quinta-feira, 8 de setembro de 2022

 

Rota de Aprendizagem promove troca de conhecimentos entre representantes da caprinocultura e ovinocultura no Semiárido

Os primeiros resultados da Rota de Aprendizagem de Caprinos e Ovinos, realizada no período de 13 a 20 de agosto em municípios de Pernambuco, Paraíba e Piauí, já começam a aparecer. A Central da Caatinga, localizada em Juazeiro (BA), que comercializa produtos de cooperativas da região, está articulando a venda dos artigos de couro produzidos no município de Cabaceiras (PB). Além disso, os produtores assistidos pela instituição farão parte do projeto Supera São Francisco, uma parceria entre Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), Embrapa e Instituto Federal Sertão Pernambuco, cujo foco principal é o combate à verminose nos rebanhos de ovinos no sertão pernambucano.

As duas ações são fruto do intercâmbio de informações e experiências entre os participantes da rota e os representantes de diversos setores das cadeias produtivas da caprinocultura e da ovinocultura que foram visitados. Gabriella Novais, representante da Central da Caatinga, participou de todo o percurso da rota e acredita no potencial dessa metodologia. Ela afirma que o que mais lhe marcou, entre as experiências que conheceu, foi o comprometimento dos produtores e o quanto eles conseguiram se desenvolver após se organizarem em associações e cooperativas.  

Entre as cooperativas visitadas pelos 25 integrantes da rota de aprendizagem, a Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos (Ascobetânia) e a Cooperativa dos Produtores Rurais da Chapada Vale do Rio Itaim (Coovita), ambas em Betânia do Piauí (PI), se destacaram pela forte atuação dos jovens e pelo profissionalismo na gestão. Tanto a associação quanto a cooperativa são consideradas modelo de organização. “Se não fosse a associação não sei se seria viável a criação desses animais aqui na região. A Ascobetânia mudou nossa história, hoje somos conhecidos por vender o produto que o consumidor quer”, afirma Mirionaldo Rodrigues, presidente da Associação. Hoje a Coovita comercializa, em média, mil animais vivos por mês e sonha com a construção de abatedouro e frigorífico, e trabalha para obter certificação que permita a venda dos produtos em todo o país.

A participação em eventos que promovem a troca de experiências entre representantes das diversas áreas da caprinocultura e da ovinocultura é considerada importante para a superação dos desafios do setor. Cândido Roberto de Araújo, representante da Cooperativa Agropecuária dos Produtores Rurais Integrados de Caprinos e Ovinos do Nordeste (Capricon), ressalta que o frigorífico da cooperativa surgiu a partir das discussões e contatos feitos durante a 9ª Semana da Caprinocultura e da Ovinocultura Brasileiras (Secob), que aconteceu em 2019.

A Capricon possui 125 cooperados e abrange o sertão da Bahia, Pernambuco e Piaui. Um dos destaques na cooperativa é a atuação das “buchadeiras”, mulheres que trabalham na limpeza das vísceras dos animais abatidos e na produção de buchada e sarapatel, pratos típicos do Nordeste. Por meio dessas atividades, conseguem incrementar a renda de suas famílias e melhorar sua qualidade de vida.

O potencial transformador da organização dos produtores também ficou evidente na Paraíba. Em Cabaceiras (PB), os integrantes da rota de aprendizagem conheceram um curtume industrial que modificou  a realidade do município. Segundo Ângelo Márcio Meira, presidente da Cooperativa dos Curtidores e Artesãos em Couro de Ribeira de Cabaceiras (Arteza), em 1998, 28 artesãos e curtidores se reuniram para pensar no desenvolvimento da atividade na região. Criaram a cooperativa e posteriormente o curtume industrial. Hoje, a organização possui 75 sócios e gera 300 empregos diretos e indiretos.

“São quase 500 pessoas vivendo do couro e do artesanato”, afirma Meira. Ele conta que a atividade do couro é centenária na região, mas antes era feita de forma rudimentar, às margens do rio. Não era valorizada e as pessoas tinham vergonha dela. O êxodo rural era a única alternativa para os jovens. Hoje, eles estudam fora e voltam para trabalhar na região.  O presidente da Arteza afirma que, de acordo com pesquisas do Senai e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a atividade movimenta R$ 700 mil por mês.

No percurso de quase mil quilômetros, passando por oito municípios, os integrantes da rota da aprendizagem visitaram também frigoríficos, laticínios e propriedades rurais que são consideradas referência em suas regiões. Para Emerson de Carvalho Santos, produtor rural e representante da Coperativa de Produção da Região de Piemonte da Diamantina (Coopes), o mais relevante dessa experiência foi conhecer exemplos de cooperativas que têm mudado vidas e dado oportunidades para as pessoas do meio rural . “A gente está numa região um pouco mais difícil, mas onde é possível produzir bem e obter renda sem ter que sair daqui pra outro lugar ”,afirma.

A rota de aprendizagem foi promovida pela Embrapa Caprinos e Ovinos, Projeto Dom Helder Câmara, Projeto Adaptando Conhecimento para Agricultura Sustentável e Acesso ao Mercado (AKSAAM) e Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) para estimular o intercâmbio de conhecimentos e contribuir para o desenvolvimento sustentável do Semiárido brasileiro.

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