Energia da Soja
                
Demorou por quê? País só tem a ganhar com aumento na mistura de biodiesel
Enquanto Argentina já tem 10% de biodiesel na composição do diesel, Brasil ainda estuda aumento de 8% para 9%
O presidente Michel 
Temer pediu nesta semana 30 dias para dar uma resposta ao pedido do 
setor de combustíveis renováveis, que quer antecipar a elevação da 
mistura obrigatória de biodiesel ao diesel, dos atuais 8% para 9%, ainda
 neste ano. Para especialistas do agronegócio ouvidos pela Gazeta do 
Povo, não há muito o que pensar.
“Estamos atrasados, a Argentina já está no
 diesel B10 (com 10% de biodiesel) desde o ano passado. O aumento da 
mistura pode ajudar a tirar a economia da estagnação porque, ao mesmo 
tempo em que diminui a importação de diesel, favorecendo a balança 
comercial, exige mais esmagamento de soja e faz sobrar mais farelo para a
 produção de suínos, aves e ovos”, afirma o consultor de mercado 
agrícola Vlamir Brandalizze.
A elevação do percentual de mistura do 
biodiesel no diesel sinalizaria ainda para o mercado internacional que o
 Brasil terá menos grãos para exportar, “dando uma valorizada no mercado
 da soja, que não está tão favorável ao produtor”, salienta Brandalizze.
Gerar emprego nas fábricas, renda na 
agricultura e, de quebra, contribuir com o meio ambiente e com a balança
 comercial do País foram justamente os argumentos apresentados pela 
Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (APROBIO) na audiência 
com o presidente da República.
“O Brasil tem matéria-prima disponível, 
indústrias que estão ociosas e algumas até infelizmente fechadas. Além 
de um mercado de diesel demandador, nós importamos mais de um bilhão de 
litros de diesel por mês”, destacou o presidente da entidade, Erasmo 
Carlos Battistella.
Cerca de 
80% do biodiesel produzido no País vem do esmagamento da soja, seguidos 
de 16% da gordura bovina ou de frango, e o restante de outras 
oleaginosas como canola, dendê, algodão e amendoim. “Não podemos matar o
 dobro de bois para aumentar a produção, mas a soja pode tranquilamente 
suprir esta demanda”, aponta César de Castro, engenheiro-agrônomo 
pesquisador do Núcleo Temático de Agroenergia da Embrapa Soja, em 
Londrina.
Capacidade para produção de biodiesel é o 
que não falta. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás 
Natural e Biocombustíveis (ANP), o Brasil poderia colocar no mercado 7,3
 bilhões de litros por ano. Em 2016, no entanto, produziu somente metade
 disso, 3,8 bilhões de litros.
Biodiesel de Mamona?
Biodiesel de Mamona?
Se o biodiesel pode ser feito também com 
pinhão manso, mamona, canola, girassol e amendoim, por que então a soja 
domina o pedaço? Para César de Castro, é uma questão de matéria-prima 
disponível em larga escala e de domínio do pacote tecnológico para sua 
produção.
A safra de soja 2016/2017 deve alcançar 
12,6 milhões de toneladas a mais do que no ciclo anterior, com previsão 
de recorde histórico de 108,4 milhões de toneladas, segundo o IBGE. 
“Óleo de mamona é muito bom para 
biodiesel, óleo de linhaça é excelente, mas são caríssimos, são nichos 
de mercado. A soja pode ser plantada de Norte a Sul, de Leste a Oeste, 
sendo um caso de sucesso quase ímpar no país. Como se diz por 
brincadeira, a soja só aumenta por que as pessoas gostam de comer 
carne”, afirma Castro, referindo-se ao uso extensivo do farelo de soja 
para alimentar frangos, bovinos de corte, vacas leiteiras e peixes.
 
                 
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