Pesquisadores da Ufersa estudam formas de preservar madeiras da Caatinga
As paisagens da Caatinga cantadas
por Luiz Gonzaga, pintadas por Cândido Portinari e descritas nas obras
de Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Euclides da Cunha e João Cabral de
Melo Neto mostram as belezas naturais características deste bioma
exclusivamente brasileiro. Entre elas, estão as árvores Angico,
Cajueiro, Jurema de embira, Pereiro e Sabiá que viraram objeto de estudo
de pesquisadores da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa).
É no Laboratório de Tecnologia da
Madeira, do curso de Engenharia Florestal do Centro de Ciência Agrárias,
que a paisagem que serviu de inspiração para tantos artistas se
transforma em pesquisa científica. Sob a orientação do professor
Vinicius Gomes de Castro, a aluna Juliana Holanda desenvolveu em sua
monografia de conclusão de curso um estudo para caracterizar e
correlacionar a cor e as propriedades químicas destas cinco espécies de
madeiras da Caatinga.
“Por meio do estudo da colorimetria
da madeira, que é a ciência que estuda a cor natural em diversas áreas,
podemos usar essas informações e trabalhar em interdisciplinaridade com
arquitetos, engenheiros civis, designers, entre outros profissionais.
Caso um arquiteto necessite utilizar uma madeira amarela, por exemplo,
por meio do nosso estudo podemos indicar a madeira da árvore Pereiro”,
explica Juliana. A pesquisa é a primeira realizada sobre a colorimetria
dessas espécies de árvores da Caatinga e faz parte de um Projeto mais
amplo, coordenado pelo professor Vinicius juntamente com o professor
Rafael Rodolfo de Melo, que visa a caracterização das madeiras da
Caatinga. “Buscamos entender a madeira da Caantinga para depois indicar o
melhor uso, o melhor potencial da madeira”, explica o docente.
Atualmente, grande parte das
madeiras da Caatinga são usadas, principalmente, para fins energéticos
sendo destinadas para a produção de lenha e carvão; no entanto, elas
possuem outras possibilidades comerciais como destaca o professor
Vinicius. “As madeiras da Caatinga são tão bonitas e possuem potencial
para variadas finalidades, inclusive para a fabricação de móveis”. O
docente explica que por essas árvores tenderem a ter uma baixa estatura
muitos pensam que suas madeiras não servem para a fabricação de móveis
grandes, como uma mesa, por exemplo.
“A tecnologia da madeira já evoluiu
muito e agora temos muitas técnicas pelas quais podemos colar as
madeiras. Então você não precisa mais ter uma madeira grande para fazer
um objeto grande. A possibilidade de colar a madeira nos permite
trabalhar com madeiras menores”, analisa. Dentro dessa nova perspectiva
de uso da madeira da Caatinga, a pesquisa é o primeiro passo para que os
engenheiros florestais possam entregar um produto nobre com um alto
valor agregado que possa ser usado por designers, arquitetos,
decoradores e engenheiros. O aproveitamento dessas madeiras, para além
do uso voltado para a produção energética, também pode beneficiar o
rendimento de famílias de zona rural que cultivam essas árvores.
Além do levantamento estético das
cores das madeiras, os pesquisadores também avaliaram o efeito do uso
dos produtos de acabamento verniz, polistain e selador na preservação da
cor de cada espécie. De acordo com as análises realizadas no
laboratório, o verniz cria uma película, uma camada na madeira,
preenchendo as suas depressões enquanto que o polistain gruda e reage
com a madeira, moldando-se às depressões encontradas e criando uma
pequena película na madeira. Já o selante seca a madeira, combatendo a
umidade, que é um dos principais motivos de deterioração da madeira. O
polistain apresentou uma maior aderência para todas as espécies
estudadas. Mas quando se deseja manter a cor da madeira, foi indicado o
verniz para Angico e Sabiá, verniz e selador para madeira de Pereiro e o
polistain para Cajueiro. Os resultados também mostraram que esses três
produtos tendem a ser mais duradouros do que os óleos naturais, como o
de linhaça.
PRÓXIMAS PESQUISAS
Com a finalização da graduação,
Juliana deseja continuar na carreira acadêmica e aguarda a aprovação da
proposta do curso de Mestrado em Ciências Florestais da Ufersa que foi
enviada este ano para o MEC. “Quero continuar desenvolvendo estudos
principalmente voltados para a Caatinga porque nós estamos no Semi-árido
e, muitas vezes, ele não recebe o devido valor e vamos buscar outras
coisas mais distantes”. Os pesquisadores estão preparando um artigo para
publicar em uma revista que tenha Qualis no mínimo B1. “Já aprovamos
outro artigo em uma revista de Qualis B3 e agora almejamos enviar essa
pesquisa para uma revista ainda melhor classificada pela Capes”, diz o
docente.
Presentemente, o Laboratório de
Tecnologia da Madeira está realizando pesquisas voltadas para análise da
deterioração da madeira com o ataque de fungos, o envelhecimento da
madeira com o sol e a diferença da madeira de acordo com a altura da
árvore. O professor Vinicius ressalta que todos os experimentos do
laboratório são realizados em áreas manejadas, aquelas que possuem uma
permissão de corte e nas quais o uso dos recursos é controlado. “Nós
queremos que a geração atual ganhe dinheiro com madeira, mas que a
geração futura continue ganhando dinheiro com madeira e para isso
acontecer tem que ser sempre bem pensado, bem manejado e dentro da
legalidade”, pontua o docente.
A EXPERTISE DO ENGENHEIRO FLORESTAL
O engenheiro florestal é o
profissional que estuda o uso sustentável de recursos florestais. Dentro
da área da tecnologia da madeira, o engenheiro florestal é o
profissional que entende desse bem florestal. “Nós é que estamos
preparados e estudados para trabalhar com madeira”, afirma o professor
Vinicius.
Segundo
ele, o papel do engenheiro florestal é essencial para ensinar à
população que existem outras madeiras além da Mançaranduva, muito
utilizada na marcenaria, evitando uma exploração excessiva. “Temos que
diversificar o uso da madeira e é o engenheiro florestal que está apto a
indicar qual a melhor maneira de usá-la; e uma coisa é fato: ninguém
consegue viver sem produto madeireiro”, dentre eles, o docente cita um
uso cotidiano: o papel higiênico, indispensável para a saúde e a higiene
diária. Além disso, o Brasil sendo o segundo maior exportador de
celulose do mundo necessita formar engenheiros florestais qualificados
para lidar com questões locais e globais. “Nosso aluno é formado tanto
com foco no desenvolvimento regional quanto para cuidar de recursos
florestais em todo o globo”, conclui.
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