Como o Blog prima pelos dois lados da informação, eis a  explicação de um leitor sobre o projeto de irrigação da Chapada do  Apodi, suspenso aos 45 do segundo tempo, quando a presidente Dilma  Rousseff estava prestes a autorizar o início das obras:
Boa noite Thaisa!
Parabéns pela publicação. Espero que este comentário seja postado,  pois contém esclarecimentos importantes sobre o Projeto Santa Cruz  Apodi.
Dessa vez parece que finalmente o povo foi ouvido! Há tempos que se  tentava chamar atenção da mídia, mas sempre havia resistência em  divulgar mais detalhes sobre esse assunto. Agora, após o cancelamento da  assinatura da ordem de serviço de início das obras pela presidenta  Dilma, foi que tudo começou a vir à tona.
Tudo começou a mais ou menos um ano, quando foi assinado um decreto  pelo presidente Lula, autorizando a implantação do projeto de irrigação  Santa Cruz Apodi/RN, que a priori se pensava que traria benefícios, mas,  no entanto só causou polêmica, medo e insegurança ao povo da zona rural  apodiense imposto pelo DNOCS, que insiste implantá-lo mesmo com quase  100% de desaprovação dos atingidos. Mas, a razão desse interesse  demasiado é explicável, uma vez que o projeto custará aos cofres  públicos R$ 280.000.000,00. O receio é: pode ser mais um elefante  branco?
A questão é muito mais complexa do que se imagina. O DNOCS começou  errado, quer executar um projeto sem medir as consequências da situação  das famílias que serão desapropriadas, estas que são as protagonistas do  projeto. Água, irrigação e desenvolvimento econômico todo mundo  necessita e aceita, desde que as famílias pudessem opinar, participar do  processo de discussão na elaboração do projeto, o que não foi feito,  aliás, o próprio DNOCS admitiu em reunião. Agora, querem empurrar um  projeto goela abaixo, sem definir a priori a situação desses  proprietários. Todo mundo fala em irrigação, emprego, mas ninguém,  nenhum político, principalmente aquele que apoia o projeto, comenta  sobre a desapropriação.
O porquê disso todo mundo sabe, interesses próprios. Do que adianta  implantar um projeto e ao mesmo tempo expulsar as famílias de suas  terras, para colocar outras ou empresas, que no futuro vão ser patrões  delas mesmas?
Seria muito mais justo e barato tentar manter essas famílias,  adaptá-las em seus locais de moradia onde já produzem há séculos.  Adaptar o projeto as condições reais dos moradores seria a forma mais  inteligente e justa. Caso contrário, um projeto dessa magnitude trará  muito mais consequências desastrosas, do que mesmo benefícios como  emprega o DNOCS aqueles mais desavisados, que não ligam para o destino  das famílias que até então não tem segurança para onde vão ou o que vão  fazer da vida.
É hora de esquecer as questões políticas, de criticar partido A ou B e  partir para o interesse principal que é a situação do povo, que é o que  menos tem vez e voz para falar ou protestar. Por que não se unir neste  momento e defender uma só causa? Que venha o projeto, mas que a  princípio seja discutido, debatido e aprovado pela população apodiense  em geral, afinal todos serão beneficiados ou prejudicados.
No dia 22 de outubro passado, o Jornal Nacional da Rede Globo,  divulgou uma matéria sobre o abandono de quilômetros de canal em Icó/CE,  sem funcionamento, manutenção ou qualquer fiscalização há mais de dois  anos. Isto justifica nossa preocupação devido ao histórico de insucessos  e descasos apresentados pelo DNOCS em projetos anteriores.
Portanto, é hora de agir com calma, um projeto dessa grandiosidade  não pode ser executado sem esclarecer uma série de dúvidas de caráter  socioeconômico, cultural e ambiental, que comprovam a insegurança e  receio quanto a capacidade operacional do DNOCS, do tipo:
• O porquê do fracasso dos projetos anteriormente implantados como o  de Tabuleiro de Russas/CE com a desapropriação de 14.000 ha, mas apenas  8% estão em atividade;
• A falência das empresas NOLE em 2008 e BELMONTE em 2010, deixando  muitas dívidas com trabalhadores e fornecedores, além de inúmeros  processos nos cartórios de Mossoró/RN e que leiloou uma frota de  tratores em Fortaleza/CE, respectivamente;
• A situação dos ex-proprietários que vivem praticamente em favelas  urbanas há quase 12 anos em Russas comprovada pelo Sindicato dos  Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Apodi, inclusive que alguns  ainda não receberam a indenização prometida;
• A desativação dos projetos em Cabeça Preta/CE e Cabrobó/PE, em virtude  do uso abusivo de substâncias químicas, onde boa parte das famílias  desapropriadas está morando em favelas, marginalizadas, vitimadas pelas  drogas, prostituição e violência;
• A desativação dos projetos de irrigação de Tibau e dos Sucos Maísa em  Mossoró/RN, hoje transformados em assentamentos, com mais de 100 mil  hectares de terra desapropriados;
• Investigar junto ao Tribunal de Contas da União, já que se trata de dinheiro público.
A alegação do DNOCS é que as propriedades são improdutivas, mas é  fato que o município apodiense possui uma economia diversificada e em  expansão, além de ser dotado de muitas riquezas naturais como:
• 2º solo mais fértil do mundo;
• Água potável mineral e abundante;
• Produção de calcário, granito, mármore, gás natural e petróleo (recebe quase meio milhão de reais mensais em royalties);
• Possui um dos maiores rebanhos de caprinos do país e é destaque também  na produção de leite bovino, arroz, fruticultura, entre outras  culturas;
• Destaque como maior produtor de mel de abelha do Brasil (IBGE), inclusive para exportação.
Consequências negativas com a implantação negligenciada do projeto:
• Redução da produção de mel pela aplicação de agrotóxicos em grande  escala (inclusive pulverização aérea) no plantio dessas culturas,  provocando a morte das abelhas e ao mesmo tempo indo contra os  princípios da agroecologia.
• Poluição do solo e lençol freático;
• Agressão ao meio ambiente provocada pelo desmatamento: flora e fauna.
Lutar para adaptar o projeto não será exigir muito. Afinal, são 280  milhões de reais que estão em jogo, não 280 mil. Uma forma inteligente  seria aproveitar este recurso fazendo o contrário, ou seja, torcendo que  o projeto venha, mas adaptado a nossa realidade. Desta forma todos  sairiam ganhando e com certeza apoiariam a causa. Com parte do dinheiro  economizado com a não desapropriação de algumas áreas, por exemplo,  poderia se investir exigindo do DNOCS itens não comtemplados no projeto,  mas que já foram discutidos, como:
• A aquisição de kits de energia verde para baratear a produção, por que  com a tradicional é praticamente impossível se obter lucro;
• A aquisição de lotes já instalados com equipamentos de irrigação, caso  contrário, o futuro irrigante não terá recursos para o investimento  inicial;
• Assistência técnica contínua, priorizando os profissionais locais,  inclusive os recém-formados do IFRN que estão desempregados;
• Entre outros.
Enfim, negociar, dialogar, discutir, é uma alternativa muito mais  inteligente do que ficar perdendo tempo disputando espaço político ou  procurando culpados pela não assinatura da presidenta. Afinal, esses 100  produtores que hipoteticamente apoiam o projeto da forma como está,  representam apenas uma pequena parcela das quase 8 mil pessoas da zona  rural ou dos 35 mil apodienses em geral que serão direta ou  indiretamente atingidos pelo projeto.
Que venha o progresso, mas de forma justa e racional!!!
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário