Alguém pode explicar ao governo o seguro rural?
Nesta semana
 foi divulgada notícia em que o Ministério da Economia está sugerindo a 
criação de um fundo financeiro custeado pelos produtores rurais para 
garantir o acesso ao crédito do BNDES e solucionar o endividamento 
agrícola.
Esse sistema é muito parecido com os 
tradicionais fundos mútuos agrícolas, onde grupos com o mesmo interesse 
criam um fundo em que cada indivíduo contribui financeiramente para 
alimentá-lo. Assim, quando há ocorrência de eventos desfavoráveis para 
obter a produtividade e/ou faturamento esperado com a atividade 
agrícola, os produtores rurais, constituintes desse grupo, são 
indenizados com os recursos desse fundo. Com isso, os prejuízos são 
compartilhados entre os produtores que participam do sistema mútuo.
Esse mecanismo de gestão de risco já é 
usado com frequência em outros países ao redor do mundo em programas 
similares. Um dos principais exemplos que podemos citar é o México, onde
 existem os "Fondos de Aseguramiento (FONDOS)". Estes fundos oferecem 
seguro rural para os produtores rurais que o compõem e participam do 
processo de gestão de riscos. No entanto, este mecanismo possui 
limitações financeiras, exigindo alta capacidade das resseguradoras para
 assumirem maiores riscos.
Não há problemas na criação de novos 
mecanismos para gestão de risco na agricultura em benefício dos 
agricultores. Porém, estas soluções devem ser muito bem estruturadas e 
integradas. A política agrícola deve possuir como seu pilar programas de
 gestão de riscos que atendam os anseios da sociedade de forma conjunta e
 não programas que compitam entre si.
O Programa de Subvenção ao Prêmio do 
Seguro Rural (PSR) é administrado pelo Ministério da Agricultura, 
Pecuária e Abastecimento (MAPA), enquanto o Programa de Garantia da 
Atividade Agropecuária (Proagro) é administrado pelo Banco Central (BC) e
 este fundo que o Ministério da Economia quer criar seria administrado 
por quem?
Se entre o PSR e Proagro já existe 
competição de várias formas, possivelmente a criação de um novo programa
 do governo que não seja bem estruturado, contribuiria ainda mais para 
os conflitos entre os mecanismos de gestão de riscos que o Governo 
estaria envolvido.
Infelizmente, o Governo até pode 
entender de crédito rural, mas de seguro rural é outra história. Será 
que o Governo ainda não compreendeu que o Banco Central não é uma 
seguradora. Não possuem know-how neste setor de seguros e o corpo 
técnico precisa ser especialista em riscos rurais. Refletindo essa 
falha, ao longo dos anos, o Proagro apresenta resultados atuarias 
negativos, principalmente pelos elevados índices de sinistralidade 
real. 
Está aí mais uma comprovação da 
incapacidade técnica do Banco Central na gestão de riscos ligados a 
agricultura quando comparado com um programa privado de seguros. Segundo
 o Banco Central, a Taxa de Sinistralidade Geral, é definida pela 
relação entre o “valor total indenizado” e o “valor total enquadrado” 
(valor que compreende o valor financiado e a garantia de renda mínima, 
os recursos próprios do beneficiário, se houver, e as parcelas de 
crédito de investimento rural, a critério do beneficiário), ou seja, é a
 razão entre o valor do sinistro ocorrido e o valor total segurado.
No entanto, a correta definição de 
índice ou taxa de sinistralidade é aquela que consta em diversas 
literaturas, incluindo nas definições de termos da Confederação Nacional
 das Empresas de Seguros Gerais (CNseg), National Association of 
Insurance Commissioners (NAIC) nos EUA e da Superintendência de Seguros 
Privados (SUSEP) voltadas ao mercado de seguros, como a relação entre o 
sinistro pago (indenizações) e o prêmio (definido como "adicional" no 
caso do PROAGRO), medindo o nível de despesa líquida de sinistros com 
receita líquida de prêmio. Portanto, essa taxa nos demonstra em termos 
percentuais a participação das indenizações pagas em decorrência de 
sinistros em relação ao prêmio arrecadado pelas seguradoras.
Por esses e outros diversos fatores que,
 neste momento, a criação de uma agência federal de gestão de riscos 
agrícolas nos moldes do RMA (Risk Managemente Agency) dos EUA seria 
fundamental. Ela seria responsável pela gestão e integração dos 
programas federais de gestão de riscos, podendo ser interministerial e 
com um corpo técnico altamente especializado. Dessa forma, a eficiência 
da política agrícola e gestão de riscos seria muito mais benéfica para o
 Governo, Mercado e Sociedade.
Henrique Tresca*
*Fundador do Portal Seguro Rural (www.portalsegurorural.com.br).
Atua no ramo de seguro e resseguro para o agronegócio
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