Produção de lentilhas, um bom negócio para o Brasil?
A lentilha é pouco cultivada e pouco consumida no Brasil, cuja população prefere o feijão para satisfazer as mesmas necessidades alimentares. Mas, considerando o alto potencial do mercado indiano para as exportações brasileiras de lentilha, o Brasil primeiro precisa produzi-la. Uma possibilidade é realizar seu cultivo - com irrigação - na estação do inverno (abril-maio) na Região do Cerrado, onde produtividades de 1.200 a 1.500 kg/ha, de acordo com a Embrapa, são facilmente alcançadas, em contraste com produtividades da Índia inferiores a 1.000 kg/ha.
Amélio Dall’Agnol, pesquisador aposentado da Embrapa Soja
A lentilha é uma leguminosa da mesma família da soja e do feijão. As leguminosas, via de regra, são plantas ricas em proteínas e muito utilizadas na alimentação de humanos e animais. Foi uma das primeiras culturas agrícolas domesticadas no Oriente Médio, a cerca de 10.000 anos, desde onde seu cultivo se espalhou para o sul da Europa e o norte da África. O maior produtor de lentilha é o Canadá, com 38% da produção mundial, seguido pela Índia com 22% e a Austrália com 9% (FAOSTAT, 2019). O Canadá e a Austrália exportam mais do que consomem, respondendo por 64% e 14%, respectivamente, das exportações globais. O maior importador é a Índia, que apesar de produzir e consumir mais de 20 milhões de toneladas de ervilhas, absorve, adicionalmente, 21% da lentilha comercializada no mercado internacional (TRADEMAP, 2021).
A lentilha é um ótimo alimento proteico para quem não tem muito acesso à proteína animal, por causa do seu alto preço ou porque têm restrições alimentares relacionadas ao consumo de carnes (veganos e vegetarianos, entre outros). Por isto, é muito utilizada na Índia, onde grande parte da população é vegetariana e tem no consumo dos pulses (lentilha, ervilha e grão de bico, entre outros) sua principal fonte de proteínas. A lentilha é pouco cultivada e pouco consumida no Brasil, cuja população prefere o feijão para satisfazer as mesmas necessidades alimentares. Mas, considerando o alto potencial do mercado indiano para as exportações brasileiras de lentilha, o Brasil primeiro precisa produzi-la. Uma possibilidade é realizar seu cultivo – com irrigação – na estação do inverno (abril-maio) na Região do Cerrado, onde produtividades de 1.200 a 1.500 kg/ha, de acordo com a Embrapa, são facilmente alcançadas, em contraste com produtividades da Índia inferiores a 1.000 kg/ha.
Com essas produtividades e alta eficiência na utilização de insumos, o
Brasil teria custos de produção competitivos em relação a outros países
produtores e com chances de tornar-se exportador e não, como é hoje,
importador de quase a totalidade da lentilha que consome. Segundo a
SECEX, em 2021 o Brasil importou 15.600 toneladas, principalmente do
Canadá, e gastou US$ 13,7 milhões, que poderiam ter sido economizados se
houvesse mais empenho do mercado e mais interesse dos nossos
agricultores na sua produção.
Neste sentido, já estão vigentes ações interativas online entre a
Embrapa e líderes indianos do agronegócio para apresentar oportunidades
de negócios e parcerias em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Gerar
cultivares de lentilha adaptadas ao Centro-Sul e ao Cerrado do Brasil,
com alta produtividade, precocidade, baixa deiscência, porte da planta
ereto e com alto valor nutricional são alguns dos objetivos de projetos
de pesquisa e desenvolvimento na Embrapa.
O Brasil poderia explorar o mercado asiático, onde o consumo de lentilhas está em franco crescimento, estimulando os agricultores brasileiros a produzir lentilhas para consumo interno e para exportação. O governo indiano vem buscando diversificar seus fornecedores e parceiros comerciais, o que pode estimular a nossa produção, visando tal mercado. Este é um bom momento para que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com o apoio da Embrapa e parceiros, inclua a cultura da lentilha nas negociações bilaterais, considerando a perspectiva de potencial aumento da produção no Brasil. Cultivo de lentilhas, uma possibilidade de diversificação para o agro brasileiro e uma valiosa contribuição do setor produtivo rural ao equilíbrio da balança comercial.
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