PROJETO BAIXO AÇU UMA RIQUEZA DO VALE DO ASSÚ
Goiabas |
Produção de Bananas |
Produção de goiabas
Produção de coco Verde |
Perímetro Irrigado Baixo-Açu
O Fértil Vale do Açu
O Perímetro Irrigado Baixo-Açu faz parte da região de mesmo nome e se situa nos municípios de Ipanguaçu, Alto do Rodrigues e Afonso Bezerra (em destaque no mapa 1). Os dois primeiros municípios fazem parte da Microrregião Vale do Açu-RN e o terceiro faz parte da Microrregião de Angicos-RN. Essa região conhecida como Baixo-Açu é composta por mais de 27.000 hectares de terras férteis que estão localizadas, na sua maioria, no município de Ipanguaçu, entre os rios Açu e Pataxó.
Uma longa história…
Os primeiros registros de lutas pela terra na região do Vale do Açu datam do início da colonização, de modo particular, quando os conquistadores adentram o interior do território potiguar. Com a chegada dos curraleiros que trazem o gado para a região, ocorrem as mais sangrentas batalhas entre colonizadores e nativos que se tem notícia, e que passou a história como Guerra dos Bárbaros, ou a Guerra dos Índios contra a expulsão de seus territórios e a escravidão ( LOPES, 2003).
Com a expulsão dos índios e a fixação dos colonos na região do Vale do Açu, a pecuária passa a ser a principal atividade econômica da região. Uma prova disso é que, no ano de 1775, a ribeira do Açu, com a freguesia de S. João Batista do Açu (hoje município de Açu), era a freguesia que tinha o maior número de fazendas de gado de toda a Capitania do Rio Grande (hoje Rio Grande do Norte). Eram 90 fazendas de gado, ficando o segundo lugar com a freguesia de Caicó, com 70 fazendas de gado. Além do gado, na região do Vale do Açu, tinha-se também como complemento uma produção de alimentos de subsistência protegida por travessões[1], tais como: feijão de corda, milho, fava, sorgo, jerimum, melão, melancia, banana e batata doce. Junto com essa produção de subsistência, também se tinha a pesca do curimatã, da traíra, do piau, da piranha ou do tucunaré (FERNANDES, 1992).
No final do século XVIII, a Revolução Industrial Inglesa, ante a necessidade de mais algodão – matéria-prima para suas indústrias –, vai estimular a cotonicultura em diferentes áreas, incluindo o sertão nordestino. Esse estímulo vai se dar sobretudo pela interrupção do fornecimento doalgodãoque vinha dos Estados Unidos, devido à Guerra de Independência (1776-1783) (MONTEIRO, 2000).
No período entre o fim do século XIX e início do século XX, ocorreu a intensificação da exploração da cera de carnaúba,no Vale do Açu, que, além de favorecer a ocupação da região, favoreceu também a formação e/ou expansão de latifúndios, uma vez que os senhores mais poderosos buscavam aumentar suas propriedades incorporando pequenos carnaubais, especialmente quando o mercado externo ofereceu melhores preços para a cera, durante o período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial (FERNANDES, 1992).
No início e até a década de 1970 do século XX, constata-se o auge da exportação de cera de carnaúba pelo Rio Grande do Norte, que vai se manter periodicamente entre os três maiores exportadores do Brasil (geralmente se fixando como terceiro maior produtor e exportador), ao lado do Ceará e do Piauí. Na produção interna do Rio Grande do Norte, por todo o período, percebe-se a participação dominante da região do Vale do Açu.
Nos anos 1970, além do preço internacional baixo desse produto, foram implementados, em várias regiões de várzea (onde a carnaúba é endêmica), incluindo o Vale do Açu, programas de construção de grandes macrofixos, como barragens, e de programas de irrigação voltados para a cultura de algodão e a de fruticultura irrigada. Emergia assim, o meio técnio-científico-informacional[2] no Vale do Açu (SANTOS; SILVEIRA, 2001).
Com a emergência desses programas de irrigação e da produção em massa de frutas, houve uma retirada intensa dos carnaubais dos solos férteis das várzeas, que passaram a serem as áreas preferidas para os programas citados.
O Projeto Baixo-Açu
A construção da Barragem de Açu, através do Projeto Baixo-Açu, vai se dar em um contexto de políticas públicas que são direcionadas para viabilizar a Revolução Verde e a modernização da Agricultura no Nordeste.
