SITUAÇÃO DA BARRAGEM ARMANDO RIBEIRO PREOCUPA
As chuvas que ocorreram este ano ainda
não amenizaram a crise hídrica que passa o Rio Grande do Norte,
sobretudo nas regiões do Seridó e Alto Oeste. Diante deste diagnóstico,
elaborado pelo titular da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado
(Semarh), Ivan Júnior, o Governo busca alternativas para lidar com os
efeitos da seca.
Secretário da Semarh, Ivan Junior, durante entrevista à TRIBUNA DO NORTE
Dependendo quase que exclusivamente de verbas
federais, as soluções passam desde a construção de pequenas e grandes
adutoras, mudanças de pontos de captação de água em barragens – cada vez
mais secas – e perfuração de poços. A escassez não se registre às
águas, mas também ao dinheiro necessário para colocar em prática as
ações.
Um dos retratos da crise hídrica no RN é a
barragem Armando Ribeiro Gonçalves, a maior do Estado com capacidade
para armazenar 4,4 bilhões de m³ de água e que abastece 35 cidades, está
com 14,29% de sua capacidade total. A previsão é que o reservatório
atinja seu volume morto em dezembro, condição emblemática que atinge
todo o sistema de adutoras que cortam o RN.
A crise hídrica e as consequências para a
população e cadeia produtiva do RN, bem como sugestões de solução que
amenizem o cenário serão debatidos durante o Seminário Motores do
Desenvolvimento do RN que acontece nesta segunda-feira (30), no
auditório da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte
(Fiern). Confira a entrevista com o secretário da Semarh, Ivan Junior.
Qual a sua avaliação sobre a situação hídrica atual do Rio Grande do Norte?
O estado e o Nordeste enfrentam uma das piores secas da sua história.
Além de estar se agravando pela intensidade, estamos além de tudo isso
no sexto ano consecutivo, a sua duração aumenta ainda mais o problema
desse momento que estamos atravessando. Temos hoje praticamente 90% do
semiárido predominante onde nós temos os principais reservatórios, a
barragem Armando Ribeiro Gonçalves está com 14% da sua capacidade, a
menor da sua história. Isso é muito grave, até porque os principais
sistemas adutores do RN têm esses reservatórios como fonte de captação e
outras que já estão sem utilização, como a de Pau dos Ferros, temos em
colapso total a Parelhas, Itans. Os reservatórios estão secos e outros
estão secando. Isso leva o estado a buscar uma nova alternativa, que é
utilizar o subsolo, que era uma estratégia somente para o futuro, para
aliviar essa situação.
A barragem Armando Ribeiro Gonçalves está com a capacidade muito baixa. Isso preocupa até que ponto?
Preocupa muito, tanto pelo seu volume, que está reduzido por causa da
intensidade da seca e também ao longo dos anos o assoreamento foi
ocorrendo, a capacidade não é a mesma desde que foi construída.
Existia um plano de mudar o ponto de captação de água na Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, isso ainda será feito?
Na realidade, o ponto de captação encontra-se a jusante, está no rio
Piranhas-Açu, próximo a Felipe Guerra. Desde que foi construída a
adutora Jerônimo Rosado, esse ponto de captação é ali. Com o volume que a
barragem se encontra hoje, em um baixo nível, está colocando em
dificuldade o abastecimento. Pelo estudo que realizamos, quando chegar
em dezembro não teremos mais condições de captar água naquele ponto, no
Rio-Piranhas já está sendo comprometido por baixar o nível do rio e isso
compromete a captação. Então, a ideia é levar até dentro da barragem,
dessa forma conseguiríamos utilizar o volume morto, que é quando a água
não tem como descer para o rio. Esse volume morto ainda seria suficiente
para mais 12 meses de abastecimento. Essa transferência do ponto de
captação seria definitiva.
E quando esse projeto deve ser feito e colocado em prática?
Esse é um projeto que custa de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões, ele foi
feito e aprovado através do Ministério da Integração com aval da ANA e
estamos esperando o Governo desde o mês de maio liberar esse recurso
para que o Estado possa fazer essa intervenção na barragem. Isso ainda
não foi feito porque ainda não temos esse recurso e pedimos apoio ao
Governo Federal porque estamos atravessando a maior crise hídrica seca e
precisa ser mais atuante nesses recursos para os estados.
Além das mudanças nos pontos de captação de água, vocês consideram adotar outras medidas paralelas?
