O Brasil e os agrotóxicos
Por:
Amélio Dall’Agnol
É recorrente
a acusação contra o Brasil por, supostamente, utilizar quantidades
exageradas de agrotóxicos em seus processos de produção agrícola. No
entanto, para enquadrar corretamente um país no ranking dos consumidores
de agrotóxicos, o que mais importa saber não são as toneladas do
produto que o país consome, mas o quanto é utilizado por unidade de área
cultivada. Neste ranking, afortunadamente, o Brasil não figura entre os
primeiros colocados, cujo troféu pertence a países desenvolvidos como
Japão e França.
Reconhecidamente, o Brasil é grande
consumidor de agrotóxicos porque também é grande produtor agrícola e,
também, por ser um país tropical, onde a incidência de pragas e doenças é
mais severa e a produção agrícola mais intensa.
Se bem necessário, o agrotóxico poderia
ser utilizado em menores quantidades se o agricultor optasse pelo manejo
integrado das invasoras, das doenças e dos insetos-praga, utilizando os
controles cultural e biológico, além do químico, este o mais amplamente
utilizado, porque mais fácil de manejar e de resultados mais visíveis e
rápidos.
Além disto, é importante lembrar que a
maior parte da área cultivada com grãos no Brasil é realizada no Sistema
de Plantio Direto (SPD), onde a demanda de herbicidas para a dessecação
em pre-semeadura é enorme, tendo o glifosato como o herbicida mais
utilizado, porque muito eficiente e rapidamente degradado no ambiente.
Se não cultivássemos os nossos campos no SPD, o solo precisaria ser
lavrado e gradeado em preparo convencional, gerando sérios problemas de
erosão e maior consumo de combustíveis fósseis, pelo maior número de
operações das máquinas e equipamentos. Consumiria menos agrotóxicos,
mas, em contrapartida, emitiria mais gases de efeito estufa, erodiria
mais os solos e assorearia os rios e os lagos das hidrelétricas.
Como país majoritariamente tropical, o
Brasil poderia considerar-se prejudicado por não contar com invernos
rigorosos, os quais reduzem a população dos insetos-praga, das doenças e
das invasoras, como acontece nos climas temperados de nações
localizadas distantes da Linha do Equador. Por outro lado, levamos
vantagem por sermos tropicais, porque, enquanto os países temperados
aguardam a neve derreter para realizar o primeiro plantio da safra
primavera/verão, o Brasil já estaria colhendo a safra de inverno e
preparando-se para a semeadura da segunda lavoura do ano na mesma área,
que poderá ser seguida por uma terceira.
Segundo a ANVISA, nos últimos dez anos, o
mercado brasileiro de agrotóxicos cresceu 190%, contra 93% no resto do
mundo. Cabe ressaltar, no entanto, que a área cultivada do Brasil
cresceu muito acima da dos restantes países e a produtividade, também.
No entanto, o maior uso de agrotóxicos não deixa de ser preocupante e
serve como um alerta de que, se bem nos tornamos grandes e eficientes
produtores agrícolas globais, também crescemos no consumo de
agrotóxicos.
A indústria de agrotóxicos tem evoluído,
desenvolvendo produtos cada vez mais eficientes e menos tóxicos para
homens, animais e para o meio ambiente. É desejável que as pesquisas de
novos praguicidas evoluam nessa direção e, também, para que sejam
buscadas alternativas aos agrotóxicos, como a resistência genética das
plantas ao ataque de pragas e doenças, reduzindo a necessidade de
produtos químicos.
A agricultura brasileira livre de
agrotóxicos?! É o que todos desejariam, mas por enquanto isto não é
possível. Porém, a pesquisa vem envidando esforços na busca de
alternativas mais amigáveis ao ambiente e inócuas à saúde de
agricultores e de consumidores em geral.
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