Assentado paraibano produz alimentos de qualidade em antigo canavial
Ex-trabalhador de canavial, Severino dos Santos comemora mudança de vida depois se tornar assentado
Até meados da década de 1990, a região
da Zona da Mata paraibana era conhecida principalmente pelos canaviais
que abasteciam antigos engenhos de cana-de-açúcar, atualmente em grande
maioria desativados. A monocultura vem perdendo espaço para a
diversidade da agricultura familiar em assentamentos como o Engenho
Santana, em Cruz do Espírito Santo, na Região Metropolitana de João
Pessoa.
O agricultor assentado Severino Soares
dos Santos nasceu nas terras do engenho e ainda lembra, aos 63 anos, do
tempo em que trabalhava de segunda a sábado no corte da cana. “A gente
não tinha hora de largar, não. Quem mandava eram os latifundiários e a
gente era os escravos dele”, contou.
A vida de Santos e de outras 54 famílias
– a maior parte posseiros do imóvel rural onde funcionava o Engenho
Santana – mudou completamente quando, em 1995, o Incra transformou os
cerca de 370 hectares em um assentamento.
Surgia a primeira área de reforma
agrária do município de Cruz do Espírito Santo, um dos que possuem o
maior número de assentamentos na Paraíba – abriga dez destas
comunidades, onde vivem 874 famílias de agricultores, em 6.652 hectares.
O município está localizado na microrregião da “várzea açucareira do
Rio Paraíba”, durante séculos a mais rica do estado por ser a maior
produtora de açúcar, e famosa por ter inspirado obras de célebres
escritores paraibanos, como José Américo de Almeida, José Lins do Rego e
Augusto dos Anjos.
Produção diversificada
A paisagem de antes, coberta de
cana-de-açúcar, em nada lembra a diversidade de culturas na parcela de
quase sete hectares onde hoje vive a família de Santos. Há de tudo um
pouco: macaxeira, mandioca, inhame, batata-doce, milho, feijão, fava,
além de frutas variadas, como coco, abacaxi, acerola, manga, banana e
tangerina. O feijão e a batata-doce são irrigados por gravidade, sem
necessidade de fonte de energia no funcionamento.
Tudo o que a família produz é
comercializado por meio de atravessadores e no Mercado Público de Santa
Rita, município vizinho com o trajeto mais fácil até o assentamento. A
produção de macaxeira e batata-doce foi, durante algum tempo, fornecida
ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab).
“A vida mudou para muito melhor. A gente
não tinha terra, vivia nas terras dos outros. Agora somos
proprietários. A gente planta o que quer, se alimenta bem e não precisa
deixar a terra pra morar na cidade”, disse o agricultor, que começou a
trabalhar no corte da cana-de-açúcar aos 12 anos e nunca deixou a zona
rural. “Na cidade a gente precisa de dinheiro para comprar qualquer
coisa. Aqui a gente tem de tudo”.
Santos garantiu não se sentir atraído
por nada na zona urbana do município. “Na cidade é muito quente por
causa do calçamento e das casas, todas muito juntas”, disse.
A dedicação de Santos à lavoura é
compartilhada com esposa, Maria José Batista, de 64 anos, cinco filhas e
dois netos que vivem com o casal. “Nenhuma filha minha quer sair daqui
porque quem nasce aqui dentro sabe que lá fora não é melhor”, afirmou
Santos.
O agricultor contou ainda que, quando
era jovem, as famílias possuíam uma pequena área para plantar. Mas,
segundo ele, aquelas sem muitos filhos que ajudassem a cultivar a terra
iam perdendo o espaço para o engenho. “Teve família que ficou só com o
quintal”, revelou.
Ele considera tudo mais fácil com a
transformação da antiga propriedade do engenho em um assentamento do
Incra. “Hoje é bom demais, meus netos são criados em berço de ouro. E só
não estuda quem não quer. Eu sei ler um pouco, desenrolo qualquer
coisa, mas escrever eu sei muito pouco”, disse, acrescentando que um
ônibus escolar faz o transporte das crianças à escola.
Até a saúde da família Santos melhorou
depois de se tornarem beneficiários do Programa Nacional de Reforma
Agrária (PNRA). A cada 15 dias, um médico do Programa Saúde da Família
(PSF) atende no posto de saúde de Engenho Santana.
Assessoria de Comunicação Social do Incra/PB
NOTA DO BLOG:
O desenvolvimento da Agricultura Familiar e consequentemente uma vida digna ao homem do campo, vem acompanhado das políticas públicas. A Paraíba sempre na frente. Parabéns.
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