O ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Afonso Florence,  assinou hoje (11), em Cuba, um protocolo do Projeto de Cooperação  Técnica (PCT) e formalizou, com isso, um acordo Brasil – Cuba para que o  país caribenho adquira segurança alimentar e alcance, até 2015, metas  de produção de alimentos que o torne autossuficiente com base na  produção da agricultura familiar.    
O acordo prevê investimentos de US$ 200 milhões,  entre 2012 e 2015,  no país caribenho. O valor, contudo, ainda será  aprovado pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) do Ministério do  Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), mas o governo  cubano já adiantou um pedido ao Brasil de um primeiro crédito para 2012  no valor de US$ 70 milhões.    
Na passagem rápida por Havana, Florence participou  de três reuniões que precederam à solenidade de assinatura do protocolo e  se encontrou com os ministros do Comércio Exterior e Investimentos  Estrangeiros, Rodrigo Malmierca; da Agricultura, Gustavo Rodrigues; e  com vice-presidente do Conselho de Ministros, Ricardo Carbrisas. O  ministro brasileiro reuniu-se também com o presidente da Associação  Nacional de Pequenos Agricultores (ANAP – sigla em espanhol), Orlando  Lugo Fontes.    
A equipe técnica do MDA que, sob o comando do chefe  da Assessoria Internacional do ministério, Francesco Pierri, está em  Cuba desde o fim de semana passado, visitou áreas de assentamentos que  foram criadas em 2008, depois que o governo cubano aprovou o Decreto-Lei  259/08. Esse decreto, segundo Francesco Pierri, possibilitou a  redistribuição de 1,8 mil hectares de terras improdutivas, destinando-as  agora a 168 mil novos produtores rurais, dos quais a maioria é jovem.    
“O Mais Alimentos Cuba vai proporcionar a esses  agricultores a aquisição de equipamentos ”, disse o chefe da Assessoria  Internacional do MDA. Segundo ele, o foco do Mais Alimentos Cuba será na  produção de grãos (milho, arroz, feijão, soja e sorgo) e na criação de  gado para leite e corte. “Essa produção será feita basicamente por meio  de cooperativas. “Todos esses novos agricultores estão se associando a  cooperativas para poder participarem do projeto”, informou Pierri.    
Nesta ida a Cuba, ficou  acertado que o MDA vai prestar serviços de assistência técnica, o que  prevê oito visitas de técnicos do ministério ao país. “O MDA vai prestar  uma grande contribuição a Cuba ao garantir assistência técnica e  repasse de equipamentos”, garantiu. Pierre disse ainda que o governo  cubano planeja, com esse acordo, atingir, até 2015, 100% da produção que  tem hoje em grãos.    
Os pilares – O Mais  Alimentos Cuba é um programa de políticas públicas que envolve  cooperação que vai desde assistência técnica até fornecimento de  máquinas e equipamentos agropecuários para fortalecer a agricultura  familiar. Cuba é o primeiro país fora do continente africano a solicitar  essa cooperação nos moldes do Mais Alimentos África para aprimorar o  setor.    
O coordenador de  Cooperação Internacional do MDA, Sávio da Silva Costa, disse que o  governo cubano deseja se beneficiar da mesma modalidade de cooperação  que o Brasil levou para a África: um financiamento abonado pela Câmara  de Comércio Exterior (Camex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria  e Comércio Exterior (MDIC). No caso da África, o aporte foi de US$ 640  milhões, dos quais US$ 240 milhões para 2011 e US$ 400 milhões, para  2012.    
O Brasil assinou  Projeto de Cooperação Técnica (PCT) com Gana e Zimbabue, e há  negociações em andamento para o estabelecimento desse acordo com outros  países africanos. O plano para a África foi organizado sobre três  pilares: o primeiro é o próprio PCT internacional como instrumento de  viabilização do pacote de políticas públicas e de transferência de  conhecimento. O segundo é o custeio de maquinário e equipamentos  agrícolas estruturado por estas políticas, porque não se trata de  provisão de recursos financeiros puramente.    
“Vale destacar que essa  linha de financiamento está dentro do Proex (Programa de Apoio à  Exportação), da Camex, que tem como agente operador o Banco do Brasil, e  se insere na modalidade chamada Buyer's Credit – um financiamento  Estado a Estado”, explica Sávio Costa. Trata-se de um crédito de  natureza solidária com condições de financiamento especiais aprovadas  pela Camex.    
O terceiro pilar que  sustenta o acordo assinado hoje é a relação com a indústria nacional. O  MDA negocia os melhores preços e condições pós-venda para as máquinas e  equipamentos agrícolas com a Associação Nacional dos Fabricantes de  Veículos Automotores (Anfavea), a Associação Brasileira de Máquinas e  Equipamentos (Abimaq) e o Sindicato das Indústrias de Máquinas e  Implementos Agrícola no Rio Grande do Sul (Simers), que representam as  mais de 300 empresas de maquinários, equipamentos e implementos  agrícolas do País.    
O financiamento – O  Programa Mais Alimentos é um tipo de financiamento para a agricultura  familiar implantado no Brasil em 2008. Ele teve tanto sucesso que serviu  de inspiração para a criação do Mais Alimentos África, por meio da  Portaria nº 72 do MDA, viabilizando resposta do governo do Brasil para  atender às demandas dos países africanos. A partir de março deste ano, o  governo brasileiro iniciou efetivamente a materialização do programa na  África.    
No Brasil, o Mais  Alimentos foi um dos programas que colaboraram para retirar da extrema  pobreza cerca de 4,8 milhões de agricultores familiares. Criado durante o  auge da crise mundial de alimentos, o Mais Alimentos Brasil serviu de  barreira para impedir que a crise confinasse ainda mais parte da  população rural brasileira na miséria absoluta. Graças a esse programa,  que associa assistência técnica a uma linha de crédito especial do  Pronaf, agricultores familiares de todo o País recebem crédito de até R$  130 mil a 2% de juros ao ano, até três anos de carência e até dez anos  para pagar.    
O financiamento  proporcionou a boa parte dos estabelecimentos agropecuários da  agricultura familiar do Brasil o crédito necessário para produção.  Atualmente, há R$ 6,5 bilhões realizados e 250 mil contratos firmados.  Até esse ano, os agricultores familiares adquiriram 44 mil tratores e  motocultivadores, quatro mil veículos de transporte de carga, 250  colheitadeiras de grãos e dez mil itens de equipamentos de pecuária  leiteira.    
O resultado foi uma  supersafra que rendeu toneladas de leite, mandioca, milho, feijão, café,  arroz e trigo durante o período de crise de alimentos. Foi a primeira  vez também na história da agricultura familiar brasileira que se  produziu tanto e com tamanha variedade de produtos. Esses resultados  somados a outros bons desempenhos da agricultura familiar levaram o  governo federal a partilhar seu conhecimento nessas políticas públicas  com base nos princípios da diplomacia solidária preconizada pela  Cooperação Sul–Sul, adotada pelo governo brasileiro e coordenada pela  Agência Brasileira de Cooperação (ABC).    
 
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