terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Perspectivas para a Caprinocultura no Brasil: ARTIGO

 Introdução
A caprinocultura, atividade presente em quase todos os países, é citada,
freqüentemente, como das atividades mais indicadas para a região semi-árida. Para tal, são
destacados alguns aspectos: (a) a irregularidade climática torna a atividade agrícola de alto
risco, reforçando a vocação pecuária, determinada desde o processo inicial de ocupação da
porção semi-árida do Nordeste, a partir de meados do século XVII; (b) a predominância da
caprino ou ovinocultura em outras regiões semi-áridas, como Espanha, Grécia, Austrália,
por exemplo; (c) ) a adequação dessa atividade à pequena produção e à produção familiar
divido à menor necessidade de capital para implantação e manutenção da caprinocultura,
em relação à bovinocultura; (d) a existência de mercado local e regional, devido ao
consumo generalizado, no interior, da carne de ovinos e caprinos. Não obstante esta crença,
há aspectos limitantes. A irregularidade climática também afeta negativamente a pecuária.
No passado, quando da ocorrência de uma grande seca, as perdas do rebanho podiam
chegar a quase 100 %, por falta d’água e de comida. No geral, nos meses mais secos, há
perda de peso, eliminando o ganho obtido nos meses de chuva e pasto farto. Com isto a
produtividade é baixa. Os caprinos são mais recomendados para caatinga arbustiva e
arbórea, mas respondem pouco, em ganho de produtividade, à melhoria das pastagens. Ao
contrário dos caprinos, os ovinos adaptam-se mais a pastos herbáceos, mas nos meses mais
secos, com sobrepastoreio, tornam-se agentes de grande degradação ambiental, pela forma
intensa de aproveitamento do pasto. Nesse sentido, respondem bem à melhoria dos pastos,
mas não são recomendados para áreas de caatinga mais arbustiva e arbórea.

A caprinocultura adentra o interior com as primeiras levas de colonizadores, com a
expansão dos currais, que gera o chamado ciclo do couro, do gado. Por gado entende-se
tanto o criatório de grandes animais – bovinos e eqüinos – como o de pequenos animais –
caprinos, ovinos e porcos. Mas a criação de caprinos, por muitos anos, teve finalidade
quase exclusiva de auto abastecimento. A menor quantidade de carne, quando do abate,
adequava-se melhor à população rarefeita das fazendas antigas. O couro tinha
aproveitamento local. O leite muito raramente era utilizado. A atividade econômica,
entendida como geradora de renda, era a pecuária bovina, os rebanhos do interior sendo
transportados para os centros urbanos de abate e consumo. A carne caprina era consumida
localmente e teve importante papel como fonte protéica. Mas, na segunda metade do século
XIX, há importante desenvolvimento do mercado de couros para exportação, constituindo o
chamado mercado de courinhos. Ao final do século XIX, Delmiro Gouveia estabelece
grandes negócios com importadores estrangeiros tendo importantes contatos em Nova
Iorque, maior mercado comprador. Com a primeira guerra mundial o preço dos couros
sofre extraordinária alta e Alagoas, que no ano 1903/1904 exportara apenas 3.278 peles,
passa para 665.446 no ano seguinte, e 1.152.846 em 1915/1916. O ano seguinte marca o
trágico fim de Delmiro e a dispersão do comércio de courinhos. Este importante capítulo
para a caprinocultura se encerra. A caprinocultura retorna a seu caráter de quase
subsistência.
A criação de caprinos visa a obtenção de três produtos principais: a carne, de longe o
mais importante, dado o seu uso corrente pelo sertanejo, tanto para alimentação própria
como para comercialização; o leite, de pouca expressão comercial; e o couro. Os couros
tiveram participação importante como fonte de renda, no passado e, atualmente, continuam
a ser exportados, sendo fonte de divisas. O abate mundial de caprinos, no período de 1991 a
2000, cresceu 7,5 %. Em 1970, foram abatidos no Brasil 752 mil unidades caprinas e em
1992 esses números elevaram-se para 1.639 mil cabeças, representando um crescimento da
ordem de 45,9 %.
Ao lado desse criatório comercial, há o mercado de genética, assim denominado pois
visa a produção de reprodutores e matrizes. Este mercado envolve número bem menor de
produtores, mas com marcante presença nas Associações e nas Exposições de animais.
Há grande carência de estatísticas em relação à caprinocultura. Não existem estudos
recentes que aportem dados primários às poucas estatísticas secundárias divulgadas pelo
IBGE. Dada esta enorme carência, esforço é feito no sentido de suprir as deficiências com
estimativas, feitas por extrapolação, quanto à produção e ao valor dessa produção. Devem
ser tomadas como uma primeira estimativa, na ausência de dados mais precisos. De
qualquer forma, configura um esforço pioneiro de estimação.
Após esta breve introdução, a seção seguinte descreve a caprinocultura no Brasil e em
Pernambuco. Na terceira seção faz-se análise da economia da caprinocultura: são analisadas
as produções de carne, leite e pele e são calculadas as participações no valor bruto da
produção e no emprego em Pernambuco. Na quarta seção é feita análise do mercado de
carne, leite e pele nacional e internacional. Na quinta seção são expostos os principais
problemas para a expansão da cadeia e na sexta seção são descritas perspectivas para o
crescimento da cadeia. Por fim, na sétima seção são elaboradas as conclusões e
recomendações.

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