| Seca histórica destrói economia rural no Nordeste | 
A
 rede de proteção social que inclui programas de transferência de renda 
dos governos federal e estaduais tornou menos dramáticos os impactos da 
seca no cotidiano da população do Nordeste, mas ainda é incapaz de 
impedir que a economia local entre em verdadeiro colapso durante 
períodos de longa estiagem.
A avaliação é de pesquisadores e autoridades ouvidas 
pelo Estado, que identificou em Pernambuco, Bahia e Alagoas uma 
realidade atenuada, mas ainda bastante difícil para o sertanejo que 
enfrenta a maior seca das últimas décadas na região.
 
Em visita a Fortaleza (CE), a presidente Dilma Rousseff afirmou que, graças às ações de seu governo e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, “a face da miséria nessa região não foi acentuada tão perversamente pela estiagem”. Para o professor João Policarpo Lima, do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a aposentadoria rural e projetos como o Bolsa Família e o Bolsa Estiagem dão às famílias do campo, de fato, uma alternativa à produção agrícola quando as condições climáticas ficam desfavoráveis, mas a quebra de safras e a morte de rebanhos provocam efeitos duradouros na economia local.
“A população pobre do semiárido fica menos vulnerável
 às secas, mas isso não significa que a população como um todo esteja 
imune, pois a economia entra em colapso e a população fora dessa 
cobertura fica desempregada ou perde suas outras fontes de renda”, 
afirma Lima. “Essa situação de hoje é menos ruim do que era há 40 anos, 
quando não havia programas de transferência de renda e apenas as frentes
 de emergência eram acionadas, de forma clientelística.”
Rebanho ameaçado
Nos últimos meses, Juvenal Lira Feitosa, de 53 anos, a
 mulher Iolanda e seus nove filhos dedicam seus esforços pela 
sobrevivência das 38 cabeças de gado mestiço, algumas cabras e galinhas e
 três porcos que criam no Sitio Poço Novo, na zona rural de Águas Belas 
(PE). Nos anos 1990, Feitosa tinha em sua propriedade apenas uma vaca. A
 partir do governo Lula, conseguiu crédito do Programa Nacional de 
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), empréstimo bancário 
para arregimentar o pequeno rebanho.
O sustento da família vinha sendo garantido pela 
aposentadoria rural – um salário mínimo – da mulher e o benefício do 
Bolsa Família pago a quatro dos nove filhos do casal. A seca, porém, 
ameaça a outra fonte de renda. “A gente compra o mínimo para nós e com o
 resto tenta dar de comer o gado”, diz Juvenal, resignado.
A estimativa é que a estiagem provocou no Estado 
governado por Eduardo Campos (PSB), possível presidenciável em 2014, a 
redução de 710 mil cabeças de rebanho bovino – sendo que 150 mil 
morreram e o restante foi abatido precocemente. A bacia leiteira 
estadual sofreu queda de 72% na sua produção.
Êxodo na Bahia
Na Bahia do governador petista Jaques Wagner, a 
produção do sisal – usada na indústria têxtil – cai desde 2011. Os 
problemas no campo fizeram ressurgir mazelas sociais do passado. Mesmo 
com os benefícios sociais oferecidos pelos governos federal e estadual, o
 êxodo rural e migração a outros Estados, em especial aos do Sudeste, 
voltaram a ser registrados.
Na passagem por Fortaleza, Dilma anunciou pacote de 
R$ 9 bilhões para medidas emergenciais de enfrentamento da seca no 
Nordeste, Mas prefeitos de municípios do semiárido baiano e produtores 
agrícolas do Estado lamentaram o que chamaram de “superficialidade” das 
ações anunciadas pela presidente durante reunião da Superintendência do 
Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
Os administradores das cidades afetadas pela 
estiagem, liderados pela União dos Municípios da Bahia (UPB), resolveram
 criar um “Movimento dos Sem-Água” e prometem marchar até Brasília para 
cobrar “medidas objetivas e duradouras” para enfrentar a crise.
“Quando acontece alguma catástrofe no Sudeste, o 
governo responde na mesma hora. Queremos tratamento igual”, diz a 
presidente da UPB e prefeita de Cardeal da Silva, a 140 quilômetros de 
Salvador, Maria Quitéria Mendes (PSB). “Prometem recursos, ações, mas 
para conseguir um pouco do que é anunciado precisamos fazer grandes 
sacrifícios. É frustrante.”
 
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