quarta-feira, 20 de junho de 2018

Não usem o santo nome dos agricultores brasileiros em vão


     

Por José Luiz Tejon Megido, Conselheiro Fiscal do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e Dirige o Núcleo de Agronegócio da ESPM.
O agronegócio significa em torno de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Mas, atenção: desses 25%, se transformados em 100%, como ficaria a divisão dentro dele? Quanto significa os produtores rurais dentro dessa conta do agronegócio? Cerca de 30%. O restante, ou seja, 70% do que chamamos agronegócio, não está dentro da porteira das fazendas.

Esses 70% são formados, na sua maior parte, em quase 60% pela indústria, a agroindústria, pelos supermercados, o varejo dos alimentos, pelo transporte e armazenagem. Os outros 10% pelos setores de máquinas agrícolas, sementes, adubo, defensivos e produtos veterinários.

Do total do agronegócio brasileiro, saiba que 70% dele não estão nas mãos dos agricultores. Apesar de que sim, sem os produtores rurais não haveria todo o resto.
Mas, para que serve toda essa conta?
Voltando ao assunto do tabelamento do frete. Com essa bagunça de falta de negociação ao longo do tempo, com caminhoneiros sofrendo e sendo castigados com condições inumanas de trabalho na horrível infraestrutura da logística brasileira, com o que concordo com os líderes dos seus movimentos, mas, também colocando um basta na choradeira da vitimização nacional que assola o país, ou seja, pela incompetência da Sociedade Civil Organizada e dos seus representantes em se unirem e juntos resolverem os problemas do país, voltamos agora a um impasse com promessas de mais crises na relação transporte, o país e o agro.

Mas, atenção: um agro industrial, um agro comercial, em que essa questão do confronto com a idiotice do tabelamento do frete não pode ser colocada para a opinião pública como sendo agora coisa dos agricultores versus os caminhoneiros.
Onde não há diálogo e negociação, tudo termina em explosão.
Existe um comando nacional do transporte, a CNT, assim como existe a Confederação Nacional do Transporte, além de dezenas de associações e de candidatos a serem líderes dos caminhoneiros.
Do outro lado temos dezenas de entidades patronais, uniões como a Associação Nacional dos Usuários de Transportes, além de termos a CNA – Confederação Nacional da Agropecuária, a CNI, da indústria, e a CNT, do comércio. E pelo lado do governo, os ministros e o transporte da agricultura, que aparecem falando agora em nome dos antagonistas dos caminhoneiros, têm a ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres, que vai propor nova tabela.

Então, como cantava Raul Seixas: “Eu sei até que parece sério, mas é tudo armação;
o problema é: muita estrela, ‘prá’ pouca constelação”.
Vivemos, sim, uma gravíssima crise de lideranças e de representação, e nesse vácuo, sobram WhatsApps com espertos berrando, chamando suas vítimas e fazendo convocação.
“O menino da porteira” cantava também Sérgio Reis, “Toque o berrante, seu moço que é pra eu ficar ouvindo…”.
Portanto, não usem o santo nome dos agricultores brasileiros em vão.

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