Modelo de crédito rural está com os dias contados, diz diretor do Banco Central
Executivo diz que mudança deve 
ocorrer, porque o volume dos depósitos à vista teve uma queda real, 
descontada a inflação, de 25% nos últimos cinco anos
 
        
            
            
                
                    
                    
                    
O
 modelo de crédito rural vigente no país há quase 40 anos, que libera 
recursos a taxas subsidiadas para todos os produtores, está com os dias 
contados. O alerta foi dado na última terça-feira (21/11) em palestra a 
dirigentes de cooperativas por Claudio Filgueiras Pacheco Moreira, 
diretor do Banco Central responsável pelo Derop (Departamento de 
Regulação, Supervisão e Controle das Operações de Crédito Rural). A 
palestra integrou o evento “O Poder do Cooperativismo”, que foi 
organizado pelo Sicoob-Credicitrus  e reuniu mais de 300 lideranças em 
Bebedouro, no interior paulista.
O Plano Safra deste ano 
prevê a liberação de R$ 188,4 bilhões em financiamentos até junho de 
2018, sendo R$ 116,25 bilhões com juros controlados (6,5% a 8,5% ao ano)
 e R$ 34 bilhões com juros livres, que dependerão de negociação entre o 
produtor e a instituição financeira. Do total anunciado, 13%, o 
equivalente a R$ 25 bilhões, já foram contratados no bimestre 
julho-agosto ante os 11% emprestados no mesmo período do Plano Safra 
anterior.
 
 
 
 
 
Segundo o representante do Banco Central, a mudança no
 crédito rural terá que ocorrer porque o volume dos depósitos à vista 
que ainda são a base dos recursos teve uma queda real, descontada a 
inflação, de 25% nos últimos cinco anos. “Como fazer o dinheiro do 
crédito rural crescer? Será que a tutela é realmente necessária para 
todos? O grande produtor rural que contrata crédito de R$ 800 milhões 
precisa da mão do Estado como o pequeno que financia R$ 50 mil? Essas 
questões foram colocadas como desafio aos cooperativistas pelo 
palestrante, alertando que, talvez, o Estado deva “segurar nas mãos” 
apenas os pequenos produtores.
Moreira
 disse que o conceito de crédito rural tem que evoluir e que cabe ao 
Estado dar segurança para o mercado operar, mas não necessariamente 
liberar dinheiro com taxas subsidiadas para todos os produtores. Segundo
 ele, os recursos provenientes de outras fontes têm crescido e devem ser
 mais utilizados. No caso das LCA (Letras de Crédito Agrícolas), o 
volume dobrou em dois anos e, hoje, praticamente ninguém contrata pelo 
teto das taxas. O juro pode ser mais alto para o pequeno produtor, mas 
para o grande fica quase equivalente ao do crédito subsidiado e é 
liberado de forma muito mais fluída e logo pode ser feita até 
eletronicamente.
O diretor ressaltou que qualquer 
alteração no crédito rural tem que ser aprovada por cinco setores: Banco
 Central, ministérios do Planejamento, Fazenda, Agricultura e Casa 
Civil. Disse ainda que uma mudança que já está em curso é a redução, com
 o uso da tecnologia de ponta, dos custos de observância e vigilância 
para concessão do crédito rural que, atualmente, em alguns casos chegam a
 ser maiores que o crédito concedido.
No
 Brasil, 420 cooperativas operam crédito rural, segundo o Banco Central,
 mas a participação delas no mercado é de apenas 14% do volume, ante os 
51,6% (já foi 82%) dos bancos públicos e 33,4% dos bancos privados. 
Segundo Moreira, um dado levantado na última sexta-feira pelo seu 
departamento, com base nos 3 milhões de contratos do crédito rural da 
última safra, o surpreendeu muito: as cooperativas de produção só 
buscaram 2,7% dos recursos nas cooperativas de crédito. Isso significa 
que há muito espaço a ser conquistado por esse segmento.
Marcelo
 Martins, porta-voz da Sicoob Credicitrus, anfitriã do evento, disse que
 o “puxão de orelhas” do diretor do Bacen foi motivador para o setor. “A
 cooperativa sabe como fazer o crédito rural porque está próxima do 
produtor, conhece as necessidades e os detalhes da operação do 
cooperado. Esse alerta vai nos motivar a conseguir quebrar algumas 
barreiras e avançar nesse segmento.”
    
Martins afirma que a
 Sicoob Credicitrus, com 34 anos de atividade e patrimônio líquido de R$
 1,3 bilhão, tem atualmente aproximadamente R$ 1,1 bilhão em crédito 
rural e o sistema Sicoob, R$ 11 bilhões. “Nós já estamos buscando 
aproximação com a cooperativa de produção para que ela foque realmente 
na produção e a cooperativa de crédito fique com a operação financeira.”
 A Sicoob Credicitrus é a maior cooperativa de crédito do país, com 
81.613 cooperados e ativos totais de R$ 5,4 bilhões. Vai inaugurar em 
dezembro sua 60ª unidade, atingindo todo o interior paulista e mineiro.
 
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