Educação rural e registros nacionais estão na pauta do  Brasil em reunião do Mercosul    
    O Brasil chega à 16ª Reunião Especializada sobre Agricultura  Familiar (Reaf), que começou nesta segunda-feira (5) e prossegue até  sexta-feira (9), em Minas, estado de Lavalleja, Uruguai, com propostas  de avanços nas políticas públicas sobre a educação no campo, nos  registros nacionais, na Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) e na  adaptação dos agricultores e produtores familiares às mudanças  climáticas.   
Chefiada pelo ministro do Desenvolvimento Agrário,  Afonso Florence, a delegação brasileira chega ao país vizinho com a  incumbência de divulgar o posicionamento do Brasil e aprofundar as  possibilidades de participação democrática dentro do bloco regional  “para se chegar ao Mercado Comum do Sul (Mercosul) que todos esperam: o  Mercosul da Cidadania”, disse o chefe da Assessoria para Assuntos  Internacionais e de Promoção Comercial do MDA, Fancesco Pierri.   
Nesta 16ª edição vários temas relevantes estão em  discussão, tais como a renovação da agenda, com incorporação de novos  temas de trabalho; Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater);  desenvolvimento territorial, mudanças climáticas e gestão de riscos. Sob  a presidência pro tempore uruguaia, esta edição da Reaf encerra o  quarto ciclo dos encontros iniciados em junho de 2004. A cada ano são  realizadas duas reuniões com rotatividade semestral entre os países.   
Educação — O ponto principal da pauta brasileira é a  recomendação de um modelo educacional para as comunidades rurais, a ser  adotado pelos quatro países membros do Mercosul, que contemple a  educação formal e a não formal. Ou seja, tanto a escola situada na área  rural como o conhecimento transmitido por ela seriam adaptados às fases  do ciclo agrícola e às variações do clima. O respeito à tradição, à  diversidade e às línguas dos povos originários, tradicionais e indígenas  também integra o programa, bem como uma proposta para superação do  analfabetismo no campo, em especial, entre adultos.   
Apesar de políticas públicas de crédito, de  seguros, de infraestrutura, de preço mínimo e de estoques serem,  tradicionalmente, mais comuns ou visíveis quando se trata de Agricultura  Familiar e Mercosul, a reivindicação da educação no campo é uma das  mais antigas e estratégicas dos movimentos sociais ligados ao setor.  “Sem juventude no campo, não haverá agricultura familiar nem no Brasil,  nem no Mercosul”, alerta Francesco Pierri.   
Para evitar a migração, Pierri salienta a  necessidade de garantir que o meio rural não seja apenas sinônimo de  trabalho e de cansaço, e sim um espaço com infraestrutura e lazer, “em  que os saberes dos agricultores possam ser aprendidos no campo sem  perder de vista a dimensão da educação universal, e sempre com diálogo  com a vida econômica e produtiva da agricultura familiar”.   
No entendimento de Pierri, a proposta da educação  rural é imprescindível neste momento porque os quatro países do Mercosul  decidiram pautar o tema da educação num viés em que a agricultura  familiar se apresenta com peso importante. “Esses países atravessaram um  longo período com um tipo de desenvolvimento que não concedia políticas  públicas e nem permitia ao meio rural o direito de ter educação de  base, universal e, ao mesmo tempo, que pudesse responder aos desafios  sobre o tipo de educação ideal no campo”, analisa o chefe da Assessoria  Internacional.   
Registros – A implantação dos Registros Nacionais  da Agricultura Familiar nos países do Mercosul é outro destaque a ser  defendido na reunião pelo Brasil. O Governo brasileiro considera a  medida fundamental para aprofundar as políticas conjuntas e, em seguida,  avançar para a fase de reconhecimento, para facilitar, verdadeiramente,  o comércio. A adoção dos registros, criados em 2007 pelo Grupo Mercado  Comum (GMC) do Mercosul, é vista até hoje como uma das principais  conquistas obtidas pela Reaf.   
“O primeiro passo foi o fato de os países terem, em  conjunto, estabelecido critérios para identificar o público da  agricultura familiar. O segundo, com base nesses critérios comuns  acordados, foi o fato de eles terem construído os registros voluntários  nacionais da agricultura familiar. Essas ações são inéditas. O terceiro  passo, agora, é fazer com que os quatro registros dos países possam ser  cruzados mutuamente”, explicou Pierri.   
Na avaliação dele, não há como saber  antecipadamente se essa Reaf conseguirá encaminhar a proposta de  resolução do Brasil. “Porém, trata-se de uma base para futuras políticas  públicas, regionais, porque ainda há uma série de problemas que ainda  precisam ser reunidos e ordenados por causa das assimetrias produtivas  que afetam a agricultura familiar”, informa.   
O chefe da Assessoria Internacional do MDA lembra  ainda que, nesse processo, o Mercosul é a única região do mundo que  estabeleceu critérios para a agricultura familiar. Segundo Pierri, a  União Europeia tem alguns critérios comuns de definição, mas sem a  dimensão do Mercosul. “É preciso destacar sempre que, num espaço de  apenas sete anos, nós passamos de um cenário em que a agricultura  familiar era um termo que ainda estava se afirmando no jargão político,  social e econômico-produtivo dos estados da região, para uma fase em que  estamos criando registros nacionais”, elogia.   
Francesco Pierri afirma que um aspecto relevante e  urgente é a 16ª Reaf pautar o tema da Ater e das mudanças climáticas.  Segundo ele, não se pode ignorar que os agricultores familiares do  Mercosul são atingidos, de forma bastante intensa, por fenômenos  relacionados às mudanças do clima, como secas e enchentes, que impactam  muito na produção e na renda. “Atualmente, esses agricultores não  dispõem de políticas públicas de adaptação às mudanças climáticas.  Aliás, essa é a grande diferença em relação à agricultura patronal, que  não precisa mudar de lugar para escapar dessas ocorrências. É preciso  fazer uma política de Ater e de pesquisa que forneça soluções de  adaptação para que a agricultura familiar possa se adaptar às mudanças  climáticas”, assinala Pierri.   
Por fim, o representante brasileiro destaca a  importância das Reafs como um dos instrumentos mais eficazes dentro do  Mercosul para que o bloco se transformasse de um organismo regional —  que tinha como objetivo inicial, apenas, uma área de livre comércio —  para um espaço de participação e inclusão política e social dos  produtores da agricultura familiar. “A Reaf nasce como uma reunião  dedicada a estimular a produção de políticas públicas voltadas para a  agricultura familiar e o comércio dos produtores familiares no Mercosul.  Isso tem alavancado todo um movimento de entrada no Mercosul de classes  produtivas sociais, historicamente, esquecidas. Entraram juntamente com  os governos populares progressistas e estão transformando as esferas  políticas, nas várias vertentes, como a educação rural”, acrescentou  Pierri.   
A representação  governamental da Seção Brasileira da Reaf é a primeira, este ano, de  âmbito ministerial. Dentre as autoridades do MDA presentes estarão o  secretário de Desenvolvimento Territorial, Jerônimo Rodrigues Souza; o  diretor do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural, Argileu  Martins da Silva; e o chefe da Assessoria para Assuntos Internacionais e  de Promoção Comercial do MDA, Francesco Pierri.   
Está também prevista a  participação de entidades representativas da sociedade civil, como a  Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a  Federação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), o  Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco de Babaçu (MIQCB), o  Conselho Nacional de Populações Extrativistas (CNS) e a União Nacional  de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes).     
 
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