Agroecologia alavanca vida do agricultor familiar
Foto: Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá
“A agroecologia é importante para o futuro", acredita a agricultora familiar Chirlei Barbosa, do município de Bom Jardim (PE)
O
Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) visa
inserir produtores, agricultores familiares, assentados da reforma
agrária, povos indígenas e povos e comunidades tradicionais em sistemas
de transição agroecológicos. Seu primeiro ciclo teve vigência de
2013-2015 e se destacou como uma experiência bem-sucedida de construção
participativa em política pública, que promoveu avanços na criação,
articulação e adequação de programas e ações em diversos estados. O
Planapo 2016-2019 pretende intensificar ações.
Um
dos principais meios para atingir tal objetivo é a prestação de
Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater). Neste sentido, já foram
apoiados pelo Planapo 147 projetos de Ater e beneficiadas 153.703
famílias. Apenas na modalidade Ater Agroecologia foi atendido um público
de 39.803 beneficiários, cumprindo 25% da meta.
A
assertiva da experiência é que a agroecologia proporciona a ampliação
das condições de acesso a alimentos saudáveis e engaja um novo modelo
para a agricultura, a partir de técnicas de produção ecologicamente
viáveis e relações que contribuam para o fortalecimento de bases
estruturais socialmente justas e inclusivas para o campo.
Uma
das instituições que executam as metas do Planapo é a organização não
governamental Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, de Recife
(PE), que é prestadora em quatro Chamadas de Ater nos seguintes
Projetos: Caminhos para a Sustentabilidade no Sertão do Pajeú; no
Agreste de Pernambuco; na Zona da Mata de Pernambuco; e Assistência
Técnica para Mulheres Rurais no Sertão do Pajeú. As Chamadas
proporcionam às 3.313 famílias agricultoras, assistência técnica
pedagógica para a mudança de seus sistemas, com ações na produção
agroecológica e agroflorestal, promoção da segurança alimentar e
nutricional e acesso às políticas públicas. Com o público feminino, a
Ater Mulheres trabalha o empoderamento político e a autonomia econômica
delas.
Para a coordenadora técnico
pedagógica do Centro, Maria Cristina Aureliano, a importância do Planapo
é existencial para os agricultores e agricultoras agroecológicos e suas
organizações. “É preciso ter política pública e assistência técnica
para fortalecer a agroecologia e a agricultura familiar, com recortes
específicos e contínuos para jovens e mulheres”, declara.
A
agricultora familiar do município de Bom Jardim (PE), Chirlei Barbosa,
de 32 anos, produz, desde a infância, uma grande variedade de verduras,
hortaliças e frutas de maneira sustentável e compreende a riqueza que
circunda esse sistema para o planeta. “A agroecologia é importante para o
futuro, pois além de proteger os animais e o solo, alimenta melhor a
população”, define a produtora.
Com o
marido desempregado e pouca renda, Chirlei, procurou a assistência
técnica para uma alternativa. A capacitação dada pelo Centro Sabiá e o
suporte da Ater Mulheres, alavancaram o ramo da produtora, que hoje
comercializa a produção por meio dos programas PAA e PNAE e mantém uma
banca na feira de Santo Amaro (Recife/PE). O faturamento desta família
subiu de R$ 400 para R$1.200 em poucos meses. Além deste ganho, o que
eles produzem alimenta toda a família.
Segundo
a instituição, a alimentação para quem optou pela produção
agroecológica cresceu em qualidade e diversidade, beneficiando a
segurança alimentar e saciedade das famílias. Outro destaque para esses
produtores é a renda, que se tornou quatro vezes maior do que para quem
continuou com a monocultura. Em pesquisa realizada em julho de 2015, a
renda anual média líquida das famílias que optaram pela produção
agroecológica, chegou à R$ 36.894,84 em contraste às famílias adeptas da
agricultura convencional nessa mesma região, que apresentaram a renda
média anual de R$ 8.100 provenientes de propriedades de mesmo tamanho
cultivadas com a cana de açúcar.
Apesar
dos números expressivos, permanece, para o novo ciclo de implementação
da política, o objetivo de ampliar a quantidade de recursos
disponibilizados para a Ater agroecológica e o número de pessoas
atendidas. Em soma, o desafio de assegurar que os avanço obtidos por
meio do uso de metodologias participativas sejam internalizados no modo
de operação de oferta de Ater. Neste sentido, a criação e entrada em
funcionamento da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão
Rural (Anater), na vigência do primeiro plano, representou um elemento
estrutural importante para sua continuidade, pois a sociedade passou a
contar com um instrumento potente de execução de serviços de Ater
adaptado aos públicos específicos – extrativistas, mulheres, jovens e
povos e comunidades tradicionais.
O
Planapo 2016-2019 almeja prestar Ater qualificada e continuada para
1.868 milhões de pessoas. Com o objetivo engajar valores como a equidade
de gênero, biodiversidade e segurança alimentar, será assegurado que
pelo menos 50% do público atendido seja de mulheres e que 30% do
orçamento seja destinado a atividades específicas de mulheres.
De
acordo com Guilherme Tavira, fiscal de alguns contratos na modalidade
Ater Agroecologia pela Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do
Desenvolvimento Agrário (Sead), atualmente estão em curso 66 contratos
de Ater Agroecologia, dos quais 12 já atingiram a meta de 50% de
execução. Considerando que a vigência dos contratos é de 2013 a 2018,
pode-se perceber o engajamento das prestadoras e dos públicos
destinados.Suiá Rocha, da Secretaria Executiva da Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica (Ciapo), conclui que a certeza proporcionada pela experiência é de que o fortalecimento do Planapo significa um importante passo em direção ao acesso e ao aperfeiçoamento das ações do governo federal em torno da agroecologia e do desenvolvimento rural sustentável e solidário.
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