A safra do Brasil, em 2013, superou 180 milhões de toneladas de grãos. Com tecnologias de melhoria dos solos, tropicalização de cultivos, práticas de defesa ambiental e muito empreendedorismo, os produtores intensificaram a agricultura em níveis inéditos: temos três safras no ano. É o bônus de produzir na condição tropical. Mas também há vários ônus. A abundância de sol e umidade, que faz brotar as plantas, também acolhe e multiplica doenças e pragas. Há anos, pesquisa e produtores lutam contra a ferrugem da soja; o avanço da lagarta do cartucho do milho sobre plantas transgênicas; a multiplicação de nuvens da mosca branca, disseminando doenças como o "mosaico dourado" do feijão; e o recente e indiscriminado ataque da lagarta Helicoverpa armigera ao algodão, milho, soja e hortaliças.
Para lidar com a multiplicação de problemas fitossanitários, a pesquisa formulou, há décadas, o Manejo Integrado de Pragas, que preconiza vazios sanitários, faixas de refúgio para insetos vulneráveis em plantios transgênicos, épocas de plantio diferenciadas, controle biológico de insetos-praga com o uso de vírus, predadores e parasitas e a rotação entre culturas convencionais e transgênicas, além do controle químico. Mas isso não basta. É fundamental lidar com as condições que o mercado dá ao produtor para gerenciar suas lavouras. A intensificação, que beneficia o consumidor com produtos mais baratos, põe o produtor diante de um dilema típico da inovação: muita tecnologia reduz sua margem de lucro, pois aumenta a oferta do produto e baixa o seu preço de venda. Hoje, uma saca de milho custa, em Mato Grosso, menos que seu frete para o porto. Isso força o produtor a postergar a adoção de práticas que não estejam diretamente ligadas ao imediato aumento da produção, para reduzir dispêndios.
Ele abre mão de alguns cuidados, até que isso signifique perda de produção e renda. É o que ocorre quando se fazem cultivos em sequência, como milho (ou soja), depois algodão e pastagem, e se evita o vazio sanitário.
Cria-se a "ponte verde", ou seja, a sequência ininterrupta de lavouras, que beneficia pragas como a Helicoverpa armigera. Exótica, sem inimigos naturais no Brasil nem dieta específica, ela passa de uma lavoura a outra, multiplicando-se sem interrupção. Para ela, não havia plantas transgênicas resistentes nem controle biológico. Sua disseminação forçou a intensificação do diálogo entre produtores e governo e muitos já pedem informações práticas para o manejo integrado de pragas. E vai pressionar a criação de tecnologias de produção mais baratas.
A Embrapa e seus parceiros responderam logo. Há um mês, duas armas biológicas foram identificadas nos bancos de germoplasma: cepas de baculo vírus e vespinhas que atacam a lagarta e seus ovos. Já existem duas cultivares resistentes de algodão transgênico. Será preciso criar biofábricas, multiplicar e distribuir viras,| vespinhas e sementes e aprovar outros princípios ativos, pois o controle químico é parte importante do manejo integrado. Tudo isso toma tempo. Mas o conhecimento está disponível.
A crise de agora pode ser só o começo de uma etapa de grandes desafios. A nova lei ambiental e as alterações climáticas vão limitar áreas e aumentar os custos de produção. Manter a oferta de alimentos vai requerer mais intensificação da agricultura. Como a Helicoverpa, há mais de 150 insetos prontos para invadir o País. Sem o manejo integrado de pragas, as perdas podem chegar a R$ 40 bilhões. E, além de tecnologias, a situação pede melhor gestão das práticas de produção. Mas não se deve impor o uso de boas práticas por via legal. Se contrariada a realidade do mercado, o produtor poderá ficar na ilegalidade. Não queremos isso.
Uma nova ponte deveria unir os esforços do setor público e privado para fazer das boas práticas de Produção agrícola um bom negócio para todos. Como se fez na vacinação contra a febre aftosa. As supersafras vieram para ficar. Assegurar sua sustentabilidade é o grande desafio. A segurança dos consumidores, a competitividade e rentabilidade da agricultura tropical exigem boa vontade e esforço de todos. É preciso construir soluções, e não barreiras.
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