Países do Mercosul discutem formas de enfretamento à violência contra as mulheres rurais
A
 cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil. A cada 30 horas 
acontece um feminicídio na Argentina. 2,8 milhões de chilenas sofrem com
 a violência. No Paraguai, por dia, 17 mulheres pedem ajuda contra a 
violência doméstica. No Uruguai, 7 de cada 10 mulheres já sofreram algum
  tipo de agressão. Abuso sexual, violências física, psicológica, 
patrimonial e moral. Os dados foram apresentados nesta terça-feira (5), 
durante o  seminário “Mulheres Rurais, mulheres com direito a uma vida 
livre de violência”, em Florianópolis (SC). O evento integra a agenda da
 XXVII Reunião Especializada em Agricultura Familiar do Mercosul que 
segue até sexta-feira (8). 
E quando o
 assunto é a vida no campo, o cenário apresenta-se mais grave. Os dados 
são escassos, a mulher invisibilizada, mas a violência é muito presente.
 Levantamento da ONU Mulheres mostra que mais de 50% da população de 
mulheres rurais na América Latina e Caribe são vulneráveis à pobreza e 
trabalham sem remuneração.
A questão 
esteve no centro do debate da XXVII Reunião Especializada em Agricultura
 Familiar do Mercosul, nesta terça-feira (5), em Florianópolis (SC). O 
seminário “Mulheres Rurais, mulheres com direito a uma vida livre de 
violência”, promovido pelo Grupo Temático de Gênero da Reaf, reafirmou a
 urgência de elaborar mecanismos de monitoramento nas áreas rurais para 
ampliar a efetividade das ações de combate à violência contra as 
mulheres. 
“A violência contra a 
mulher infelizmente é democrática, está entre aquelas que moram na 
cidade, no campo, ricas, pobres, brancas, negras da mesma forma, com uma
 intensidade absurda e devastadora”, ressalta a promotora do Ministério 
Público do Rio Grande do Norte, Érica Canuto. 
Durante
 o evento, a promotora explicou que a violência já começa na infância, 
quando as meninas são obrigadas a cumprir os afazeres de casa e acabam 
se afastando da escola e casando-se cedo.  A divisão sexual do trabalho é
 uma das principais causas da violência contra as mulheres.  Érica 
observa que a violência não é um comportamento natural do ser humano. 
“Existem muitas forças culturais e sociais que empurram os homens para a
 violência. Ninguém nasce violento”, afirma. 
Na
 ocasião, Érica Canuto também comentou sobre os resultados do “Grupo 
Reflexivo de Homens: Por uma atitude de paz”, um projeto do Ministério 
Público do Rio Grande do Norte (MPRN).  Cada grupo é formado por homens 
em processo judicial e envolvidos em contexto de violência doméstica 
contra a mulher. “O objetivo é despertar uma reflexão sobre atitudes 
violentas e machistas, fazendo com que internalizem uma conduta de 
comportamento assertivo”, explica.  
“Não
 é fácil, nem para homens e nem para mulheres, a libertação de cargas 
culturais que levamos ao longo de nossa história. Nós aprendemos a 
reproduzir o machismo. E combater isso é uma luta diária. Não podemos 
esquecer nem por um segundo o quanto a igualdade de gênero é importante 
para o desenvolvimento da agricultura familiar”, afirma Alberto Ercílio 
Broch, secretário-geral da Confederação Internacional de Organizações de
 Produtores e Produtoras Familiares do Mercosul Ampliado (COPROFAM). 
Entre
 as ações para o combate à violência, Alberto reafirmou a importância do
 empoderamento das mulheres rurais com a presença delas nos espaços de 
decisões. Neste contexto, ele lembrou da implementação da paridade de 
gênero na Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura 
(Contag). 
Juliana Maia, assistente 
de programas da ONU Mulheres, trouxe para o debate os desafios para o 
cumprimento da Agenda 2030 que estabelece 17 objetivos para alcançar o 
desenvolvimento sustentável, entre os quais destaca o ODS 5 que institui
 alcançar a igualdade de gênero e empoderamento de todas as mulheres e 
meninas. Para isso, Juliana ressalta que é preciso eliminar todas as 
formas de violência contra as mulheres e meninas, nas esferas públicas e
 privadas. “São 59 milhões de mulheres rurais em toda a América Latina e
 Caribe representando 48% da população rural.
A
 agricultura familiar é o principal fornecedor de alimento na Região e 
as mulheres contribuem diretamente em termos de sustentabilidade. No 
entanto, a desigualdade de gênero no campo é gritante. Precisamos 
colocar a mulher no centro do desenvolvimento rural para que ela tenha 
seu próprio empoderamento econômico”, reforça Juliana.  
O
 seminário também apresentou dados sobre a violência contra as mulheres 
nos países que integram o bloco Mercosul e ações e programas que os 
governos, juntamente com as organizações da agricultura familiar, estão 
 implementando com o objetivo de enfrentar  o problema. 
“Não
 podemos fazer para as mulheres, mas com as mulheres. É preciso 
empoderá-las para que possam criar a sua luta  e vencer o problema. 
Também reforço que a cultura patriarcal e machista é um problema da 
sociedade como um todo e não apenas dos homens”, reforça Justina Cima, 
representante do Movimento das Mulheres Camponesas de Santa Catarina. 
Maria
 José Morais, diretora de Mulheres da Contag, encerrou o evento com o 
histórico da Marcha das Margaridas, mobilização de mulheres 
trabalhadoras rurais inspirada na sindicalista paraibana Margarida Maria
 Alves, assassinada há 32 anos,  em razão de sua luta pelos direitos das
 mulheres rurais, que leva milhares de mulheres às ruas da capital 
federal reivindicando melhorias da vida, redução da violência no campo e
 o fortalecimento da democracia.
 
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