quinta-feira, 20 de setembro de 2018

O Brasil e os agrotóxicos


É recorrente a acusação contra o Brasil por, supostamente, utilizar quantidades exageradas de agrotóxicos em seus processos de produção agrícola. No entanto, para enquadrar corretamente um país no ranking dos consumidores de agrotóxicos, o que mais importa saber não são as toneladas do produto que o país consome, mas o quanto é utilizado por unidade de área cultivada. Neste ranking, afortunadamente, o Brasil não figura entre os primeiros colocados, cujo troféu pertence a países desenvolvidos como Japão e França.

Reconhecidamente, o Brasil é grande consumidor de agrotóxicos porque também é grande produtor agrícola e, também, por ser um país tropical, onde a incidência de pragas e doenças é mais severa e a produção agrícola mais intensa. 
Se bem necessário, o agrotóxico poderia ser utilizado em menores quantidades se o agricultor optasse pelo manejo integrado das invasoras, das doenças e dos insetos-praga, utilizando os controles cultural e biológico, além do químico, este o mais amplamente utilizado, porque mais fácil de manejar e de resultados mais visíveis e rápidos. 
Além disto, é importante lembrar que a maior parte da área cultivada com grãos no Brasil é realizada no Sistema de Plantio Direto (SPD), onde a demanda de herbicidas para a dessecação em pre-semeadura é enorme, tendo o glifosato como o herbicida mais utilizado, porque muito eficiente e rapidamente degradado no ambiente. Se não cultivássemos os nossos campos no SPD, o solo precisaria ser lavrado e gradeado em preparo convencional, gerando sérios problemas de erosão e maior consumo de combustíveis fósseis, pelo maior número de operações das máquinas e equipamentos. Consumiria menos agrotóxicos, mas, em contrapartida, emitiria mais gases de efeito estufa, erodiria mais os solos e assorearia os rios e os lagos das hidrelétricas.

Como país majoritariamente tropical, o Brasil poderia considerar-se prejudicado por não contar com invernos rigorosos, os quais reduzem a população dos insetos-praga, das doenças e das invasoras, como acontece nos climas temperados de nações localizadas distantes da Linha do Equador. Por outro lado, levamos vantagem por sermos tropicais, porque, enquanto os países temperados aguardam a neve derreter para realizar o primeiro plantio da safra primavera/verão, o Brasil já estaria colhendo a safra de inverno e preparando-se para a semeadura da segunda lavoura do ano na mesma área, que poderá ser seguida por uma terceira.
Segundo a ANVISA, nos últimos dez anos, o mercado brasileiro de agrotóxicos cresceu 190%, contra 93% no resto do mundo. Cabe ressaltar, no entanto, que a área cultivada do Brasil cresceu muito acima da dos restantes países e a produtividade, também. No entanto, o maior uso de agrotóxicos não deixa de ser preocupante e serve como um alerta de que, se bem nos tornamos grandes e eficientes produtores agrícolas globais, também crescemos no consumo de agrotóxicos. 

A indústria de agrotóxicos tem evoluído, desenvolvendo produtos cada vez mais eficientes e menos tóxicos para homens, animais e para o meio ambiente. É desejável que as pesquisas de novos praguicidas evoluam nessa direção e, também, para que sejam buscadas alternativas aos agrotóxicos, como a resistência genética das plantas ao ataque de pragas e doenças, reduzindo a necessidade de produtos químicos.
A agricultura brasileira livre de agrotóxicos?! É o que todos desejariam, mas por enquanto isto não é possível. Porém, a pesquisa vem envidando esforços na busca de alternativas mais amigáveis ao ambiente e inócuas à saúde de agricultores e de consumidores em geral.

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