Essa Revolução consiste num grande crescimento de produtividade na agricultura, por meio do uso de tecnologias, como os tratores agrícolas, técnicas de irrigação, defensivos químicos, variedades de sementes, aviação agrícola, computadores, novos métodos de gestão etc. De um lado da produção, vai se ter a Indústria Produtora de Insumos, com fertilizantes, defensivos e corretivos, e, do outro, vai se ter a Indústria de Bens de Capital, com tratores, colheitadeiras e equipamentos de irrigação.
Essa chamada “industrialização da Agricultura” vai ser dirigida por grandes Empresas Multinacionais, com o apoio de organizações supranacionais como o Banco Mundial, que vai ajudar na implementação dessa Revolução, a qual vai ser altamente danosa para os pequenos produtores, uma vez que vai aumentar a dependência destes com relação às grandes empresas fornecedoras de insumos (SHIVA, 2003).
No Brasil, na década de 1970, o Governo Autoritário vai implementar, através de um conjunto de políticas públicas, um programa de modernização do campo de acordo com os dizeres da Revolução Verde. No início da década de 1970, esse Governo já implementa o I Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que tem como programas principais: o Programa de Redistribuição de Terras (PROTERRA) e de estímulo à agroindústria do Norte e Nordeste – que visava, entre outras coisas, à expansão da agroindústria e o aumento das exportações -, e o Programa de Integração Nacional (PIN), que continha, entre suas principais linhas de ação, um plano de irrigação no Nordeste, destinado ao aproveitamento dos vales úmidos e à elevação da produtividade na faixa semiárida, assim como à implantação de corredores de exportação no Nordeste (SOUZA, 1997).
Vai ser principalmente através do PIN que o Estado induzirá um processo de modernização agrícola no Nordeste. No II PND, na segunda metade da década de 1970, vai ser financiado pelo PIN o I Plano Plurianual de Irrigação, em 1978 (VALENCIO, 1995).
Esse Plano possibilitou a generalização de empreendimentos privados de irrigação, através da facilitação do acesso a água, empreendimentos estes que usavam técnicas modernas. O Estado Autoritário também estava sedento de divisas para pagar a dívida com o FMI, por isto incentivou a agroexportação em bases modernas, investindo em fixos que dessem uma infraestrutura para essa nova agricultura (VALENCIO, 1995).
O Perímetro Irrigado Baixo-Açu faz parte da região de mesmo nome e se situa nos municípios de Ipanguaçu, Alto do Rodrigues e Afonso Bezerra (em destaque no mapa 1). Os dois primeiros municípios fazem parte da Microrregião Vale do Açu-RN e o terceiro faz parte da Microrregião de Angicos-RN. Essa região conhecida como Baixo-Açu é composta por mais de 27.000 hectares de terras férteis que estão localizadas, na sua maioria, no município de Ipanguaçu, entre os rios Açu e Pataxó.
Uma longa história…
Os primeiros registros de lutas pela terra na região do Vale do Açu datam do início da colonização, de modo particular, quando os conquistadores adentram o interior do território potiguar. Com a chegada dos curraleiros que trazem o gado para a região, ocorrem as mais sangrentas batalhas entre colonizadores e nativos que se tem notícia, e que passou a história como Guerra dos Bárbaros, ou a Guerra dos Índios contra a expulsão de seus territórios e a escravidão ( LOPES, 2003).
Com a expulsão dos índios e a fixação dos colonos na região do Vale do Açu, a pecuária passa a ser a principal atividade econômica da região. Uma prova disso é que, no ano de 1775, a ribeira do Açu, com a freguesia de S. João Batista do Açu (hoje município de Açu), era a freguesia que tinha o maior número de fazendas de gado de toda a Capitania do Rio Grande (hoje Rio Grande do Norte). Eram 90 fazendas de gado, ficando o segundo lugar com a freguesia de Caicó, com 70 fazendas de gado. Além do gado, na região do Vale do Açu, tinha-se também como complemento uma produção de alimentos de subsistência protegida por travessões[1], tais como: feijão de corda, milho, fava, sorgo, jerimum, melão, melancia, banana e batata doce. Junto com essa produção de subsistência, também se tinha a pesca do curimatã, da traíra, do piau, da piranha ou do tucunaré (FERNANDES, 1992).
