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Sete bilhões de pessoas não são o problema
- 13/12/2011O  mundo divulgou, assustado, que o a população havia atingido 7 bilhões  de pessoas. O susto foi grande, pois o planeta levou 4 bilhões de anos  para chegar ao primeiro bilhão de humanos e, depois, gastou 123 anos  para chegar a 2 bilhões. Agora, conseguiu crescer mais 1 bilhão em  apenas 11 anos! Já há gente falando em 10, ou 15 bilhões de pessoas e  perguntando: “como vamos alimentar tanta gente”?
A  conta aritmética, porém, é outra. Os 7 bilhões de pessoas não poluem,  nem devastam o planeta. Apenas 7% dos habitantes, cerca de 500 milhões  de pessoas, lançam 50% do carbono na atmosfera. Ou seja, 500 milhões  estragam tanto quanto os outros 6,5 bilhões! Estes 500 milhões querem  ter vários automóveis, casas, piscina, ar-condicionado, geladeiras,  alimentos industrializados, etc. e são os grandes vilões da história. A  empresa britânica Trucost divulgou um relatório mostrando que apenas  3.000 empresas causam 2,15 trilhões de dólares em danos ambientais. Os 7  bilhões, portanto, não são o problema. 
Enquanto  isso, as televisões são pagas para dizer que é o excesso de pessoas!  Mentira! O problema não é o aumento de pessoas, mas sim a melhoria de  vida das pessoas que, naturalmente, ficam viciadas no progresso e querem  cada vez mais. Ninguém quer voltar à geladeira antiga, aos fornos  antigos, casas antigas sem ar-condicionado, sem ventiladores, sem  piscinas. 
As  fábricas querem crescer cada vez mais, a Internet e a televisão  introduzem cada vez mais pessoas no rol dos felizardos gastadores. Uma  pessoa de luxo mediano gasta mais que 100 pessoas comuns, em média, e um  rico, de verdade, gasta mais que 100.000 pessoas comuns. Essa é a  questão real que deveria ser divulgada, mas não é.
O  problema está na concentração da riqueza para atender poucos habitantes  do planeta, enquanto a maioria restante leva uma vida comum. A pregação  gongórica de sociólogos, economistas e certas autoridades é para forçar  uma “redução da natalidade”, quando na realidade deveria buscar uma  “redução da desigualdade”. Já está provado: ao melhorar de vida, as  famílias desejam menos filhos! Até os mais pobres! A melhoria de vida,  então, com “dignidade e justiça”, é o caminho mais indicado para todos.
Os  governos, ao prestigiarem o desenvolvimento urbano, concentrando  pessoas para manipular o consumo, cometeram o crime de concentrar a  riqueza nas mãos de poucos. Embora o discurso seja de desconcentração da  riqueza, o que se vê, sempre, é o oposto, formando ilhas de  privilegiados: cidades, regiões e países. Os mais ricos dominam os mais  pobres, em todos os aspectos, geralmente a partir dos benefícios de  políticas públicas. Ou seja, o imposto arrecadado de todos acaba  privilegiando poucos ricos.

Se  houvesse coerência no discurso governamental, então os produtos rurais -  principalmente os alimentícios - seriam praticamente isentos de  tributação, pois eles garantem empregos para pessoas simples e uma  consequente melhoria de vida, sem concentração de renda. A política, no  entanto, sempre forçou o êxodo rural, e assim continua sendo. O  resultado é que o Brasil está com apenas 19% de pessoas no campo e  caminha para 5%. O discurso, portanto, precisaria ser modificado.
u Cabras e ovelhas  - O setor dos pequenos ruminantes é um bom exemplo. São milhares de  propriedades que poderiam gerar empregos e uma vida digna e justa, no  Nordeste. Outras milhares no Rio Grande do Sul e centenas de milhares  por todo país, mas essa realidade ainda não mereceu o olhar dos  economistas de plantão no Governo, que enaltecem apenas as atividades  concentradoras de renda.
Nesta  edição há um estudo abrangente sobre o Semiárido que poderia mudar sua  realidade atual para muito melhor, bastando assumir sua grande  potencialidade: cabras e ovelhas, as quais poderiam ser o fundamento  para a geração de outras fontes de rendimento local. O mesmo vale para o  Rio Grande do Sul e outras regiões. Ou seja, produtos sem o glamour da  mídia, como caprinos e ovinos, mas que levam dignidade a milhões de  pessoas e que as mantêm no campo seriam uma boa diretriz. Se os governos  assumissem a realidade das pessoas simples, nos locais simples onde  vivem, não haveria susto com a notícia de 7 bilhões de pessoas no  planeta.
Afinal,  o Brasil tem capacidade de ampliar a produção rural, podendo triplicar a  produção agrícola e dobrar a produção pecuária até 2050, sem derrubar  uma única árvore, bastando utilizar inovações tecnológicas, segundo  estudos da CNA. Afinal, todo homem simples quer uma geladeira para  preservar o seu feijão, valendo R$ 300, mas não uma que chega a R$ 2.000  por conta de dispositivos sofisticados. Primeiro: fazer o dever de  casa, garantindo acesso a produtos baratos e funcionais.
Prestigie-se  o homem simples do campo, prestigie-se o seu produto, e deixe a  população aumentar, com certeza de felicidade para todos. É preciso  orientar as políticas públicas para o setor rural que enche a barriga  das pessoas, garante saúde e bem-estar, sem poluir o planeta.
Um  bom começo de mostrar essa nova boa intenção governamental seria  prestigiar a vocação do sertanejo nordestino: cabras e ovelhas para um  radiante futuro regional.
 
 
       
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