Também. Além das mudanças nos pontos de captação, perfuramos cinco poços
em Afonso Bezerra, com excelente vazão e qualidade, com possibilidade
de abastecimento de Alto do Rodrigues, Pendência, Macau e Guamaré pelo
sistema adutor. Esse sistema próximo a região salineira e captação da
Jerônimo Rosado que abastece Assu e Mossoró e consequentemente o ponto
da região Cabugi-Central é um investimento de R$ 88 milhões, protocolado
em maio, foi aprovado e aguardamos liberação do Governo Federal. Além
disso, foram perfurados mais de 1.600 poços desde 2015 até o momento.
Isso também levou a instalação de sistema dessalinizadores, porque
alguns poços tem boa ou baixa vazão, água salobra ou não. Temos que
adaptar os poços para o consumo humano e para isso há outro
investimento. Também estamos construindo pequenos sistemas adutores e
barreiros em todas as regiões do Estado.
Qual a região do Rio Grande do Norte que passa por mais problemas no tocante a seca?
É o Alto Oeste, seguida do Seridó. O primeiro é abastecido pela barragem
de Santa Cruz do Apodi, algumas cidades. Outras está em sistema de
colapso, sendo abastecida por carros pipa e Operação Vertente. Algumas
cidades do Seridó ainda tem a oportunidade de ser abastecida pela
Armando Ribeira.
O inverno desse ano fui suficiente para amenizar alguma parcela da crise hídrica?
Foi muito irregular. Não foi suficiente, principalmente na região do
Alto Oeste, onde choveu bem abaixo da média. No Seridó a situação foi
semelhante. Vamos ter alguma chuva próximo da média na região do Vale do
Assu, e do médio Oeste. Isso agravou ainda mais a situação, porque além
de ter um volume reduzido de chuvas, tem os reservatórios secos e não
consegue fazer uma recarga. Mesmo que no próximo ano tenhamos um bom
inverno, não tenho a garantia de recarga em todos os reservatórios. As
chuvas tem que ser muito boas para conseguir recarga em todos. O
trabalho de conscientização e uso racional da água, investir em sistemas
adutores e no subsolo é fundamental.
A liberação de verbas por parte do Governo Federal para a construção dessas obras é um grande entrave?
A dificuldade financeira é grande, e seca agrava ainda mais essa
situação. É histórico a união intervir nesses momentos com mais força,
apoio e dar condições de superar essas dificuldades. Esses recursos
estratégicos foram solicitados em tempo hábil para enfrentar as
dificuldades geradas pela seca, mas não chegaram ainda no RN por parte
da União.
Como está a situação da barragem de Oiticica? Porque é uma obra que está demorando tanto para ser finalizada?
Estamos avançando. A barragem de Oiticica tem uma cerca complexidade,
porque estamos construindo além de uma barragem, são mais de 1.500
famílias que estão sendo atendidas e dentro de um contexto completamente
diferente de décadas atrás, quando usamos como exemplo a construção da
Armando Ribeiro Gonçalves e Santa Cruz do Apodi, que são grandes
barragens. A legislação hoje é completamente diferente daquela época. Os
sítios arqueológicos não tinham a intervenção dos órgãos de
fiscalização como ocorria antigamente, os próprios órgãos ambientais com
mais rigor e delicadeza de informações. Com a parte social é que temos
mais cuidado, porque a barragem Armando Ribeiro Gonçalves deixou uma
sequela enorme na região da forma em que foi conduzido o processo.
Desapropriação, onde moradores até hoje discutem judicialmente valores
pagos. Nós conseguimos conduzir esse processo dentro de uma situação em
que fosse respeitado o cidadão. Existe um comitê na secretaria com
diálogo permanente com os atingidos pela construção da barragem, é o
cuidado em deslocar uma família, a mata que vai ser desmatada possa ser
reaproveitada pelos agricultores que ali serão assentados, que as
pessoas que moram lá vão ser reassentados em agrovilas que tenha um
setor produtivo. Também não houve a mesma velocidade de repasses por
parte do Governo Federal em alguns anos atrás, agora melhorou.
O que falta ainda?
É o Ministério do Planejamento fazer a aprovação final do novo plano de
trabalho, que contempla tudo que eu falei, enquanto isso estamos
continuando a obra em um bom ritmo. Esperamos finalizar este ano de 2017
acima de 70% de concepção.
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