Novos zoneamentos do sorgo granífero e do milheto orientam produção agrícola
O milheto é o sexto cereal mais cultivado no planeta
O Zarc indica os períodos de menor risco para o plantio. As duas culturas são alternativas para sistemas agrícolas em sucessão.
Foram publicadas no Diário Oficial da União desta sexta-feira (23) as Portarias de 303 a 350 com o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), ano-safra 2020/2021, para o cultivo do sorgo granífero e do milheto.
O
Zarc tem o objetivo de indicar períodos de menor risco para o plantio,
reduzindo a probabilidade de ocorrerem problemas relacionados a eventos
climáticos não desejáveis. Dessa forma, permite ao produtor identificar a
melhor época para plantar, levando em conta a região do país, a cultura
e os diferentes tipos de solos.
O atual zoneamento agrícola de
risco climático para o sorgo passou por grandes alterações. “Uma mudança
fundamental foi a geração do Zarc específico para o sorgo granífero”,
diz o pesquisador Daniel Pereira Guimarães, da Embrapa Milho e Sorgo. A
partir de 2021 será disponibilizado o Zarc para o sorgo forrageiro, que
estará direcionado principalmente para a fabricação de forragem para a
produção animal, tanto na forma de pastejo como silagem.
Outra
importante inovação nos estudos do zoneamento refere-se ao uso de
coeficientes de cultura, que são indicadores da demanda hídrica ao longo
das fases de crescimento, incorporando as características de tolerância
à seca e permitindo que as áreas de risco sejam coerentes com os
sistemas de produção usados nas diferentes regiões brasileiras.
A
inclusão de faixas de temperatura adequadas para o desenvolvimento dos
cultivos contribui para evitar a baixa produtividade em locais de baixas
temperaturas, em função da sensibilidade térmica do sorgo granífero e
do milheto. “O uso de excesso de água como fator limitante ao
crescimento do sorgo granífero e do milheto contribui para os riscos de
perdas ocasionadas pela intolerância ao encharcamento do solo e para o
impedimento do cultivo em condições propícias ao surgimento de doenças,
favorecendo também a maior longevidade das cultivares lançadas no
mercado de sementes”, explica Guimarães, que é responsável pelo Zarc das
duas culturas no Brasil.
Por serem culturas que apresentam
características de tolerância à seca e boa adaptabilidade, todos os
Estados brasileiros foram contemplados com portarias de Zarc de sorgo e
milheto.
Saiba como funciona o ZARC
Zarc
Os
agricultores que seguem as recomendações do Zarc estão menos sujeitos
aos riscos climáticos e poderão ser beneficiados pelo Programa de
Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e pelo Programa de
Subvenção ao prêmio do Seguro Rural (PSR). Nestes dois programas é
obrigatório seguir as recomendações do Zarc.
Muitos agentes
financeiros só permitem o acesso ao crédito rural para cultivos em áreas
zoneadas e para o plantio de cultivares indicadas nas portarias de
zoneamento.
Ouça o áudio do Mapacast que explica o funcionamento e importância do zoneamento Sorgo e Milheto
Aplicativo Plantio Certo
Produtores rurais e outros agentes do agronegócio podem acessar através de tablets e smartphones,
de forma mais prática, as informações oficiais do Zarc, facilitando a
orientação quanto aos programas de política agrícola do governo federal.
O aplicativo móvel Zarc Plantio Certo, desenvolvido pela Embrapa
Informática Agropecuária (Campinas/SP), está disponível nas lojas de
aplicativos: iOS e Android.
Os resultados do Zarc também podem ser consultados e baixados por meio da plataforma Painel de Indicação de Riscos.
Sorgo e Milheto
O sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench),
de origem africana, é o quinto cereal mais cultivado no globo e é
adaptado às condições de altas temperaturas e baixa disponibilidade
hídrica.
Segundo Guimarães, esse cultivo tem importante papel na
expansão da produção de grãos no País, em função da adaptabilidade às
regiões semiáridas e da possibilidade de produção de uma segunda safra
em áreas inaptas para a tradicional dobradinha soja-milho.
Outra
característica que favorece a expansão do sorgo, descrita pelo
pesquisador, é o cultivo em segunda safra em decorrência da redução das
janelas de cultivo. Essa redução é causada pelas variações climáticas ou
pelo uso de materiais de ciclo tardio na primeira safra, como
estratégia de mitigação das perdas pela ocorrência de veranicos. “Para
fins comparativos, o sorgo necessita de 330 litros de água para a
produção de 1 kg de matéria seca, enquanto o milho e o trigo requerem
370 e 500 litros de água nessa função, respectivamente”, diz Guimarães.
“Além
do ajuste dessa cultura às condições brasileiras, vários fatores
contribuem para a expansão do cultivo do sorgo no País, como a ampla
adaptação às condições climáticas, o menor requerimento hídrico, a
tolerância à presença de alumínio em solos ácidos, o cultivo totalmente
mecanizável e o baixo custo de produção. O sorgo ainda contribui para a
redução da infestação de nematoides no solo, produz rações de alta
qualidade proteica e livres de toxinas e ajuda na formação de palhada de
proteção do solo”, pontua Guimarães.
Já o milheto (Pennisetum glaucum (L.) R.BR)
é o sexto cereal mais cultivado no planeta. “O cultivo do milheto está
relacionado à proteção dos solos e à alimentação animal e hoje ocupa 4
milhões de hectares como planta de cobertura, apenas na região dos
Cerrados, prestando extraordinária contribuição para a sustentabilidade
da agricultura tropical”, afirma Guimarães.
“A alta incidência de
radiação solar nos períodos de estiagem interfere na conservação da
água nos solos, na mineralização da matéria orgânica, nas perdas de
nutrientes pela ação dos ventos, na formação de ilhas de calor, no
aumento da suscetibilidade à erosão, na redução da biota do solo e em
outros danos ambientais”, enumera o pesquisador.
Outro fator
relevante é a alta relação C/N (carbono/nitrogênio) da palhada do
milheto, que garante uma maior proteção dos solos e contribui para a
supressão das plantas daninhas, reduzindo o uso de herbicidas na
lavoura. “O sistema radicular profundo melhora o perfil do solo,
facilita a infiltração da água e a descompactação dos solos, além de
reciclar os nutrientes das camadas mais profundas. As raízes do milheto
são más hospedeiras e atuam na redução da infestação de nematoides nos
solos”, explica Guimarães.
“Já os custos de produção são baixos, e
a implantação pode ser feita por sobressemeadura, inclusive de avião,
garantindo o melhor aproveitamento da umidade do solo. Seu uso como
planta produtora de forragem para a alimentação animal traz vantagens
comparativas em razão da baixa exigência nutricional, adaptação a solos
de textura arenosa, alta tolerância à seca e a altas temperaturas,
pastejo direto ou na forma de silagem e alta qualidade nutricional”,
pontua Guimarães.