Plano Safra: longe do ideal
O Governo Federal 
anunciou na semana passada o montante de R$ 190,25 bilhões destinados ao
 Plano Agrícola e Pecuário 2017/2018 e ao Plano Safra da Agricultura 
Familiar. Prevê R$ 150 bilhões para custeio e comercialização da 
produção. O valor disponível para investimentos aumentou 12%, chegando a
 R$ 38 bilhões. Os recursos serão liberados a partir de julho deste ano,
 mas agora algumas observações são adequadas no meu entender.
Primeiro, reafirmo aquilo que foi uma 
manifestação minha anterior solicitando uma diminuição mais 
significativa das taxas de juros que serão praticadas. Relembrando, 
quando as taxas dos programas do ano anterior foram definidas, a taxa 
Selic era 14,25% e hoje está em 10,25%. A projeção inflacionária era 
superior a 6,5% e agora se projeta uma inflação de 4%.
A decisão, portanto, de baixar em média 
um ponto percentual das diferentes linhas de financiamento, na prática, 
significou um aumento de juro real. O que, no meu entender, é incoerente
 com o papel que tem tido o setor agropecuário de ser o impulsionador do
 crescimento nacional, com a relevância que tem este setor para a nossa 
economia.
A diminuição dos juros deveria, ao 
menos, ser proporcional à queda da Selic, mantendo o diferencial em 
relação à taxa de inflação. Isso para que não se veja como é, na 
realidade, um aumento da taxa de juros para um setor que está 
determinando o avanço da produção brasileira, sustentando a retomada do 
crescimento econômico. O governo precisa imediatamente rever as taxas de
 juros do Plano Safra.
Numa perspectiva de apoio ao controle da
 inflação e benefício aos consumidores, o governo anunciou que a taxa de
 juros da agricultura familiar para o custeio será de 2,5% para a 
produção de arroz, feijão, mandioca, leite, alho, tomate, cebola, 
batata, abacaxi, banana, açaí, laranja e olerícolas. Já o Programa 
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para 
investimentos em irrigação, armazenagem e práticas sustentáveis de 
manejo do solo e da água, além das tecnologias de energia renovável, 
terá juros de 2,5% ao ano.
Porém, outras observações ainda precisam
 ser feitas. Reconheço que houve um avanço nos recursos destinados ao 
Seguro Agrícola, que passaram do nível de R$ 400 milhões da safra 
anterior para R$ 550 milhões. Isso significará uma ampliação da área 
assegurada, mas estamos ainda muito distantes daquilo que já chegamos a 
atingir. Já tivemos uma cobertura de seguro que chegou a 11 milhões de 
hectares – e a projeção para este ano é que seja 5,5 milhões de 
hectares.
É urgente
 que a comissão constituída pelo governo e coordenada pelo ex-ministro 
da Agricultura Alysson Paulinelli, que rediscute a questão do seguro 
agrícola, tenha sua atividade acelerada.
Outra questão que quero aplaudir são os 
recursos destinados a financiar a conectividade. Isso é um problema 
sério e crescente que casa com a prioridade à agricultura de precisão. 
Nós temos equipamentos modernos e sofisticados que são fundamentais para
 o aumento de produtividade, mas ainda temos dificuldade na transmissão 
de dados. Portanto, essa linha tem sintonia com aquilo que é uma 
necessidade de evolução tecnológica neste setor.
É preciso ainda lamentar que os recursos
 anteriormente destinados às cooperativas diminuíram neste Plano. 
Diminuiu também a faixa de financiamento para essas entidades. Nós que 
sabemos do papel relevante que têm as cooperativas para a produção 
agropecuária do Brasil não conseguimos entender a razão dessa diminuição
 relativa.
Menciono ainda o fato de que persiste a 
necessidade de maior previsibilidade com um plano plurianual. Embora na 
apresentação do Plano Safra para agricultura familiar se tenha pela 
primeira vez feito uma projeção de três anos adiante, com algumas 
referências de futuro, nós continuamos necessitando avançar para um 
Plano que vá além do imediatismo de um ano e que permita, sendo 
plurianual, ter uma previsibilidade mais assegurada.
Resta agora, diante das definições 
adotadas, trabalharmos para evitar que a burocracia e o excesso de 
exigências - ou a prática de alguns bancos em fazer operações casadas - 
não venham a tumultuar aquilo que é o mais importante: que o crédito 
chegue rápido para financiar o nosso agricultor. 
 
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