No final do século XVIII, a Revolução Industrial Inglesa, ante a necessidade de mais algodão – matéria-prima para suas indústrias –, vai estimular a cotonicultura em diferentes áreas, incluindo o sertão nordestino. Esse estímulo vai se dar sobretudo pela interrupção do fornecimento doalgodãoque vinha dos Estados Unidos, devido à Guerra de Independência (1776-1783) (MONTEIRO, 2000).
No período entre o fim do século XIX e início do século XX, ocorreu a intensificação da exploração da cera de carnaúba,no Vale do Açu, que, além de favorecer a ocupação da região, favoreceu também a formação e/ou expansão de latifúndios, uma vez que os senhores mais poderosos buscavam aumentar suas propriedades incorporando pequenos carnaubais, especialmente quando o mercado externo ofereceu melhores preços para a cera, durante o período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial (FERNANDES, 1992).
No início e até a década de 1970 do século XX, constata-se o auge da exportação de cera de carnaúba pelo Rio Grande do Norte, que vai se manter periodicamente entre os três maiores exportadores do Brasil (geralmente se fixando como terceiro maior produtor e exportador), ao lado do Ceará e do Piauí. Na produção interna do Rio Grande do Norte, por todo o período, percebe-se a participação dominante da região do Vale do Açu.
Nos anos 1970, além do preço internacional baixo desse produto, foram implementados, em várias regiões de várzea (onde a carnaúba é endêmica), incluindo o Vale do Açu, programas de construção de grandes macrofixos, como barragens, e de programas de irrigação voltados para a cultura de algodão e a de fruticultura irrigada. Emergia assim, o meio técnio-científico-informacional[2] no Vale do Açu (SANTOS; SILVEIRA, 2001).
Com a emergência desses programas de irrigação e da produção em massa de frutas, houve uma retirada intensa dos carnaubais dos solos férteis das várzeas, que passaram a serem as áreas preferidas para os programas citados.
O Projeto Baixo-Açu
A construção da Barragem de Açu, através do Projeto Baixo-Açu, vai se dar em um contexto de políticas públicas que são direcionadas para viabilizar a Revolução Verde e a modernização da Agricultura no Nordeste.
Essa Revolução consiste num grande crescimento de produtividade na agricultura, por meio do uso de tecnologias, como os tratores agrícolas, técnicas de irrigação, defensivos químicos, variedades de sementes, aviação agrícola, computadores, novos métodos de gestão etc. De um lado da produção, vai se ter a Indústria Produtora de Insumos, com fertilizantes, defensivos e corretivos, e, do outro, vai se ter a Indústria de Bens de Capital, com tratores, colheitadeiras e equipamentos de irrigação.
Essa chamada “industrialização da Agricultura” vai ser dirigida por grandes Empresas Multinacionais, com o apoio de organizações supranacionais como o Banco Mundial, que vai ajudar na implementação dessa Revolução, a qual vai ser altamente danosa para os pequenos produtores, uma vez que vai aumentar a dependência destes com relação às grandes empresas fornecedoras de insumos (SHIVA, 2003).
No Brasil, na década de 1970, o Governo Autoritário vai implementar, através de um conjunto de políticas públicas, um programa de modernização do campo de acordo com os dizeres da Revolução Verde. No início da década de 1970, esse Governo já implementa o I Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que tem como programas principais: o Programa de Redistribuição de Terras (PROTERRA) e de estímulo à agroindústria do Norte e Nordeste – que visava, entre outras coisas, à expansão da agroindústria e o aumento das exportações -, e o Programa de Integração Nacional (PIN), que continha, entre suas principais linhas de ação, um plano de irrigação no Nordeste, destinado ao aproveitamento dos vales úmidos e à elevação da produtividade na faixa semiárida, assim como à implantação de corredores de exportação no Nordeste (SOUZA, 1997).
Vai ser principalmente através do PIN que o Estado induzirá um processo de modernização agrícola no Nordeste. No II PND, na segunda metade da década de 1970, vai ser financiado pelo PIN o I Plano Plurianual de Irrigação, em 1978 (VALENCIO, 1995).
Esse Plano possibilitou a generalização de empreendimentos privados de irrigação, através da facilitação do acesso a água, empreendimentos estes que usavam técnicas modernas. O Estado Autoritário também estava sedento de divisas para pagar a dívida com o FMI, por isto incentivou a agroexportação em bases modernas, investindo em fixos que dessem uma infraestrutura para essa nova agricultura (VALENCIO, 1995).
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