BENEFÍCIO
                
INSS pode revisar formulário autodeclatório para agricultor familiar
Deputados e representantes do setor questionam o excesso de informações exigidas e criticam o alto índice de indeferimentos dos benefícios
A diretora de 
benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Marcia Eliza 
de Souza, admitiu na última terça-feira (12) na Câmara dos Deputados que
 o governo poderá rever o sistema de análise de concessão de benefícios 
previdenciários para agricultores familiares, aprovado em junho deste 
ano (Lei 13.846/19). De acordo com as novas regras, a comprovação de 
atividade rural passou a ser feita por meio de formulário 
autodeclaratório e não apenas por certidão emitida pelo sindicato da 
categoria.
Em audiência pública na Comissão de 
Trabalho, de Administração e Serviço Público, Marcia Elisa de Souza 
reconheceu que os formulários podem ser aperfeiçoados e considerou a 
hipótese de tornar facultativas algumas informações. Ao rebater críticas
 de representantes dos trabalhadores e deputados, ela disse ainda que o 
INSS criou uma central de alta performance com servidores treinados 
especificamente para a análise de benefícios na área rural.
A partir de março deste ano, segundo ela, o
 INSS passou a depender basicamente das informações apresentadas pelo 
segurado ao requerer o benefício. “Quanto mais informações obtivermos, 
mais chances de o benefício ser concedido. Onde trabalha, com quem 
trabalha, quem é o proprietário do imóvel, se já morou em local diverso,
 se tem outas fontes de renda”, destacou.
A ideia, segundo o instituto, é que, após 
janeiro de 2023, a comprovação de atividade rural se dê apenas com dados
 do segurado especial no Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS)
 do Ministério da Economia.  O CNIS está em fase de construção e, 
segundo Marcia de Souza, outros cadastros, como CAFIR, RGP, SDPA, vem 
sendo usados para ratificar a autodeclaração.
Críticas
Entidades que representam agricultores 
familiares, no entanto, avaliam que a autodeclaração criada pelo 
instituto é difícil de ser preenchida, faz exigências desproporcionais e
 favorece o aumento de indeferimentos de benefícios previdenciários, 
como aposentadorias, pensões e auxílios doença. Entre as informações 
exigidas estão números de CPF dos vizinhos e números dos títulos de 
eleitor e de carteira de habilitação de todos os filhos, além do valor 
anual da produção.
“A quem vai interessar saber o CPF dos 
vizinhos para conceder ou não o benefício de um agricultor? Qual vizinho
 dá de bom grado o próprio CPF?”, questionou o presidente da Federação 
dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), Carlos 
Joel da Silva.“Como exigir que agricultores familiares, muitos deles 
analfabetos, preencham essa declaração? ”, criticou.
Para a diretora do Instituto Brasileiro de
 Direito Previdenciário (IBDP), Jane Lúcia Berwanger, é preciso deixar 
claro o que se deseja saber com cada pergunta, para que as respostas não
 sejam mal interpretadas. “Sou doutora em direito previdenciário e, às 
vezes, fico pensando: o que eu deveria preencher aqui.” Segundo ela, 
algumas informações são desnecessárias.  “Se é preciso ter testemunhas, 
tudo bem, mas a pessoa não precisa necessariamente ter vizinhos e muito 
menos o CPF dos vizinhos”, concluiu.
Burocracia
O deputado Bohn Gass (PT-RS), que propôs o
 debate, ponderou que o acesso a benefícios previdenciários não pode ser
 dificultado por trâmites burocráticos. “Eu sugiro um canal mais rápido 
entre o INSS e o agricultor, a fim de evitar ações na Justiça e que 
benefícios sejam negados indevidamente”, disse.
Por sua vez, o deputado Carlos Veras 
(PT-PE) questionou o número de benefícios negados em Pernambuco. Segundo
 ele, de um total de 96 mil pedidos, 22 mil foram indeferidos. “Primeiro
 faltam servidores. A outra coisa é a pressão no servidor. Se conceder e
 estiver errado, vai responder a processo administrativo. Então, ele 
prefere negar e fazer com que o trabalhador tenha que recorrer”, disse.
Marcia de Souza negou que o novo sistema 
tenha aumentado o número de indeferimentos. Segundo ela, as médias de 
benefícios indeferidos se mantiveram praticamente inalteradas. “Regiões 
onde há mais dificuldade de comprovação de informações, como 
Centro-Oeste e Sudeste, continuam com índices altos de indeferimento”, 
finalizou. 
 
                
                
                 
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