sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Soja surpreende em novas áreas do Nordeste

Saulo Coelho - Pesquisador da Embrapa Sérgio Procópio apresenta números positivos em Alagoas
Pesquisador da Embrapa Sérgio Procópio apresenta números positivos em Alagoas
Apresentar os resultados dos ensaios recentes com mais de 50 cultivares de soja e seu alto desempenho produtivo no Agreste e Tabuleiros Costeiros, na nova fronteira agrícola denominada SEALBA – recorte territorial que abrange novas áreas com alto potencial para grãos em Sergipe, Alagoas e Bahia.
 
Este foi o objetivo do encontro promovido pela Embrapa com atores do setor produtivo, assistentes técnicos, empresas de insumos e agentes públicos alagoanos, realizado em Maceió no dia 24 de novembro, na sede da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Alagoas (FAEAL).
 
O pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE) Sérgio Procópio, que coordena estudos para adaptação de cultivares à região desde 2013, fez a apresentação dos dados e debateu com os participantes, entre os quais o secretário de Estado da Agricultura, Álvaro Vasconcelos.
 
Diversificação
A soja pode ser uma grande aliada na diversificação e plantios e diminuição das áreas de monocultivo. A cultura pode ajudar no enfrentamento das crises que trazem queda de preço das commodities e perdas para os produtores no SEALBA, especialmente no cinturão do milho, em Sergipe, e na secular monocultura da cana em Alagoas, que nos últimos anos tem sofrido com crises severas, com redução de área plantada e fechamento de usinas.
 
De acordo com Procópio, a soja, por ser uma cultura de grande valorização, tem grande potencial de ganhos para os produtores da região, pois pode atender a importantes demandas regionais e globais de mercado. "No Nordeste há uma grande demanda por soja para compor a alimentação animal nas fazendas e granjas de quase todos os estados, e a posição estratégica do território, com proximidade de portos, ajuda a baratear custos de frete e escoar parte da produção para exportação", explica o pesquisador. 
 
Outro fator importante, de acordo com Procópio, é a diferença entre os ciclos de clima no SEALBA e as nas regiões tradicionais no restante do país, com chuvas em diferentes épocas do ano. As chuvas no SEALBA ocorrem no meio do ano, durante o inverno, e nas demais regiões a estação chuvosa é o verão. "Isto demonstra um grande potencial para atendermos às demandas fora da safra do Sul e Centro-oeste, além de nos dar a oportunidade de sermos um grande banco de sementes de alta qualidade para fornecimento aos produtores dessas regiões, que começam a plantar no final do ano", acredita.
 
Desempenho
Além de bom desempenho de produtividade, a soja traz a vantagem de fixar nitrogênio no solo por meio de bactérias inoculadas, dispensando a aplicação de toneladas de fertilizantes nitrogenados, o que traz grande economia de insumos.
 
Segundo dados dos primeiros ensaios de campo em 2013 e 2014, a produtividade da grande maioria dos materiais apresentou desempenho acima da média nacional – em torno de 48 a 55 sacas por hectare. Especialmente no Agreste, onde o solo é mais rico em nutrientes e apresenta temperaturas mais baixas à noite, mais de 40 variedades e cultivares superaram as médias nacionais, com algumas chegando até 5 toneladas por hectare.
 
Análises de grãos de soja produzidos em Frei Paulo, SE, (safra 2014/2015) demonstraram altos teores de proteína, com valores em torno de 38 a 40% em todas as cultivares e variedades, o que reforça o potencial para atender à demanda de farelo para alimentação animal.
 
 

Em palestra, o pesquisador Sérgio Procópio demonstra dados ressaltando  o alto valor proteico da soja plantada na região
 
 
Outro resultado surpreendente foi a produtividade considerável observada mesmo num ano de extrema escassez de chuvas como 2016, que apresenta perdas de até 90% da produção de milho nas principais regiões produtoras. O desempenho produtivo de algumas das cultivares no Agreste chegou a passar de 40 sacas por hectare, apesar de um período extremamente seco para época, com precipitações abaixo de 40 mm em todos os meses de maio a agosto, além de longos veranicos (períodos sem qualquer chuva) em junho e agosto. Nos Tabuleiros Costeiros, região com média de chuvas superior ao Agreste, mas onde em 2016 também se observou baixa precipitação, muitas cultivares chegaram a superar 50 sacas por hectare.
 
 
 

Pesquisador ressalta a tolerância da soja à escassez de chuva no agreste
 
 

Dessa vez, nos tabuleiros costeiros, pesquisador ressalta a tolerância da soja à escassez de chuva 


Pesquisa
Com o objetivo de formatar um sistema de produção para essas regiões, diversas ações de pesquisa vêm sendo realizadas pelos cientistas da Embrapa.
 
As iniciativas englobam a seleção de cultivares com base em adaptabilidade e estabilidade de produção, porte para colheita mecanizada, nível de acamamento das plantas (quando pendem e deitam), e ciclo de produção; determinação dos melhores períodos para o plantio; avaliação dos arranjos de plantas – espaçamento e população; adaptação da cultura no sistema de plantio direto; recomendação para a inoculação de sementes, visando a não dependência de fertilizantes nitrogenados; levantamento das pragas, doenças e plantas daninhas de ocorrência regional, com os seus respectivos métodos de controle; determinação do momento correto da colheita; avaliação da qualidade de sementes – sanidade, germinação e vigor; e inserção da cultura em sistemas conservacionistas junto à agricultura familiar.
 

Pesquisador aborda população de plantas
 
 
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático para a soja em Sergipe e Alagoas para a safra 2015/2016, coordenado pela Embrapa e publicado pelo Ministério da Agricultura, abre caminho para financiamento bancário e seguro agrícola para o plantio do grão em diversas regiões desses estados.
 
Perspectivas
O produtor Everaldo Tenório é um dos que acreditam na soja como um novo caminho na diversificação de culturas em Alagoas. "Nas safras recentes, com a crise da cana, tivemos cerca de 30 mil hectares abandonados no estado. A soja é a grande opção para um futuro com boas perspectivas de renda para os produtores, por ser uma commodity com alta liquidez. E a pesquisa da Embrapa é fundamental para orientar os produtores com as cultivares mais adequadas, e todos os aspectos de manejo da cultura", afirmou.
 
Para o secretário Vasconcelos, a soja chega como uma grande perspectiva na diversificação da agricultura no estado, fortalecendo a produção de grãos, que tem estado muito aquém da demanda local há muitos anos. "Com a implantação de um programa de governo e a criação da Comissão de Grãos para alavancar o setor e o aporte de conhecimentos das pesquisas da Embrapa, temos um horizonte muito promissor para a nossa produção agrícola", declarou. 

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