O sertanejo e a seca
O Governo Federal 
pratica discriminação contra os nordestinos, mas isso fica acobertado 
pela visão tétrica dos flagelados das secas, crise após crise, 
alimentando aqueles que vivem desses miseráveis episódios humanos que 
teimam em não sair do dia-a-dia do grande país.

O escritor Woden Madruga me pede para escrever sobre a Seca, um assunto que ninguém gosta de falar. Fico  acuado
 pensando como esse assunto ficou pequeno diante das Agendas do 
Congresso Nacional, das Assembleias dos Estados nordestinos e do 
discurso dos candidatos a prefeito na última e recente eleição. Nenhum 
falou sobre a Seca que castigava e castiga ainda seus eleitores. 
O Semiárido e seus bichos, suas plantas e sua 
gente amargam o esquecimento institucional e ficaram pequenos a partir 
da extinção do Conselho Deliberativo da Sudene, onde governadores como 
Aluízio Alves, Miguel Arrais, ACM e tantos outros gritavam para o país 
inteiro ouvir as dores dos seus povos bem governados. Acabou, esse tempo
 se foi. O Nordeste seco perdeu a voz, creio, para sempre. 
Se quiser, pensando nos rebanhos de vacas magras e
 prenhes que após o parto o bezerro cai e fica no chão, só e abandonado,
 deixo algumas lágrimas caírem na solidariedade muda aos sertanejos que 
vivem da criação desses lendários animais. Pois é, cabe perguntar, quem 
cuida de nós, produtores rurais do Semiárido? 
- O Governo Federal criou o Programa da 
Agricultura Familiar e nele botou miniprodutores, apoiando-os com Bolsa 
Família, Bolsa Estiagem, Seguro Safra e crédito rural bom e barato. E 
foi por essa via que os ex-futuros flagelados foram absolvidos e 
resguardados. São agricultores de lavoura de subsistência – milho, 
feijão, mandioca e jerimum. Dependem da chuva anual. Quando a Seca traz 
pra eles o roçado vazio são as Bolsas que os protegem. 
- E, agora, eu pergunto qual o nome que deve ser 
dado aos outros, milhares de produtores rurais e suas famílias, que 
vivem nas mesmas terras secas desses sertões do Nordeste? 

O Semiárido pode ser muito rico, como em outros países. 
Era preciso que uma verdade milenar fosse 
estabelecida: todos os produtores rurais, mini, pequenos, médios e 
grandes são iguais perante a Seca. Quando ela se instala, sob a luz do 
sol abrasador,
 todas as fronteiras desaparecem entre Estados, municípios e fazendas 
cobrindo regiões imensas e suas populações. A Seca não tem endereço, 
está no sertão de todos nós. 
As políticas públicas para o Semiárido podem 
diferenciar os seus beneficiários, mas não podem excluir usuários do 
mesmo chão. Excluir é discriminar. Esta distorção conceitual deve ser 
removida dos Planos de Safra pelos formuladores da política agrícola do 
país. 
Fico imaginando um palco enorme, do tamanho do 
Sertão, onde entrariam em cena Dona Seca e o Doutor Governo Federal. No 
meio do palco, onde ocorrerá a batalha, estariam nós, os produtores e 
seus rebanhos. Pois bem, abre-se a cortina e começa a luta dessas duas 
grandes forças. Passado o primeiro ano quem ganhou e quem perdeu 
patrimônios do seu modo de produzir e viver? Dona Seca ganhou, 
encurralando o pobre e amofinado Governo Federal. 
Dona Seca quando chega demora-se a ir embora, dura
 um ano, dois e, às vezes, três anos. Não se assemelha às enchentes, aos
 furacões destruidores e passageiros. Pois bem, nesse 2012 e começo de 
2013, Dona Seca já ganhou do Governo Federal. 
A bem da verdade é uma derrota que se repete ao 
longo da nossa história. Cabe perguntar: será que o Nordeste brasileiro é
 a única região Semiárida do planeta? Claro que não. Existem regiões 
produtivas nas terras secas dos EEUU, Argentina, Austrália, Espanha, 
partes da Ásia e África. O México tem na sua bandeira um pé de palma, 
símbolo da fertilidade do seu Semiárido.
Há, portanto, um conhecimento disponível, uma 
“fonte de saber”, construída ao longo de séculos de convivência com as 
suas secas. Aqui no Rio Grande do Norte criamos uma ação inovadora – o 
Programa do Leite. Deixado à míngua, foi salvo, na última hora, pelas 
mãos do atual Governo do Estado. 
Termino esta carta com a cara pra cima, procurando
 chuva no céu, sem nuvens, sem luz para clarear a inteligência das 
instituições que cuidam do nosso Sertão. 
Só pra ilustrar: a Barragem de Poço Branco está 
com uma comporta quebrada, esvaindo a sua água para o mar! Faz é tempo, 
viu DNOCS?
 Roosevelt Garcia - é pecuarista,
ex-Secretário de Estado, escritor.
ex-Secretário de Estado, escritor.

 
  
   
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