O Boer, sim senhor !
Ali
 estavam 200 animais para apreciação, com 100 em julgamento - uma 
demonstração de pujança que merece todo respeito dos brasileiros.
Há
 alguns estudiosos que não apreciam o Boer, simplesmente por ser 
exótico. Afirmam que “as cabras sempre foram laticínios ambulantes, 
sendo a carne um subproduto do leite”.  Estão
 certos, pois a realidade durante muitos milênios era: a cabra para 
leite e o cordeiro para a carne. Não existiam, então, caprinos para 
corte? Historicamente, existiam caprinos que conseguiram sobreviver a 
mil peripécias em montanhas escarpadas, onde só eles chegavam. Nessa 
maratona, tornaram-se mais musculosos, adequando-se ao transporte de um 
úbere de pequeno porte. Produziam leite apenas para as crias. Eram, 
porém, de pouca serventia para o ser humano, servindo apenas para serem 
caçados. Já as cabras domesticadas produziam leite e peles, dois 
produtos que ajudaram a escrever a história do ser humano.
Até
 pouco tempo, embora os caprinos estivessem em todos os pratos, como 
carne, jamais se pensava em selecioná-los para tal finalidade. Chegava a
 ser mesmo uma heresia!
Somente
 recentemente, o ser humano resolveu especializar o pequeno ruminante 
para produção de carne. Melhorou - e muito! - os ovinos e, então, alguns
 criadores trataram de fazer o mesmo com os caprinos. A primeira raça 
desenvolvida para produção de carne recebeu o nome de Boer, na história 
da humanidade, para lembrar os pioneiros europeus que povoaram a África 
do Sul. A partir dessa experiência, várias outras raças estão surgindo e
 tentando ocupar um espaço no mercado mundial de carnes.
A
 carne, rara iguaria, já pode ser encontrada mais facilmente. Produzir 
carne caprina é atender um mercado altamente sofisticado, pois se trata 
de um produto da mais alta nobreza, para ocasiões especiais. Já a carne 
de cordeiro pode ser encontrada a qualquer momento, a um preço 
acessível.
A
 carne caprina, por seu lado, tem muitas virtudes, sendo especialmente 
indicada para quem precisa de alta digestibilidade. Até por isso, a 
carne pode ser preparada em pratos muito requintados.
O Boer
 - O Boer chegou ao Brasil pelas mãos da Emepa-PB, num gesto pioneiro, 
depois de ferrenha batalha travada pelo especialista Dr. Wandrick Hauss,
 com órgãos governamentais. Trouxe os caprinos e também os técnicos para
 ensinarem a tecnologia de transplantes de embriões. Foi um momento 
decisivo na história da caprino-ovinocultura brasileira, pois todas as 
operações foram assistidas por empresários que já enxergavam a atividade
 como uma “ferramenta econômica” importante para o Nordeste. 
Imediatamente, alguns empresários começaram a importar Boer. Em menos de
 10 anos, já pontificavam vários rebanhos no Brasil.
O
 Boer, logo no primeiro cruzamento com qualquer outra raça, já produz um
 animal meio-sangue muito mais lucrativo, com carcaça superior. 
Percebendo esta vantagem, os criadores passaram a introduzir mestiços 
Boer como se fossem reprodutores puros - até porque não existiam animais
 puros em quantidade suficiente.
Hoje,
 quase 20 anos depois, o que se nota em todo Brasil, é que os caprinos 
deram um salto, em termos de carcaça. Está evidente que a caprinocultura
 envereda agora por dois caminhos: carne, ou leite, com decisão. No 
primeiro caso (carne), praticamente todos os rebanhos usaram, em algum 
momento, um reprodutor Boer, ou mestiço de Boer. 
Pode-se,
 então, discutir a viabilidade histórica de um caprino exclusivamente 
para carne, mas não a eficiência do Boer dentro dos rebanhos. Lembre-se 
que a vaca Ongole, na Índia, é selecionada para leite, mas - no Brasil -
 recebeu o nome de Nelore (pois era ajuntada na cidade de Nellore, na 
Índia, antes de ser embarcada), sendo selecionada exclusivamente para 
carne, com absoluta predominância no cenário. Não é novidade, portanto, 
transformar uma raça leiteira em boa produtora de carne. Diz um ditado: 
“Colocar carne na vaca leiteira é tarefa fácil diante da dificuldade de 
colocar leite na vaca de corte”. Vale também para os caprinos.

O Boer chegou para cumprir um importante papel: colocar mais carne dentro das  porteiras.
O
 crescimento do mercado, a falta de instituições adequadas, a falta de 
uma cadeia organizada e outros fatores parecem reduzir a ação do Boer, 
mas ele está vigorosamente dentro das porteiras, para todos enxergarem 
que o futuro é grandioso para a raça. O uso do Boer, portanto, é 
caracterizado como “uma fatalidade seletiva”, ou seja, como ferramenta a
 ser utilizada para colocar mais carne no mestiço comum. “O Boer é o 
caminho mais fácil para somar carne, ou seja, lucro no rebanho” - 
garante Fabrício Zaccara.
-
 Eu mesmo tinha dúvidas quanto ao Boer, no início - confessa Fabrício. 
Será que aquele animal grandioso conseguiria sobreviver na caatinga? 
Conseguiria ficar em pé, sobre as patas traseiras, para poder alcançar 
as folhas catingueiras? Fiquei observando muito tempo e fiz muitas 
pesquisas com o Boer. Ele passou em todas.
-
 Na verdade, o Boer está completando sua primeira fase no Brasil - 
lembra Renato Galvão. Nesta fase inicial, todos quiseram testar o Boer e
 isso aconteceu - de fato - de uma maneira espontânea, sem qualquer 
regra. Todo mundo fugiu de qualquer regulamento, ou associação, ou mesmo
 de qualquer seleção. O animal dava resultado e isso bastava. Foi um 
sucesso evidente dentro das porteiras. Essa fase, porém, esgotou-se e é 
necessário procurar reprodutores mais qualificados para cobrirem as 
fêmeas atuais. Está retornando, então, a procura por reprodutores puros.
Expo Natal
 - A grande vitória do Boer podia ser vista na Expo Natal. Ali estavam 
200 animais puros, literalmente colocados à venda. Foi a raça mais 
numerosa nos julgamentos, batendo até os ovinos como o Santa Inês. Em um
 ano de forte Seca.
A
 Exposição de Natal mostrou claramente a tendência da atualidade: havia 
100 Boer no julgamento, representando o caprino de corte e mais 70 
Saanen, representando o caprino leiteiro. Onde se juntaram tantos 
caprinos Saanen, num mesmo recinto?
Pode-se
 entender que 80% das propriedades estão interessadas em produzir 
caprinos para carne, no momento, utilizando o Boer. Estas mesmas 
propriedades reservarão 20% do rebanho para seleção e registro 
genealógico, como maneira de garantir o futuro. Esse é, portanto, um 
novo alvorecer para o Boer, agora com mais maturidade. Há dezenas de 
caminhos a serem escolhidos na produção de carne caprina, mas todos 
aproveitam as virtudes do Boer.

 
  
   
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