O gargalo do agronegócio no Brasil
Ricardo Makcemiuk
Se a economia brasileira não teve uma
recessão pior em 2016 e crescerá um pouco em 2017, isso se deve ao
agronegócio. É um ramo promissor, que cresce ano após ano e contribui
consideravelmente para o PIB. Tanto isso é verdade que o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em sua última estimativa,
projetou aumento de 31,3% de produção de grãos em relação ano passado.
Outras atividades – como suinocultura, bovinocultura e avicultura –
também contam com um prognóstico de expansão. São décadas de estudo,
investimento em tecnologia e gestão, que geraram a ampliação da
produtividade e a redução dos custos de produção.
Esse case de sucesso do Brasil é
reconhecido mundo afora. Foi construído mesmo com um sistema tributário
voraz, agências fiscalizadoras e reguladoras que atuam com mão de ferro e
elevado valor do combustível. E enfrentando o mais oneroso gargalo de
todos para o setor: a logística. Cada região tem suas peculiaridades,
porém, olhando o país como um todo, o escoamento impacta em torno de 26%
no custo final do produto. É quase o triplo do que é gasto nas nações
europeias. Para se ter em mente: o lucro líquido da venda de grãos é de
aproximadamente 10%, considerando a produção em larga escala.
O alto custo logístico se deve à
infraestrutura precária e à ampla utilização do modal rodoviária, em vez
do ferroviário ou hidroviário – que são mais baratos para o transporte.
O investimento deficitário feito pelo governo em rodovias e portos
também é ponto uníssono entre empresas, associações, corporações,
cooperativas e produtores.
Além de
todos esses fatores, que já representam grandes desafios para a evolução
do faturamento de quem está ligado ao agronegócio, outro tema
importante são os riscos da terceirização do transporte de cargas. Por
um lado, a empresa se beneficia com a diminuição das despesas. Por
outro, fica à mercê de eventuais problemas no escoamento de sua
produção, gerados por prestadores de serviços.
Não é raro que a empresa de transporte
contratada repasse o frete ao motorista autônomo, configurando clara
quarteirização. E é nesse lastro que o problema se agrava devido às
imposições e aos regramentos da Lei 11.442/2007, que dispõe sobre o
transporte rodoviário de cargas. Um exemplo: demora acima de cinco horas
no descarregamento do produto tem gerado milhares de demandas
judiciais, propostas por motoristas, com pedidos de indenização. O fato é
que os riscos de terceirização do transporte da carga podem ser
consideravelmente minorados a partir da elaboração de contratos
específicos, por profissional que entenda da legislação e das
jurisprudências relacionadas à logística no agronegócio.
Apesar de todo o desafio logístico, a
grande verdade é que o agronegócio é o “Santo Graal” brasileiro. E
poderia aumentar ainda mais sua condição de destaque no PIB do nosso
país se o governo investisse de forma responsável na infraestrutura,
para o escoamento adequado da produção.
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