Crédito fundiário incentiva trabalho da juventude no campo
 O
 Assentamento Bela Vista, no município de Piracuruca, a 220 quilômetros 
de Teresina (PI), é a prova de que a política de acesso à terra colabora
 significativamente para a permanência da juventude no campo. Em uma 
área de 440 hectares, adquirida por meio do Programa Nacional de Crédito
 Fundiário (PNCF), coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário
 (MDA), 25 jovens agricultores familiares criam caprinos e cultivam 
pimenta malagueta. O investimento em produção também só foi possível 
graças ao programa. “É muito gratificante ter o nosso espaço e ser 
respeitado. O meu sonho é ver o sucesso da nossa unidade produtiva, 
tirar da terra o nosso sustento e comercializar o excedente”, conta 
Lucas Ferreira Rodrigues, 25 anos, presidente do local. 
Em 2009, os jovens se organizaram e conseguiram 
acessar a linha Nossa Primeira Terra do PNCF. O pagamento do imóvel, no 
valor de R$ 190 mil, foi parcelado em 17 anos com carência de três. Os 
jovens têm até 50% de desconto na prestação se efetuarem os pagamentos 
em dia. Eles estão organizando uma feira em outubro, no próprio 
assentamento, para arrecadar dinheiro a fim de quitar a primeira parcela
 anual do contrato, que vence no início do ano que vem. A expectativa é 
vender mais de 120 animais, fruto da reprodução dos 287 caprinos (278 
cabras e nove bodes) comprados com recursos oriundos do Crédito 
Fundiário – diferentemente da área, o investimento em projetos 
produtivos não precisa ser devolvido. 
Filho de agricultor familiar, Lucas cresceu na zona 
rural e nunca pensou em ganhar a vida nos centros urbanos. Segundo a 
mãe, Maria Francisca Ferreira Rodrigues, 53 anos, o jovem sempre gostou 
das atividades do campo. “Desde pequeno ele sempre teve talento para a 
roça. Ainda bem que está tendo essa oportunidade de permanecer no meio 
rural”, afirma. 
Lucas concluiu o Ensino Médio e atualmente estuda 
Agronomia. “A ideia é levar o conhecimento acadêmico para o dia a dia da
 nossa unidade”, explica. “Para nós, jovens agricultores, é uma grande 
satisfação ter o nosso espaço. Antes, precisávamos procurar emprego em 
fazendas, plantar e colher para os outros. Muitos acabam se cansando e 
migrando para a cidade”, conta. Orgulhosa do marido, a estudante 
Eleneide da Silva Lopes, 18 anos, espera que os filhos, assim como ela e
 o pai, finquem raízes no campo. “Quero ter filhos e espero que eles 
cresçam no assentamento e um dia busquem outra unidade produtiva para 
continuar a atividade”, conta. 
Inclusão 
Onofre Carvalho do Nascimento, 23 anos, é outro 
produtor do Assentamento Bela Vista. “Aqui é todo mundo amigo, nos 
reunimos todo segundo domingo do mês para discutir assuntos relacionados
 à unidade. Cada um tem a sua função”, explica. A rotina dele começa bem
 cedo. Às 5h está de pé para colocar os cabritos para mamar e dar comida
 aos animais. Depois, os cuidados são com os mais de nove mil pés de 
pimenta malagueta – projeto ainda em fase de implementação. Tantos 
afazeres não desanimam o jovem produtor. “A vida no campo é muito boa. A
 diversão é cuidar da nossa terra”, conclui. 
“O Piauí tem sido um exemplo nas ações de inclusão da
 juventude rural. Conscientes do seu papel na sucessão da agricultura 
familiar brasileira, muitos jovens rurais piauienses estão se 
qualificando e voltando para o campo como protagonista. Um exemplo disso
 são os jovens de Bela Vista”, avalia o secretário de Reordenamento 
Agrário do MDA, Adhemar Almeida. 
Na opinião da assessora especial de Juventude do MDA,
 Ana Carolina Silva, as políticas públicas voltadas para os jovens da 
zona rural dão a eles a possibilidade de escolher se querem ou não 
deixar o local onde cresceram. Segundo ela, essa escolha não deve estar 
atrelada à falta de oportunidade e de conhecimento. “A maior dificuldade
 que existe, hoje, no campo é relacionada à permanência da juventude 
naquele espaço. O MDA está trabalhando para aperfeiçoar as políticas já 
existentes e criar novas políticas para que o jovem possa escolher se 
quer ou não permanecer no campo”, explica. 
PNCF - Nossa Primeira Terra 
O Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) 
disponibiliza o selo Nossa Primeira Terra (NPT) que tem o objetivo de 
estimular o empreendedorismo do jovem rural e a permanência dele no 
campo, com foco na sucessão da agricultura familiar. 
O selo atende à demanda 
de jovens rurais sem-terra, filhos de agricultores familiares, alunos 
dos centros de formação por alternância e de escolas de formação 
agrotécnicas, com idade entre 18 e 28 anos, que desejem investir em uma 
propriedade. Desde a implantação, mais de 31 mil jovens foram 
beneficiados com a iniciativa que, até o momento, investiu R$ 632 
milhões. 
 
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