Apreensões de Agrotóxicos Ilegais
Por Claudio Spadotto, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e gerente geral da Embrapa Gestão Territorial. 
Cada agrotóxico, como produto comercial,
 é formulado com um ou mais produtos técnicos que, por sua vez, tem alta
 concentração de um ingrediente ativo e alguma quantidade de impurezas.
Para se obter um agrotóxico a ser usado 
nas lavouras é intencionalmente acrescentado outros componentes na 
formulação, para melhorar as caraterísticas do produto final. Também 
podem existir componentes “não intencionais” ou “contaminantes” nas 
formulações. Os cuidados nos processos de síntese e de formulação 
garantem a qualidade e a segurança do produto técnico e do agrotóxico 
formulado. Nos agrotóxicos ilegais esses cuidados não são assegurados.
Assim, o uso de agrotóxicos ilegais pode
 trazer grandes consequências adversas à fauna, flora e aos 
ecossistemas, além de intoxicar trabalhadores, produtores e moradores 
rurais, contaminar alimentos e água de abastecimento e afetar a saúde da
 população.
Os efeitos econômicos negativos do uso 
de um agrotóxico ilegal podem ser significativos, pois a eficácia 
agronômica pode ser menor que a esperada, não controlando efetivamente a
 praga, doença ou planta infestante, além de poder causar toxicidade às 
plantas cultivadas e comprometer a lavoura.
Em 2016 
houve uma apreensão realizada pela Polícia Civil de Medianeira, no 
Paraná, de carga descrita inicialmente como “substância granulada não 
identificada”. Amostra do produto apreendido foi enviada ao Instituto de
 Tecnologia do Paraná - TECPAR, para análise. O resultado mostrou 
surpreendentemente que 25 ingredientes ativos de agrotóxicos, de 
diferentes grupos químicos e classes de uso, estavam presentes. Havia 
inseticidas, acaricidas, formicidas, cupinicidas, fungicidas, e um 
regulador de crescimento e um herbicida no mesmo produto apreendido. 
Diante disso, pode-se antecipar que no uso desse agrotóxico ilegal a 
eficácia agronômica estaria comprometida, além dos perigos à saúde 
humana e ao meio ambiente.
Dado o grande número de ingredientes 
ativos, suas possíveis interações químicas são imprevisíveis. Essa 
situação é ainda mais perigosa se considerarmos também as interações 
envolvendo as impurezas e os outros componentes da formulação.
Um levantamento realizado como parte de 
uma dissertação de mestrado na Universidade de Brasília – UnB mostrou 
que, enquanto em 2008 foram redigidos 126 laudos pela Polícia Federal 
envolvendo agrotóxicos, em 2009 o total foi 150 laudos, representando um
 incremento de 19% em um ano. Em 10% dos agrotóxicos ilegais apreendidos
 não havia nenhuma identificação do que continham.
Na mesma dissertação, os resultados das 
análises químicas de agrotóxicos ilegais evidenciaram algumas amostras 
líquidas muito diluídas e amostras sólidas com concentrações do 
ingrediente ativo acima de qualquer produto formulado registrado no 
Brasil.
Conforme observado na dissertação, as 
divergências entre as concentrações desses ingredientes ativos nos 
agrotóxicos ilegais e nos devidamente registrados são preocupantes.
 
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