quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Pesquisadores da Embrapa integram missão científica histórica do Baixo São Francisco

Ascom Ufal - Barco robótico usado na expedição
Barco robótico usado na expedição
Os pesquisadores Carlos Alberto da Silva – Cadal e Marcus Cruz, da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE), integram a missão científica que percorre de 15 a 19 de outubro a região do Baixo São Francisco, que divide os estados de Sergipe e Alagoas e desemboca no Oceano Atlântico.
Coordenada pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), a missão é considerada o maior e mais profundo levantamento de dados científicos da área em toda a história. Ao todo, participam da ação 40 pesquisadores e estudantes de instituições como a Ufal, Embrapa, secretarias estaduais e órgãos e empresas com atuação na proteção e desenvolvimento de políticas públicas ambientais e de saúde.
Os recursos investidos na ação são de aproximadamente R$ 100 mil, e se espera um retrato sobre a realidade do Velho Chico para os próximos anos. Serão pesquisadas áreas de limnologia, aquicultura, socioeconomia, extensão rural, genética, toxicologia aquática, meteorologia, poluição aquática, tecnologia do pescado, engenharia de pesca, parasitologia, computação e impacto ambiental terrestre.
Além da Ufal, a expediçãoconta com o patrocínio do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), da Fundação de Amparo à Pesquisa em Alagoas (Fapeal) e Emater (Instituto de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoas). São parceiros internacionais a Universidade do Porto (Portugal) e o Instituto Espanhol de Oceanografia (IEO -Espanha).
Assista aqui à matéria produzida pela TV Gazeta sobre a expedição
Cadal é oceanógrafo com longa experiência em estudos de impactos da ação humana e da natureza sobre ambientes aquáticos. Cruz é engenheiro civil com experiência em recursos hídricos e uso de novas tecnologias na avaliação de impactos ambientais em bacias hidrográficas. Este será o primeiro trabalho executado pelo recém-criado Laboratório de Estudos e Impactos Ambientais (LabEIA), da Embrapa Tabuleiros Costeiros.
Roteiro
A expedição percorre, num barco de 23 metros de comprimento, com três pavimentos e capacidade para 120 pessoas, o trecho final do Velho Chico, passando pelos municípios alagoanos de Traipu, Igreja Nova, Piaçabuçu, Porto Real do Colégio e Penedo.
O trabalho conta com a presença de um barco robótico, capaz de oferecer informações precisas suficientes para traçar um ‘raio X’ desse segmento do maior rio unicamente brasileiro em diversos aspectos. O objetivo é atender a demandas existentes em quesitos como manutenção do rio, a sua preservação e até mesmo problemas de saúde pública.
O coordenador da expedição, o professor do Centro de Ciências Agrárias (Ceca) da Ufal, Emerson Soares, explica que o trabalho irá reunir informações que, hoje, estão dispostas de forma pulverizada, o que dificulta a consulta e a elaboração de diagnósticos para o rio.
De acordo com Soares, desde 2007, pesquisadores vêm estudando o São Francisco em aspectos como assoreamento por destruição das matas ciliares, cunha salina, poluição aquática, identificação de espécies que sofrem com as alterações fisiológicas do rio e modificam o ciclo reprodutivo, entre outros.
“São questões que sofrem interferências, e é preciso uma base informativa para identificar a melhor maneira de gerir os recursos hídricos. O São Francisco sofre algumas mudanças por ação do homem que precisam ser monitoradas”, ressaltou.
Alterações
O professor explica que no contexto das mudanças observadas estão aquelas provocadas pelas hidrelétricas, transposição do rio, regime de chuvas alterado, desmatamento, crescimento das cidades ribeirinhas sem sistemas de tratamento de esgotos e pesca sem monitoramento e de forma inadequada quanto aos padrões preconizados na legislação ambiental. Também entram nesse rol as secas, o aumento da carcinicultura (criação de camarão) e da rizicultura (plantio de arroz) e intensificação do uso de agrotóxicos.
Ele alerta, também, para o registro de casos de saúde pública que podem ter relação com os impactos e mudanças no São Francisco. “Vamos investigar, inclusive, se casos de câncer na população não estariam relacionados ao consumo de espécies com metais pesados, por exemplo”, adiantou.
A expedição contará com a participação pesquisadores e alunos da Ufal dos cursos de Zootecnia, Engenharia de Pesca, Agroecologia, Ciência de Computação, Biologia, e Agronomia dos campi em Maceió e Arapiraca, além pesquisadores da Embrapa e representantes do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), do Instituto Federal do Ceará (UFCE) e do Centro Oceanográfico de Vigo, da Espanha.
O objetivo do amplo estudo é monitorar, analisar e coletar dados limnológicos (relativo aos corpos d’água), das espécies de peixes, da mata ciliar, do estado de assoreamento e dados geomorfológicos do rio, além de informações sobre poluição aquática, bem como dados e informações socioeconômicas das comunidades tradicionais e de pescadores que desempenham atividades nas localidades alvo do trabalho.
“Por conta das amplas áreas a serem pesquisadas não se descarta a descoberta até de novas espécies desconhecidas pela ciência no campo de parasitas de peixes ou de vertebrados aquáticos”, destaca Emerson Soares.
Ele adiantou que a expedição resultará em um documentário científico a ser produzido durante todo o trabalho desenvolvido no Rio São Francisco. Há, ainda, a pretensão de publicar um livro com os resultados das coletas e alguns artigos científicos.
“Para a Universidade, a ação científica representa a troca de informações, de experiências com equipes multidisciplinares e tecnologias novas no campo da engenharia ambiental, limnologia e computação”, acrescentou, destacando o importante papel em prol da ciência e do conhecimento conectado com as demandas sociais e econômicas.
*Com textos e informações das Assessorias de Comunicação da Ufal e CBHSF.

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