cima, 
em julho, do déficit primário para este e os próximos anos, após um 
pacote econômico arrecadatório em março, confirma tal cenário. Os 
detalhes e desafios de tal realidade veremos no próximo comentário. 
(segue) 
 
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